quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia dos professores. Feriado para alguém como eu. Entretanto, atualmente levo uma vida que jamais imaginei. Nunca, em tempo algum, trabalhei tanto, tanto, tanto. Daquele jeito de filme americano em que o pai não vai aos eventos de escola do filho e o menino fica lá com aquela cara de triste, enquanto o progenitor faz uma terrível expressão de culpa. Assim me sinto em relação ao cachorro.

Sim, tenho um cachorro: é lindo, é amoroso, é meigo, é carente, é destruidor. Deixou em frangalhos um livro da biblioteca da escola onde trabalho. Não controlei a fúria e agredi-o. Papai fez bem em aumentar meu mal estar com toda a situação ao afirmar pelo telefone:

"Ele não tem culpa: não raciocina. E já deve ser bem difícil para o bicho ficar tanto tempo sozinho. Não está acostumado. Pelo amor de Deus... Depois você fica aí pra baixo, etc., etc., etc."

De fato. Sinto-me mal com toda a situação. Antes não estava sozinho. Nem eu, nem o cão. Tínhamos um companheiro. Um companheiro cheio de questões que se meteram nas minhas próprias questões e aí todos ficaram ferrados, menos o cachorro que, por alguma bênção da natureza (espero aprender com ele), fica satisfeito com a vida, contanto que haja comida, água, poltronas confortáveis, passeios duas vezes ao dia e companhia. Não chego a estar solteiro, mas estou sozinho tocando a vida na Glória.

Sim, moro na Glória: é decadente, é sinistra, é assustadora, é longe, é barata, é Zona Sul. Dá pra ir andando a pé para o Largo do Machado e tem alguma coisa naquele lugar que me deixa feliz. Sei lá o que é.

E volto ao feriado. Para alguém que, como eu, só trabalha, trabalha, trabalha, isso serve para: ir ao banco, ir a todos os médicos possíveis, ir à farmácia.

Parece programa de índio (sem vergonha de não ser politicamente correto), mas estou contente com o fim do dia. Faz tempo que não me dedico a mim, que não faço o que quero, que não fico bem na minha solidão. Deu-me até vontade de ver filme e de escrever, veja só!