quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A gente teclava desde a época em que eu morava em Laranjeiras. Estava então muito deslumbrado em morar sozinho, vivendo uma atividade sexual intensa. Além disso, acho que vivia o auge da minha desorientação. Dava muitas cabeçadas, quase inteiramente destinado a me foder.

E me fodi, não é?

Desde que me estrepei feio, que vinha me sentindo meio morto-vivo. Tinha encontros, claro, mas parecia meio frio para qualquer pessoa. O mais próximo de algum envolvimento é o Alexandre, de quem sempre falo aqui.

Até que um dia ele apareceu novamente no MSN. Reconheci na hora, mas fiquei naquele papinho "Oi, de onde tecla?" para sondar o terreno. Ele fez o mesmo. Até que disse que me lembrava dele, da época e tudo mais. Nunca entendi por que nunca nos encontramos de verdade. Ele disse o mesmo.

"Estou morando em Londres e vou ao Rio de férias. Quero dessa vez te encontrar de verdade."

E rolou essa coisa meio mágica que até agora me pego devaneando sobre.

No nosso terceiro encontro, que também era despedida, não dormimos juntos. Depois de um almoço com amigos dele, entramos em algum bar gay-fuleiro-de-videoquê-vazio-da-Lapa para nos beijarmos sem medo de porrada de homofóbicos. Depois subimos Santa Teresa. Ele queria rever o bairro. Bebemos no bar do Arnaudo, tomamos feijão amigo, conversamos, conversamos, conversamos, conversamos.

Paramos de ter medo e simplesmente nos beijamos em pleno Largo dos Guimarães. Quem se incomodasse que se fodesse.

Descemos até a Glória a pé conversando, conversando, conversando.

Enquanto eu demonstrava meu fascínio pelos prédios antigos, pelas vistas surpreendentes da Baía de Guanabara que apareciam entre uma curva ou outra, ou quando falava dos lugares que conhecia, ele disse, impressionado:

"Você é apaixonado pelo Rio de Janeiro que nem eu!"

E nos beijamos em plena ladeira, em plena madrugada.

Quando comemos na padaria 24h um lanche bem podreira, não me dei conta de que passava meus últimos minutos com ele. Fomos ao Banco 24h da rua das Laranjeiras para eu tirar dinheiro para voltar de táxi. Miró estava passando mal e valia a pena chegar logo em casa.

Então ele olhou no meu olho e disse.

"Então é aqui que nos despedimos. Vê se te cuida. Me escreve."

E me deu um selinho em plena rua das Laranjeiras. Entrou no táxi e fiquei meio atônito olhando-o ir.

Mais uma vez percebi que estou vivo.

Estou vivo.

Estou vivo.

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