terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Quando eu era criança, houve épocas em que não queria ir à escola. O ano era 1990. Papai tinha voltado de uma viagem de 9 meses aos Estados Unidos. O apartamento era um ambiente horrível: meus pais viviam brigando, íamos de 15 em 15 dias para a construção da casa de praia, mamãe torturava psicologicamente todos os dias minha irmã, que, na escola, fazia coisas absolutamente destrutivas. Fui também estudar em Campo Grande porque "tinha que vigiá-la".

Eu mal conseguia dar conta de mim. E, se o que a mais velha de nós queria era a atenção de alguém naquele espaço de ensino, não conseguia. Ninguém dava bola para ela. Nem para mim.

Eu acho que foi a época em que mais sofri bullying na vida e a minha resposta era o isolamento. Às vezes conversava com algum desconhecido no ônibus. Poderia ser um velho, uma mulher adulta, outro adolescente. Ficava curtindo o prazer de me comunicar com alguém. Algo meio raro porque as pessoas que conviviam comigo sempre, em algum momento, agiriam de maneira hostil. Mesmo tendo aprendido a esperar por isso, eu me surpreendia.

Em alguns fins de semana, a gente tinha que ir a uns churrascos de uns amigos de Marinha do meu pai. Eu odiava. Era um pessoal agressivo, que enchia a cara de cerveja, ouvia somente Roberta Miranda e às vezes fazia comentários homofóbicos para mim. Meus pais nunca me defendiam. Pelo contrário, normalmente faziam alguma cena em casa para dizer o quanto eu era a vergonha deles ou algo assim. Isso, claro, depois de haver alguma discussão sobre quem deveria dirigir o carro, pois o meu progenitor, mesmo trocando as pernas, insistia que tinha condições de guiar.

Acho que não tinha muita consciência da merda em que viva. Sofria, mas estava sempre disposto a viver bons momentos. De repente, comecei a perceber que a distância de casa me proporcionava uma certa liberdade, então vagava por aquele bairro estranho. Voltava sempre sozinho das aulas e até gostava. Todo dia visitava lojas de discos, comprava biscoito a quilo numa loja chamada Sugared, ouvia fitas no walkman americano que tinha ganhado. Comecei a gostar de Madonna.

Minha irmã costumava assaltar a carteira de papai e uma vez me deu uma revista inteirinha de letras traduzidas da cantora. Para onde eu ia, levava comigo aquilo.

O fim do ano letivo foi triste. Fiquei reprovado em absolutamente todas as disciplinas. Não me importei. Eu achava que iria virar feirante. A minha mãe me ameaçava disso, quando via minhas notas. Uma vez fui chorando dizer que era para ela me levar mesmo para um lugar desses, que eu ia largar a escola e trabalhar vendendo legumes e frutas por aí. Ficou me olhando atônita e nada disse.

Não tinha muitas esperanças de ter uma vida boa. Trabalhar, ser inteligente, algo assim. Devaneava com carros, apartamentos de luxo de novelas, vida de rico.

Eu queria ter uma máquina do tempo. Chegar lá e me encontrar. Iria me convidar para tomar um sorvete, dar uma volta na praia. Ouviria com interesse o que o menino de 11 anos que fui dissesse. Ajudaria nos deveres de casa, daria conselhos, diria o quanto eu poderia ser bom, que tudo passaria um dia. Fazer comigo mesmo bem o que proporcionei àquela cadela que peguei na rua e que agora dorme no chão, ao meu lado. Mas isso é impossível.

Só não me esqueço. Só choro ao lembrar. Só repito todos os dias, em todos os momentos que tenho valor. Só me esforço para realmente acreditar nisso.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Quando a gente foi morar em Copacabana, o combinado era que deveríamos dividir as contas. Isso deve ter durado uns cinco meses, no máximo.

Depois de muita confusão, cedi e aceitei que tivéssemos uma relação aberta. Em nenhum momento achei que isso permitiria que ele tivesse um outro namorado em São Paulo. Esse outro era aquele cara de quem ele tanto falava, que o chamava para uns trabalhos, que o hospedava, que tinha ido uma vez lá em casa.

"Que bom que vocês se deram bem. Isso é muito importante para mim.", ele disse nessa ocasião. Na hora, não entendi o que ele quis dizer. Quando a ficha caiu, senti uma decepção tão grande!

O pior mesmo foi quando ele disse:

"Não é que eu esteja apaixonado, simplesmente preciso. Ele está abrindo muitas portas para mim."

Em algum momento, depois de muita porrada, briga, humilhação mútua, ele se desvincilhou do cara. E parou de participar das contas da casa. Eu já não mendigava amor. Estava meio atônito diante da situação em que tinha me enfiado. Mudamos, inclusive, a forma de fazer sexo. Passei a comê-lo.

Mas não havia mais encanto. Acho que ele sacou.

Um dia, cheguei em casa e ele disse:

"Tenho uma surpresa para você."















Ao longo dos dias que se passavam, dizia coisa como:

"Não é pouca coisa o que estamos fazendo. Um cachorro juntos."

Eu ouvia aquilo sem racionalizar. Simplesmente estava apaixonado pela criatura inocente que estava lá em casa. Sofria de ter que ir trabalhar, de ficar longe. Acho que nunca tinha sentido nem recebido tanta ternura na vida. Saquei que ele começou a ter ciúmes do cachorro que ficava chorando na porta quando eu ia o banheiro. E me dizia:

"Ele é meu, né? Você sabe."

Mas sabíamos que aquele era o começo do fim.

Foi quando comecei a entender o que era o amor.
Toda vez que me apaixonei, fiquei tão desesperado! Nunca entendi muito bem como perdia tão fácil o controle e me humilhava tanto.

Eu implorava por amor.

Estava acostumado a perder amigos, a saber que um dias eles iam. De certa forma, não era mais tão ligado à família. Logo, quando algum namorado que eu amava me deixava inseguro, eu pirava, podia perder tudo. Foi assim com meu ex. E tudo o que ele fazia me causava esse sentimento. Até que o jogo se inverteu, mas o melhor a fazer foi me desvincilhar dele. Nem sei como consegui.

Eu ando falando da minha necessidade de amor porque, por mais óbvia que pareça, não era muito clara para mim. Acho que entendi agora, pois estou novamente apaixonado. As coisas são meio engraçadas, pois isso foi acontecer justamente com um cara que eu já sabia que iria embora.

Só Deus sabe o quanto me custa não fazer uma cena, não ser impertinente na internet, não mandar emails carentes e todas as palhaçadas que eu fazia em nome do amor. Na verdade, quando essas ideias tolas me vêm à cabeça, lembro que o desespero passou.

Eu tenho os cães. Eu tenho a Fernanda. Amor existe na minha vida.

Quando estávamos deitados no motel, falei dos meus cachorros e ele fez a seguinte observação:

"Isso é carência."

Muito prespicaz, não?

"Eu sei que é.", respondi. "Nunca me reconheci amado. Foi o jeito que dei."

Na última vez em que o vi, bebemos muito, ficamos soltos. Falamos sacanagens, falamos um do outro. E nessa ele me disse, entre outras coisas de que não me recordo direito:

"Você é muito seguro."

Pelo que falei da minha vida, acho que deve ter imaginado que não foi nem é fácil conseguir isso.

E eu peço força para seguir em frente, voltar a trabalhar, me apaixonar de novo ou estar bem para o possível dia em que ele volte e quem sabe a gente retome a história interrompida.

Vou seguir a vida tentando reconhecer, de fato, o verdadeiro amor.

Sim, pois, quando disse que nunca me reconheci amado, eu tinha plena consciência de que recebi diversas vezes esse sentimento na vida e não percebi que estava lá. Procurava nos lugares errados, dos jeitos equivocados.

Antes de ir embora, escreveu para mim:

"Já tô com uma saudade filha da puta do que teria acontecido se eu ficasse por aqui --- aahahaha, parece papo de bêbado, né? "

Fico devaneando o que ele imagina que teria acontecido. Fico imaginando o que teria acontecido. Mas fico mesmo com o que tenho: o trabalho que vai recomeçar e vai ser punk, as dívidas que só acabam em cinco anos, os bichos para cuidar e a cabeça para terminar de ajeitar.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Eu ando numa dor de cotovelo... Mexendo em tanta coisa difícil.

Tá foda.
Então chegou a puberdade e eu pirei nela. Já tinha aprendido a me masturbar desde muito cedo, não lembro bem a idade. A minha irmã me ensinou. Foi logo muito fácil entender que eu gostava de homens. Não sei se é uma piração frustrada por não ter sido como eles, daí a atração. Não sei por que ela veio e não sei se vale a pena tentar entender.

Se eu fosse hétero, não tentaria. Não é um problema, certo? Acho que esse é o principal problema deles: não tentam entender muita coisa.

Olhava os homens na rua com tanta curiosidade. Imaginava que, na noite anterior transaram, que teriam pelos em partes estranhas do corpo; admirava barbas, nucas e ficava excitado morrendo de vergonha na rua com a mochila escondendo minha genitália.

Eu era muito quieto e isolado. Finalmente descobriram a miopia e de repente virei ótimo aluno na quinta série, muito diferente da minha irmã.

"Nós percebemos que o problema dela não é familiar depois que conhecemos seu outro filho", os diretores uma vez disseram à minha mãe e ela vivia repetindo isso o mais alto e sempre que podia.

Engraçado como eu só tinha valor quando era para humilhar outro filho.

Ainda ouvia os gritinhos de "Ai, ai, bichinha!" às vezes, quando passava. Simplesmente ficava quieto aguentando. Ninguém ia me ver chorar.

E eu tinha tantas paixões platônicas! A mais forte foi a que senti por um cara lindo (pelo menos na minha memória) que pegava ônibus no mesmo ponto que eu. O apelido dele era Lerdão, parece que não tinha muita atitude com as garotas. Não acreditava nisso. Ele tinha barba, uma nuca linda, era alto, acho que 1,85m, era musculoso.

A sala de aula ficava ao lado das barras de Educação Física e de repente ele aparecia no alto da janela pendurado, suado, sorrindo satisfeito com a facilidade com que fazia aquilo tudo. Não havia aula de Ciências que pudesse competir com aquela visão.

Devia ser muito óbvia a cara que eu fazia, apesar de desesperadamente tentar disfarçar. O professor uma vez me chamou à atenção e disse que eu deveria aprender a ser homem.

Até então eu gostava dele. Era meio moderninho, engraçado, brincalhão. Pensei em várias maneiras cruéis de vê-lo morrer, desgraçado.

Comecei a acordar por volta de 4h30min para chegar o mais cedo possível no ponto de ônibus. Não podia perder a oportunidade de vê-lo embarcar. Eu usava um walkman, fazia fitas de rock e ficava ouvindo no último volume, talvez para mostrar, quem sabe, o quanto eu tinha bom gosto.

Fiquei realmente triste quando o vi, uma vez, imitando meu jeito calado, com fones no ouvindo e aparelho escondido na mochila. O séquito de garotas risonhas que andava atrás dele e de seus amigos musculosos começou a gargalhar. E eu levantei e fui embora. Não fazia sentido ficar mais até tarde na escola só para ter a chance de olhá-lo.

Acho que foi aí que eu comecei a devanear com um grande amor que ia me salvar daquela merda toda. Foi então que a vaga se abriu.




quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Ele é muito estranho, né? Tem um jeitinho."

Quando penso na minha infância, não consigo deixar de sentir uma certa compaixão: morro de pena. Sentimento estranho para se ter por si mesmo, ainda que seja em um estágio distante da própria vida. Mas não dá. Apesar da casa, da comida, da higiene, dos cuidados médicos, não consigo deixar de pensar que era como se eu fosse vítima de um holocausto ou prisioneiro de um campo de concentração. Claro que sou suspeito, afinal dificilmente alguém não se vê como herói da própria história.

O lance é que me chama a atenção essa extrema fragilidade e dependência que as crianças têm. Um prato cheio para os perversos de plantão, especialmente se forem pais. Quem há que os questione? Todos nos chocamos quando vemos déspotas alucinados fazendo atrocidades com suas nações, mas nos esquecemos de que, no microcosmo familiar os pais, em seus poderes quase irrestritos, podem quase tudo desde que não espanquem ou matem.

Eu devia ser muito efeminado. Não tenho nem tinha como me ver de fora para saber. Em minhas memórias, não me recordo de algum dia em que o que eu dissesse fosse ouvido como algo positivo, pelo contrário. Havia sempre uns olhares de repreensão que não entendia muito bem por que existiam. Até que em algum momento começaram a ser verbalizados:

"Fala direito! Fala que nem homem!"

Aquilo soava na minha cabeça já um pouco consciente como uma terrível injustiça: eu não era homem: era um menino, logo não devia ser cobrado por algo que eu não tinha condições de fazer. Além disso, ninguém me dizia como era falar do jeito que eles esperavam, ou seja, eu tinha que dar o meu jeito para atender àquela exigência absurda.

Certas vezes, quando a gente ia à casa de algum amigo do meu pai, eles me preparavam:

"O filho dele tem sua idade, é muito macho. Vê lá como você vai se comportar."

E eu seguia o caminho até a casa de quem quer que fossem aquelas pessoas com um embrulho no estômago, um mal estar que hoje entendo que é nojo.

Comecei a ficar muito calado, silencioso, isolado. Na escola, ou havia o bullying "Ai, ai, bichinha!", ou havia os professores chamando meus responsáveis "Ele é muito estranho, né? Tem um jeitinho." E dá-lhe olhares agressivos durante a conversa, e dá-lhe, quando chegávamos em casa:

"Você tem que falar direito. Como homem. Parar de nos envergonhar."

E eu sentia uma raiva tão grande por ser a vergonha deles. Já via TV, novela, essas coisas. Os pais amavam seus filhos. Faziam loucuras por eles. Os meus sentiam vergonha de mim e me tratavam como uma coisa errada, que não devia ser.

Em algum momento que não sei precisar bem quando, se foi antes de falar, se foi durante a idade escolar, não sei, a minha irmã começou a se esfregar em mim quando mamãe, em sua frustração de-dona-de-casa-que-largou-um-futuro-quem-sabe-brilhante-para-ter-vocês-olha-como-devem-ser-gratos, resolvia fazer algum supletivo à noite, ou cursos de costura-pintura-em-vitral-tapeçaria em Madureira, e decidia que a menina já tinha idade suficiente para-tomar-conta-dos-seus-irmãos.

Eu já tinha alguma consciência de que aquilo era errado e morria de culpa e achava que iria para o inferno.

Então, resumidamente, a minha vida era assim:

"Fala direito! Fala que nem homem!"

"O filho dele tem sua idade, é muito macho. Vê lá como você vai se comportar."

"Ai, ai, bichinha!"

"Ele é muito estranho, né? Tem um jeitinho."

"Você tem que falar direito. Como homem. Parar de nos envergonhar."

Então comecei a prestar atenção aos homens que eu tinha por perto: pai, irmão, tios, vizinhos. Eles berravam por causa de futebol e eu não entendia o porquê daquilo. Nem eles. Eles mijavam na rua e achavam que era certo. Alguns fediam. Quase todos os adultos bebiam e fazia vergonha, escândalo, violências.

Acho que foi aí que comecei a sentir algum orgulho de ser "meio estranho". Eles estavam errados. De alguma forma, eu era melhor.

E eu lia: contos de fadas, Série Vaga lume, X-men, e por aí vai. Muita gente injustiçada lutando pelo seu lugar no mundo.

Quando me questionei sobre o porquê de ter aquela vaga aberta para eu poder funcionar, a analista questionou:

"Será que você não buscava se manter nesse lugar de vítima que te dava tanto prazer?"

"Sim", respondi. Parece que não sabia ou não sei viver diferente.


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Um pouquinho de comida para um miserável

A casa dele ficava num prédio escondido nos fundos de um restaurante vegetariano chiquérrimo da rua 19 de Fevereiro, a mesma de uma sauna que eu frequentava com certa regularidade na época em que morava com meus pais. Segurei a vontade de comentar sobre isso, afinal, não é o tipo de informação que se difunda sobre si mesmo, assim como os encontros de internet. Afinal, parece um submundo de orgia e promiscuidade. E é, enfim.

Sou sempre muito atento a imóveis, em especial aos que se localizam na Zona Sul, e aquele parecia um achado: quarto e sala de cobertura num edifício de 4 pavimentos com somente um apartamento por andar. a sala não tinha sofá: somente uns dois fouttons negros, um revisteiro com fotografias de paisagens da cidade aparentemente tiradas por ele e edições de moda, uma mesa de vidro de escritório, um breu vermelho. Tudo isso sobre um piso laminado imitando madeira clara. Ele acendeu a luz, que era amarela. Lembro disso porque em seguida disse:

"Não gosto daquelas luzes econômicos. Tudo fica feio com elas."

E até hoje, quando entro em algum ambiente cuja claridade seja fluorescente, concordo: ele sempre foi bom em criar uma bela apresentação. E a beleza sempre me impressionou e me atraiu. Talvez porque eu achasse que não a tinha comigo numa menos-valia doida. Isso sempre me impediu de ver além, de observar mais a fundo. Logo eu, que justamente me especializei em ver além do que se está escrito, caí na armadilha das aparências.

Mas por que me justifico?

Por que preciso entender. Para alguma serviu esse encontro e essa história. Outro dia, pensei que a vaga dele estava aberta. Seria preenchida por qualquer um que atendesse aos requisitos necessários, assim como uma escola não funciona sem professores, um consultório sem médicos ou uma loja sem vendedores. Eu não funcionava sem alguém como ele. E houve outros.

Em algum momento, colocou algum disco (de vinil) super diferente. Não sei se da Nina Simone, da Marina (anos 80) ou do Lobão (também anos 80). Acendeu um e fumamos juntos. De repente nos beijávamos e transávamos.

Quando acabou, entrei no piloto-automático dos encontros de sexo pela internet: pedi licença para tomar um banho, vesti-me e bati um leve papo superficial antes de ir embora, quando ele me disse:

"Uma amiga está vendo aqui, acabou de ligar. Não vá ainda."

A moça chegou, acho que levava alguma encomenda de baseado para ele. A gente começou a conversar. Ela era amiga em comum do seu ex. Eles falavam disso, de um tempo juntos, da casa de Cabo Frio que ela deixaria pra trás e que lhe trazia memórias:

"Era muito legal quando a galera toda se reunia lá."

Confesso que estava olhando para os dois, meio por fora do papo e pensando num jeito de sair dali sem ser mal educado, apesar de achar que eles é que eram, já que conversavam sobre um assunto do qual não poderia participar. Foi quando ele colocou as pernas sobre as minhas na frente dela.

Não entendi o motivo daquilo, mas acho que foi aí que tudo começou. Um gesto tolo desses para uma pessoa carente como eu era (ou ainda sou) poderia significar tanta coisa... Ele poderia simplesmente querer que ela visse que o fim do namoro estava superado; ele podia simplesmente estar procurando algum lugar para descansar as pernas e as minhas pareciam a solução; ele poderia querer tanta coisa, além do que entendi naquele momento com minha desvalia:

"Ele fez carinho em mim na frente de outra pessoa!"

E foi então que, hoje entendo, naquele momento me dei conta daquela fome que sentia e que nem sabia direito que estava ali:

Uma fome desesperada de amor e carinho.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A primeira vez que encontrei o Paulo não é motivo de orgulho. Era um encontro para realização de atividades sexuais com um desconhecido com quem conversei em um chat da internet. Não é por mim que digo que não foi motivo de orgulho, que reconheço a dificuldade de se encontrar parceiros sexuais e afetivos do mesmo sexo nas situações corriqueiras do cotidiano ainda mais quando não se tem muito dinheiro no bolso (boites, saunas, clubes, praias), mas pelas pessoas em geral, que nunca falam abertamente sobre isso. O próprio Paulo, assim que começamos a conhecer os amigos um do outro, uma vez pediu:

"Não fala que nos conhecemos na internet. Diz que foi correndo no Aterro."

Meio distraído perguntei o porquê daquilo. Após a falta de explicação do meu foco de paixão, entendi a importância daquilo sozinho. Tanto que, quando a Gisela me perguntou onde eu e o Paulo nos conhecemos (fiquei impressionado de aquela ter sido uma das primeiras perguntas dela. Parecia que ele sabia.), respondi do jeito que faço quando estou mentindo: objetivo e curto, sem dar muitas margens para questionamentos sobre detalhes que me fariam entrar em contradição.

"No Aterro."

"Aaaahhh..."

Até hoje me pergunto se a resposta de Gisela significava "Não entendi nada, mas tudo bem: você não quer falar sobre isso", ou "Que bonitinhos. Se conheceram fazendo esportes. Hum, que excitante! (Ela tinha um certo tesão nos amigos casados gays)", ou "Pegação, né?", ou se simplesmente foi "Aaaahhh..." mesmo.

Havia uma verdade nisso. Em vez de eu ir à casa dele ou ele ir à minha logo de cara, Paulo queria um local público. A gente se falava há uns dois dias. Até que ele veio com a ideia do Aterro.

Cheguei lá na hora marcada. Naquela época eu mantinha uma rotina de exercícios de musculação e de natação quase como se fosse algo religioso, por isso, devia estar muito atraente. Fui com roupa de academia. Como ela era uma espécie de Igreja, marquei o encontro para depois da malhação. Ele chegou na hora marcada. De cara, me assustei com as marcas de vitiligo no rosto. Ele tinha uma voz grossa e os movimentos travados. Um jeito estranho no braço longo e meio flácido. Não desenvolvia muito as respostas, meio escorregadio. Eu não refletia muito sobre essas características, apesar de recebê-las.
Queria mesmo era ver se rolava. Eu vivia pensando em sexo. Estava encantado na facilidade de fazê-lo na Zona Sul do Rio. Era como se, depois de ter passado fome, eu tivesse todos os dias um banquete de iguarias à minha disposição todos os dias.

Caminhamos, caminhamos e conversamos, conversamos sobre coisas das quais não me lembro exatamente (estava muito preocupado em dizer a coisa certa do jeito mais atraente para conseguir foder):

Eu: "Moro com amigo e a gente divide tudo, mas somos somente amigos."

Ele: "Moro num quarto e sala com uma atriz, mas ela nunca está em casa e enrola para pagar."

Eu: "Sou professor, ganho mal, mas adoro o que faço."

Ele: "Sou fotógrafo, mas tá foda conseguir trabalho no Rio. Quero muito continuar morando aqui, mas acho que não vai dar."

Eu: "Faz muito tempo que não namoro."

Ele: "Terminei um namoro agora."

Eu: "Vocês ainda são amigos?"

Ele: "Não, mas ele é um cara muito maneiro. Quero manter a amizade. Você é gostoso."

Olhei melhor para ele. Parecia uma criança desamparada cheia de manchinhas. Fiquei excitado.

Eu: "Curti também."

Ele: "Moro aqui perto. A fim de dar uma passada lá. A Chris com certeza não está."

Eu: "Vamos."

(Quem sabe um dia continuo...)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Que semana punk

A casa foi dedetizada e os cães começaram a ter reações de intoxicação. Dei um antitóxico, liguei para todos os veterinários que conheço,aquela loucura. Por fim, depois de medicados, decidi que seria melhor afastá-los daqui até segunda à noite, ou seja, depois da faxina da Tereza.

E de repente me vi sozinho aqui com o papagaio, que está bem.

Que sensação estranha.

Tudo começou quando Miró apareceu com a doença do carrapato. Eu já tinha visto alguns aqui pela casa e esperei dar os dois dias de banho para poder colocar neles todos o Frontline (carrapaticida que aplico nos cães), conforme a bula manda. Mas, mesmo assim, as criaturas nojentas continuavam pela casa. Olívia começou a ficar estranha e entrou na medicação também.

Nessa história, perdi uma semana e muita grana.

Além disso, tem a tristeza que venho sentindo desde que me despedi da minha paixão de verão. Aquela carência chata intensificada pela ausência dos amigos, pelos melodramas familiares, pela sensação de solidão.

Alexandre veio aqui três vezes nesta semana-punk. Apesar do sexo bom, em todas elas me perguntei se deveria manter nossa história. Afinal, o papo de "só trepamos e somos felizes" não é real.

E acho que no fundo estou a fim mesmo é de curtir essa leve dor de perda de amor que sinto por uma relação que só durou três encontros. Afinal, é triste, mas não chega àquele sofrimento terrível. Nem dá.

Também pode ser o lance que cada dia percebo mais em mim: sou monogâmico. Não há qualquer questão moral nisso. Simplesmente não tenho vontade de ficar com outras pessoas quando me sinto apaixonado e correspondido.

Essa, na verdade, foi a minha primeira grande decepção com meu ex. Ele não queria exclusividade.

No réveillon, conheci a esposa de um amigo meu. Eles têm um casamento aberto e troquei confidências com ela sobre isso. Disse que a primeira vez que vi meu ex beijando outro senti uma tristeza tão forte que chorei a ponto de perder as lentes de contato.

Ela me disse: "Isso é muita novela que você vê!"

Será?

Acho que não. Gosto de simplicidade, de segurança, tranquilidade, paz. Monogamia sincera traz isso. Era tudo o que eu não tinha...

Mas isso é uma outra história.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A gente teclava desde a época em que eu morava em Laranjeiras. Estava então muito deslumbrado em morar sozinho, vivendo uma atividade sexual intensa. Além disso, acho que vivia o auge da minha desorientação. Dava muitas cabeçadas, quase inteiramente destinado a me foder.

E me fodi, não é?

Desde que me estrepei feio, que vinha me sentindo meio morto-vivo. Tinha encontros, claro, mas parecia meio frio para qualquer pessoa. O mais próximo de algum envolvimento é o Alexandre, de quem sempre falo aqui.

Até que um dia ele apareceu novamente no MSN. Reconheci na hora, mas fiquei naquele papinho "Oi, de onde tecla?" para sondar o terreno. Ele fez o mesmo. Até que disse que me lembrava dele, da época e tudo mais. Nunca entendi por que nunca nos encontramos de verdade. Ele disse o mesmo.

"Estou morando em Londres e vou ao Rio de férias. Quero dessa vez te encontrar de verdade."

E rolou essa coisa meio mágica que até agora me pego devaneando sobre.

No nosso terceiro encontro, que também era despedida, não dormimos juntos. Depois de um almoço com amigos dele, entramos em algum bar gay-fuleiro-de-videoquê-vazio-da-Lapa para nos beijarmos sem medo de porrada de homofóbicos. Depois subimos Santa Teresa. Ele queria rever o bairro. Bebemos no bar do Arnaudo, tomamos feijão amigo, conversamos, conversamos, conversamos, conversamos.

Paramos de ter medo e simplesmente nos beijamos em pleno Largo dos Guimarães. Quem se incomodasse que se fodesse.

Descemos até a Glória a pé conversando, conversando, conversando.

Enquanto eu demonstrava meu fascínio pelos prédios antigos, pelas vistas surpreendentes da Baía de Guanabara que apareciam entre uma curva ou outra, ou quando falava dos lugares que conhecia, ele disse, impressionado:

"Você é apaixonado pelo Rio de Janeiro que nem eu!"

E nos beijamos em plena ladeira, em plena madrugada.

Quando comemos na padaria 24h um lanche bem podreira, não me dei conta de que passava meus últimos minutos com ele. Fomos ao Banco 24h da rua das Laranjeiras para eu tirar dinheiro para voltar de táxi. Miró estava passando mal e valia a pena chegar logo em casa.

Então ele olhou no meu olho e disse.

"Então é aqui que nos despedimos. Vê se te cuida. Me escreve."

E me deu um selinho em plena rua das Laranjeiras. Entrou no táxi e fiquei meio atônito olhando-o ir.

Mais uma vez percebi que estou vivo.

Estou vivo.

Estou vivo.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Quando a Fernanda leu o último post, ela riu e disse que eu não deveria me sentir especial por ficar tão inseguro quando apaixonado, pois isso acontece com todas as pessoas. Super normal.

"Você faz a linha problemático em cima da coisa mais comum do mundo!"

De qualquer forma, eu antigamente pirava, pois era muito inseguro e carente. Dessa vez, estava com uma dorzinha de cotovelo, mas naquela linha de equilíbrio sem ficar forçando barra para nada.

Até que depois de uma meia hora, recebo uma mensagem no Facebook do JF pedindo desculpas pelo sumiço, justificando que não resistia aos dias de praia que estavam fazendo e perdia a hora para qualquer coisa comigo depois. Convidava-me para tomar uns drinks na sexta-feira.

Eu sou um carente em tratamento, mas não deu pra evitar a felicidade. Toda a amargura do último post passou e lá fui eu, no dia seguinte, mesmo debaixo de chuva, encontrá-lo na Farme.

:)

E foi novamente um encontro diferente. Muito papo, muita caminhada, muita coisa engraçada, muito beijo, muito tesão. A gente entrou numa balada de música eletrônica e depois passou a noite junto.

E dessa vez, não tive travação. Logo falei muito sério:

"Como é que faço pra te ver de novo antes de tua partida para Londres?"

E a gente já marcou o encontro seguinte.

Tenho um amor de verão. Cafona, mas verdade. Sinto-me vivo novamente: é possível me apaixonar mais uma vez. E o melhor é a reciprocidade que rola. Outro dia, ele me escreveu:

"Tu é gostoso e ainda gosta do Caio. Muito raro."

Estou felizão.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Então tá que pensei que estivesse curado do meu jeito de me apaixonar entrando numa de fantasiar que sou pouco interessante, de ficar fuçando na vida alheia e de ficar naquela dor de cotovelo triste.

Não estou, né?

Saí com um carinha muito interessante. Difícil combinação entre físico atraente e mente inteligente. Na minha experiência vasta de relações, ou o cara é bonito e transa bem, mas não é lá aquela pessoa com quem se quer passar alguns dias trocando ideias; ou o cara é o máximo de antenado e bonito, mas trepa mal e ainda termina a noite dizendo que aquela experiência cansativa foi o máximo; ou é bonito, mas nem transa nem conversa bem; etc. etc.

Mas, peraí? Eu desenvolvi esse raciocínio talvez num delírio de idealização em que eu afirmaria que o carinha por quem sinto uma leve dor de cotovelo era lindo, inteligentíssimo e a melhor transa do mundo! Isso não é real! Ele era bonitinho, muito inteligente, sim, mas uma transa normalzinha. Sem graça.

Por que sofrer por isso não ter ido pra frente? Até quando vou ficar curtindo paixão por caras que nem são tão legais assim? Ou pelo menos não tão legais quanto eu, pelo menos. Sem metidez ou falsa modéstia, mas sou bonitão, inteligente e mando bem na cama. Acho que esses três requisitos não são pouca coisa a se exigir do próximo candidato a: homem da minha vida.

De qualquer forma, é bom sair daquela inércia. Até paixõezinhas bobas voltei a ter. Acho que finalmente estou curado da minha separação. Fazia anos que não me sentia assim.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Em uma festa de réveillon, um bando de amigos que há muito não se viam reunidos. Som. Espumante, cerveja, uns bons drink. Alguns levaram seus filhos. Outros, os novos companheiros. Um deles, levou os dois (no caso, as duas: filha e companheira, caso tenha ficado ambíguo).

Em algum momento, a gente começa a dançar. O som é trash. Talvez por isso tenha sido tão divertido.

Em um fim de festa, percebo que fazia tempo que não sentia tanta alegria. Não ficava tão à vontade.

Em uma rua de Niterói, no primeiro amanhecer de 2012, lembrei que minha analista certa vez chamou atenção para o fato de minhas relações serem tão restritas. Enumero: Os Fernandos, alunos, Mônica, Alexandre. A maior parte dessa lista tem relação com trabalho. A que sobra é uma foda-fixa controversa no meu íntimo (Afinal, devo ou não permanecer com ele?). Com todos, fico à vontade, mas preciso de mais gente com quem possa ficar assim.

Em um trajeto de três horas de volta para casa, eu só queria era chegar logo em casa.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Os sobreviventes ou A Literatura me salvou

Na sexta-feira acordei com o telefonema do meu irmão. Ele chorava: mamãe pirou com a esposa dele e a esbofeteou, além de ter feito muito terror psicológico. Para completar, o casal foi expulso da casa de praia.

Pensei: "Pronto, foi batizada. Entrou pra família, passou pelo primeiro barracão."

Mas a tendência à ironia passou quando ele falou:

"Cara, eles morreram para mim."

Tanta coisa me veio à lembrança, tantas cenas terríveis. As relações perversas e doentias que existem desde que éramos crianças. A quantidade absurda de ciúmes, agressividades, exageros, desrespeitos. A pouca busca por soluções e o caminho sempre trilhado ao conflito.

Conversar com minha mãe só dá certo se ela não for contrariada. Qualquer crítica ou discordância às suas opiniões, o tempo fecha. Chantagens como "Esqueça que sou sua mãe!" ou chantagens do tipo "Saiba que quando você precisar, se você estiver numa situação muito difícil, estarei sempre aqui, ao contrário de você." são perfeitamente possíveis e aceitáveis em sua ética de relações. E, mesmo sendo vítima tanto quanto os filhos, meu pai, quando não é o alvo, fica sempre ao lado dela. Contra os outros.

E é asim que vivemos. Ou que eles vivem, porque acho que consegui dar o fora da maluquce: Uns contra os outros.

A minha cunhada está mal, tem pesadelos. Fico pensando que somos sobreviventes mesmo. Afinal, levávamos os tapas, éramos xingados, humilhados, maltratados, mas dependíamos deles. Tínhamos que ficar lá. Não havia para onde ir.

Aí eu lembro da minha relação com meu ex. As brigas, o vínculo difícil de se desfazer apesar dos maus tratos mútuos. Paradoxalmente, estava numa zona de conforto. Sempre vivi assim.

Acho que dá pra entender por que gosto tanto de viver com os cães. Sinto uma paz, um alívio, uma segurança... Vou exercitando com eles enquanto não consigo ter ou oferecer isso a outros seres humanos.

E toda vez que vejo alguém supervalorizando as famílias eu penso que isso está errado. Dentro de uma casa, os pais têm poderes muito grandes sobre seus filhos e isso não está certo. Recebi cuidados, estudo, alimentação e acesso à saúde, é verdade, mas também vivi muitas torturas e crueldades psicológicas, além de agressões físicas injustificadas. E aí? O que faço com isso? Como consigo ser feliz assim? Reproduzindo quem eles são? E se eu não tivesse como fazer análise?

Cada vez mais acho que, como um náufrago se segura em qualquer coisa que o mantenha na superfície para escapar da morte, agarrei tudo o que eu poderia ler para escapar daquele ambiente hostil que era minha casa. A Literatura me salvou. Tenho certeza disso.

domingo, 1 de janeiro de 2012


– Meu filho, você nem lembra que a gente existe?

– Posso dizer o mesmo, não é, pai?

(Fiquei sozinho em casa no Natal.Todos viajaram. No fundo, até gostei.)

– E como você está aí?

– Bem, tudo certo.

– Fala aqui com sua mãe.

– Beijo, pai.

– Então quer dizer que você está com mais um cachorro, meu filho?

– Não, tem uma cadela que resgatei da rua e que está aqui até eu encontrar um dono, mãe.

– E ela está dormindo lá fora, né?

– Não, dorme dentro, como todos os outros.

– Meu filho... Quatro cachorros em casa. Arrumou mais um!

– Mãe, não estou entendendo. Não te expliquei que é por um tempo até encontrar um dono para ela? A cadela estava morrendo quase na porta da minha casa e eu não iria fazer nada?!

– Então você está tendo muitos gastos, né? Muito dinheiro gastando.

– Eu nem estou pensando nisso, mãe.

– Eu vi na Ana Maria Braga o que aquela mulher fez com o cachorrinho. Um absurdo!

– Você vê todos os dias um monte de cachorros largados na rua e não fica indignada.

– Eu quero um pastor alemão para proteger aqui a casa. Como ele poderia proteger se dormisse dentro?

– Cada um é do seu jeito, né, mãe?

– Meu filho, por que tanto cachorro?

– Ai, por que eu gosto mais de bicho do que de gente, mãe!

– Mas isso não tá certo!

– Estou feliz assim.

– Mas, então, o que você vai fazer no reveillón?

– Vou a Niterói. Quero ir, sabe. Uns amigos estão organizando a festa e a Renata vem lá do Pará. Quero vê-la.

– Eu gostei dessa Renata. Ela e seu irmão namoraram, né?

– Não foi bem um namoro. Ela estava indo embora terra dela, ele tinha acabado de levar um fora da Tatiana, ficaram uma vez só. Nada sério.

– Mas essa menina é trabalhadora, né?

– É, mãe, ela não conseguiu se firmar como jornalista aqui no Rio e decidiu voltar pra casa. Os pais têm negócios, está trabalhando com eles e fazendo Direito.

– Ia ser bom se seu irmão tivesse ficado com ela.

(A esposa do meu irmão estava hospedada na casa de praia dos meus pais enquanto essa conversa acontecia.)

– Ah, acho que nem passou pela cabeça dos dois isso. Bom, mãe, deixa eu ir lá. Feliz Natal.

– Feliz Natal, meu filho.