sábado, 28 de abril de 2012

Hoje é aniversário da minha mãe e faz uns 4 meses que não a vejo. Ela me disse que não estaria em casa hoje, subiria a serra. Só consegui que atendesse o telefone lá por volta de 12h e, por mais que não estejamos com tanto contato ultimamente, não mudou muito: falou por volta de uma hora e meia quase sem parar. A mim só cabe ouvir. Como o dia é especial, fiz essa concessão.

Não posso deixar de confessar que senti um certo alívio por não ter como ir vê-la e isso me dá tanta culpa! Fico tentando imaginar como ela foi quando eu era bebê. Os cuidados, o amor, o seio. Talvez pensando assim, consiga ter uma relação normal de filho que tem vontade de ir ver os pais. Mas não consigo. Lembro das maluquices, das manipulações e das chantagens. Ser amado por ela tem um preço muito alto que sempre é cobrado.

Quando eu era criança, depois adolescente, frequentava a casa dos amigos e via algo de diferente nas famílias deles. Não sei bem o que era, mas sentia uma vontade de ter uma família normal, se é que isso existe.

Nesse tempo sem encontrar meus parentes Dulce veio e foi embora, Miró envelheceu muito, um monte de cabelos brancos apareceram, voltei a estudar.

Tenho medo de o tempo passar e ser tarde demais, mas não consigo tomar uma atitude para conseguir conviver com eles. Sinto-me quase sozinho no mundo, mas parece que estou melhor assim.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Deve ser excentricidade, mas tenho a sensação de que não sei viver num ambiente desarrumado. Tudo em seu lugar, as coisas bonitas, a ordem estabelecida: coisas que me trazem paz. Não consigo estudar, trabalhar, descansar, ver TV, ou seja, fazer qualquer coisa se tais critérios não forem respeitados.

Anteontem recebi pessoas que dormiram e o normal aconteceu: ficou aquela bagunça. Acordamos, tomamos café e fomos levar a Dulce para a nova dona. Ao chegar e ver colchões, toalhas, louça, restos de comida, travesseiros espalhados, lama seca no chão e muita coisa fora do lugar, entreguei-me à tarefa de limpar e organizar tudo.

O chão foi varrido e limpo com pano molhado, o sofá arrumado, o banheiro lavado, o viveiro do papagaio teve o jornal trocado, o lixo foi colocado na rua, passei lençóis limpos, acendi incenso. Quando já estava acabando, ao estender os panos de chão que havia colocado para lavar e ao colocar as toalhas brancas e úmidas de molho, resolvi tomar umas cervejas e aproveitar a solidão.

Nessas horas, eu tomo um belo banho desses sem pressa, coloco uma roupa limpa e passada das de sair e fico curtindo a casa, o lugar lindo e limpo, estando eu lindo e limpo também. Vejo TV, leio algo, estudo, fico no computador, ouço música. Fico vivendo como se fosse numa cena de novela.

Enquanto estava nessa atividade, recebi SMS do Alexandre perguntando se eu queria que ele fosse lá em casa fazer coisas bem indecentes. Fiquei muito feliz por ter cuidado de tudo, pois também não sei fazer sexo num ambiente desarrumado.

E o final de semana prolongado teve o final relaxante que merecia.

:)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dulce Veiga foi embora hoje. Não consigo deixar de sentir a perda. Ela deve ter atendido ao significado do nome, pois jamais conheci criatura tão doce. Talvez Caio Fernando tenha me ajudado lá do céu a achar a dona que está tão apaixonada por ela. Fomos hoje lá levá-la em Belford Roxo, num lugar simples, numa casa simples onde mora uma mulher jovem e cheia de amor.

Pensei que ia desabar ali. Surpreendi-me por estar tão tranquilo. Pensei que a cadelinha também fosse fazer alguma cena, chorar na hora de eu ir embora, como sempre fez quando eu saía de perto dela em qualquer lugar. Não: ficou bem. Acho que até sorrindo.

Pensei que seria muito ruim doá-la. Eu ficaria muito puto se fosse criança totalmente dependente e alguém me salvasse da rua, cuidasse de mim, me desse amor, cuidados e um dia me dissesse:

"Já fiz tudo o que podia por você. Agora está na hora de você ir, pois encontrei novas pessoas que vão te assumir."

Mas ela não sou eu: não racionaliza. Está bem e feliz. Já vive seguindo a dona nova por onde quer que ela ande.

A casa está mais vazia, mas também mais tranquila.

E depois de todo o trabalho, todos os gastos, toda a confusão, acho que valeu a pena. Foi bom ter tomado uma atitude e não ter deixado aquele ser lindo morrer sozinho e com fome na rua.

Adeus, Dulce.

Eu te amo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Eis que encontro amigos que ficam bastante chocados com minha barba já grisalha.

"Isso porque não viram a quantidade que há no meu peito", eu digo.

Acho que passei os últimos anos tão concentrado em viver, nos problemas, na rotina, nos estudos, no trabalho, em tanta coisa que não senti o tempo passar. Ainda me choco com a constatação de que sou: um homem maduro.

Foi de repente. Agora, está escrito na cara a minha idade. Não tem como passar por mais jovem. Se digo que tenho 27 anos, as pessoas riem da piada óbvia.

O lado bom disso é ser solteiro. Estou no auge. Se não é do meu vigor sexual, é da experiência nesse assunto. Além disso, há uma carência paternal no mundo gay que faz os rapazes vibrarem com uns pelos brancos, com uma cabeça raspada, com a referida barba grisalha. Outro dia, um carinha lindo com quem me encontrei certas vezes e que me encantava com o olhar deslumbrado e meio inocente da juventude me disse:

"Gosto muito de caras como você, mais velhos."

E tem o crescimento na carreira, o vislumbre da casa própria e uma certa serenidade na busca do amor.

Definitivamente, é bom estar na casa dos 30.