domingo, 29 de julho de 2012

Eu me sinto preso. Tudo é difícil. É como se tivesse voltado a morar em Realengo. Praia? Não. Dar um rolé? Não. Supermercado no caminho? Não. É longe, ir a qualquer lugar é um custo, difícil. Eu fico angustiado só de pensar em sair.

A vida consiste em ficar em casa e sempre tem tanta coisa pra fazer... A maioria chata. Muitos consertos caros, essas coisas.

Os meus amigos só andam de carro e só saem para restaurantes. Casa-carrofechado-restaurante-carrofechado-casa.

Normalmente nas férias a minha frustração piora porque eu não tenho dinheiro nem disposição para sair todos os dias daqui. Então a vida fica melhor quando estou trabalhando porque pelo menos eu realmente TENHO que sair.

As minhas férias, quando eu estava na ZS, consistiam em ir à praia todos os dias, em andar de bicicleta, em ir ao mercado na volta, em encontrar os amigos na rua pra não fazer nada além de ficar na rua, em fletar na rua, em ter uma rotina feliz.

A minha psico me relembra: "Você tinha que dividir apê e era ruim".

A minha amiga uma vez me disse: "Talvez o erro tenha sido você morar lá. Viveu algo que não poderia, ficou mal acostumado."

Eu quero a ZS. Não tem nada a ver com status. Mas a maturidade consiste, pelo menos em parte, em saber até se pode ir. Eu não posso morar na ZS: não posso bancar. O que eu posso bancar é essa vidinha chata e sem graça. É essa sensação de que meus dias são um porre, uma coisa muito chata e que eu nunca vou sair disso.

E eu não vou sair, né? Então é isso, eu descubro que felicidade é um lance que eu não tenho nem nunca terei grana para bancar.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Não gosto de gente carente. Aquele povo que fica dia e noite no Facebook ou no Twitter postando, que pede muito carinho, que fica insegura quando se apaixona, que de repente sofre por descobrir que a vida seria intolerável na falta de certo alguém.

Sou exatamente a descrição de pessoa que imediatamente acima descrevi e disse que não gosto. Desde cedo aprendi a não querer contar muito com os outros e a viver sozinho: não gosto de esportes coletivos, trabalhos em grupo, dividir nada. Acho que por isso tenho poucos amigos, companheiros. Ou tenho a dificuldade de valorizá-los, mantê-los por perto.

Tenho uma amiga que era presente na minha vida. A gente fez pós juntos, depois Mestrado. Fui à sua defesa, a gente se visitava de vez em quando. Acompanhei na rede social que recentemente ela se apaixonou por um norueguês e nesta semana fez as malas e foi embora para lá viver com ele.

Não me despedi. Em algum momento, abri mão de nossa relação e a deixei escapar. Faço isso sempre... Acho que as pessoas uma hora desistem de me procurar, sei lá. Eu nunca dou muita trela mesmo.

Isso piorou acho que quando comecei a ter vida sexual. Outro dia a Fernanda me disse que o sexo deve ser o único momento em que tenho carinho humano. Fiquei pensando e me dei conta de que é verdade. Quando comecei a aprender a buscar sexo, passei também a dar menos importância para os amigos, afinal, eles não eram prioridade. Transar era.

E toda vez que me apaixonei por alguém com quem transei foi aquela explosão de desespero. Como se num solo árido de repente chovesse torrencialmente, como se um faminto descobrisse que tem diante de si um banquete.

Nunca achei que merecesse muita chuva ou o banquete. Sempre olhei para a chuva e para a comida com medo, mas, se algum dia me permitisse tomar banho ao ar livre ou satisfazer a minha fome, não conseguia mais sair debaixo d'água ou da mesa. Aquela coisa de "pobre quando come se lambuza". Eu não sei receber afeto e me satisfazer com ele.

Acho que direciono mal a minha vida nesse sentido. Detesto perceber como sou carente. Odeio me ver agir de forma carente. Não aguento ter esse vazio que eu gostaria de preencer de maneira racional e equilibrada, porra.
Uso o blog às vezes para relembrar onde estava ou o que estava fazendo em determinadas épocas, afinal ele está por aí há 8 anos... Muita coisa rolou. Vira e mexe entro e fico relendo os posts. Às vezes dá tanta vergonha...

Então, para consultas futuras, que fique registrado que no dia treze de julho de dois mil e doze, uma sexta-feira-treze, firmei contrato com a Caixa Econômica Federal para o financiamento do meu apartamento que está em fase de construção no bairro do Pechincha, em Jacarepaguá.

Fiquei muito feliz, mas esperando alguma extrema emoção, assim como quando me formei, quando defendi o Mestrado ou quando transei a primeira vez com um cara. Não foi nada assim, só um alívio. No fim das contas, continuo sendo o mesmo.

Nestes dias eles colocaram os tijolos nas paredes do meu exato apê. Ele fica de frente para os fundos desta casa onde moro. Fiquei meio intrigado olhando para o vão já formado da janela onde, daqui a pouco mais de um ano provavelmente, ficarei encostado vagando o pensamenro vendo algo fora do espaço interno da casa. Minha vida acontecerá ali, onde hoje não há nada além do que operários, cimento, tijolos e vazio.

Deu já saudade do futuro.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Ando precisando escrever e não consigo tomar coragem para fazê-lo. Não sei do que é esse medo, mas sei o tipo que é. Justamente o que eu menos tenho na vida: o que nos impede de fazer as coisas. 

Acho que vai ficar uma porcaria. Acho que não tenho talento. Acho que não tenho condição.

Tento lembrar dos meus papos com alunos que andam mal em alguma coisa: não conseguem fazer um trabalho, tiram notas baixas, coisas assim.

"Isso não diz quem você é. Não muda nada sobre sua existência. Só mostra que alguma coisa aconteceu e a gente tem que descobrir o que é e seguir em frente resolvendo até conseguir."

Eu devia falar mais assim comigo mesmo. O mestrado não foi bom e eu hoje consigo entender onde foi que errei. Por que ainda deixo que isso me defina? Não devia eu ser mais seguro e meter a cara?

Então, vamos lá, vou fazer comigo o que faço com os alunos:

"Isso não diz quem você é. Não muda nada sobre sua existência. Só mostra que alguma coisa aconteceu e a gente já sabe o que é e agora vai seguir em frente resolvendo até conseguir."