domingo, 7 de outubro de 2012

Acho que eu só vivo mesmo atualmente porque eu tenho bichos para cuidar. Talvez porque eu também esteja estudando (precariamente, pois meu trabalho que não me valoriza me consome).

Estou muito de saco cheio de tudo. Odeio quase tudo o que me circunda.

Acho que está na hora do meu plano b e começar a me organizar para ir embora para o Canadá.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Durante a semana, quando a gente já estava mal de grana, eu e o Paulo tínhamos um plano de economia: só comeríamos em casa. Eu acordava cedo, às vezes a gente fodia. Sozinho, tomava um café que eu mesmo preparava, passeava com o cão, ia ao Recreio dar seis tempos, voltava a Copa, corria ao apê, entrava, lavava as mãos e a gente sentava à mesa. Ele sem cueca e com aquela bermuda velha que adorava usar, peito de fora. Eu esbaforido, com roupa de trabalho (alguma camisa de botão, jeans e tênis). A gente se dava um estalinho rápido, começava a comer e conversar qualquer coisa enquanto eu pensava "meu Deus, adoro cada mancha de vitiligo, vou mandar eles escreverem um parágrafo argumentativo, não consegui corrigir uma redação sequer, vão cobrar". Mesmo quando era só frango grelhado, batata gratinada com sal grosso, arroz e rúcula, ele fazia ser especial. Alguma erva que transformava o almoço num banquete. Eu terminava a refeição, escovava os dentes, lavava um pouco o rosto e ia correndo para o metrô para não chegar atrasado no Flamengo. No intervalinho da aula da tarde, enquanto comia o bolo de cenoura da cantina com o café delicioso que as irmãs deixavam todos os dias na sala dos professores, ele me ligava pra saber como eu tava, pra me falar alguma coisa de trabalho que poderia ser, mas que provavelmente não rolaria e eu pensava "ai, ainda tenho que pegar o trem na Central pra Realengo, o trem, mesmo sem ar-condicionado, está melhor que o metrô, que às cinco fica lotado de um jeito inimaginável" e lá pelas 23h eu chegava em casa e ele estava ainda lá, sentado de frente para a tela do computador. Eu tinha a sensação de que ele  nunca saía de lá. Quando vinha falar comigo, os olhos estavam vermelhos. Hoje acho que ele fumava perto da minha chegada para ficar menos nervoso e poder conviver com alguém além da própria frustração.

Quando lembro desses dias, quase penso que eu deveria atender seus apelos e ir vê-lo em SP, como ele me pede. Ou recebê-lo, quando vem ao Rio, mas daí naturalmente volta a memória de que, assim como havia a rotina gostosa, todas as sextas à noite, quando eu estava esgotado de tanto trabalhar e louco de vontade de só tomar um banho e ficar curtindo a companhia no sofá, ele começava a preparar vodca com Redbull e ligar para aqueles amigos fins de linha que dividiam com mais dois um quitinete e que não perdiam de forma alguma as baladas de todos os dias do fim de semana. Eu dizia "Não vai, fica comigo. Tô cansado, querendo ficar junto" e ele dizia "Eu preciso espairecer, eu te amo, mas vou ter que ir. Fica bem. Um beijo! Vem comigo? Você que sabe, hein!"

Ele diz que mudou, que o conheci na pior fase de sua vida, que ele não era bem ele, que já me pediu perdão, que não sou ninguém para julgá-lo, que eu guardo muita raiva no coração e que isso faz mal, que eu devia buscar tratamento, que ele não esquece a nossa foda, que estou proibindo-o de ver o próprio cão e que isso é muita maldade, que...

Nunca penso em revê-lo novamente. Morro de medo disso. Morro de medo de mim.