quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Em círculos

Ao viajar para o reveillón na cidade dos meus pais e reencontrar muitos membros da minha família, cheguei à conclusão de que as pessoas dificilmente mudam. Evoluem aqui, envelhecem ali, ganham dinheiro lá, separam-se acólá, mas basicamente são sempre as mesmas histórias...

Como a tia que sempre tem grandes conflitos com todos que estão muito próximos, ou como a prima mentirosa que só valoriza dinheiro, ou como a outra tia que tem filhos horríveis e marido terrível e que só lamenta sobre todos e sobre como abusam dela e nunca percebe que isso ocorre porque os ama tão incondicionalmente que é incapaz de dar a todos qualquer limite.

Sempre me sinto muito esnobe e metido quando observo e avalio tão criticamente os outros.

Mas a verdade é que sou os outros. Ao criticá-los, só vejo o que está em mim. Também não mudo, vivo nas mesmas histórias. Separo-me, namoro, fico solteiro, faço mestrado, ganho mal, ganho bem... Circunstâncias superficiais se pensar que

continuo namorando pessoas que abusam, terminando com a sensação de que fui um idiota;

continuo, quando sozinho, tendo um comportamento compulsivo e auto-destrutivo com sexo;

continuo deixando tudo que se refere a trabalho para última hora, ficando sempre na corda bamba;

continuo não guardando dinheiro, não importa a renda.

Queria entender por que é tão difícil sair dos próprios padrões... Mais do que isso: gostaria de ter a fórmula de fazer diferente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Susto

Uma das coisas de que mais sinto falta de morar em Copa é o Parcão. Um parque de cachorros que fica na Lagoa, super perto da minha antiga casa. É verdade que o Aterro do Flamengo fica do outro lado da rua, mas é diferente... Descobri isso no meu primeiro passeio por lá com o Eugênio. Quando o soltei, ele foi direto para um prato de macumba e comeu ovo. Ai que tristeza! Há quantos dias aquele ovo cozido estava ali não sei. Nojo!

Em frente ao meu prédio está aquela praça que tem o cabeção do Getúlio. Um horror. O cabeção, não a praça, que é bonitinha. Ela é casa de alguns mendigos que considero meus vizinhos. Temos uma boa convivência... Pelo menos é hipócrita de minha parte. Afinal, nunca vou perdoá-los por cagarem na praça. Isso é pessoal: advinha o que meu belo cão de raça aristocrática fez na primeira oportunidade?

Pois é. Só de lembrar fico de estômago embrulhado.

Como ficou definido o fato de que ele ficaria sozinho enquanto trabalho e como esse tempo diário não é curto, decidi ter uma cadela: a Olívia. Uma pestinha que amo mais e mais a cada merda que faz (e são muitas).

Ontem resolvi soltar os dois num cercadinho para crianças que tem no parque. À princípio foi meio frustrante, pois eles não correram desesperados, como eu esperava... Depois foi uma das experiências mais apavorantes dos meus últimos meses.

Enquanto eu segurava a filhote para colocá-la na coleira, Eugênio saiu correndo, brincando, na calçada.

Em direção à rua. À movimentada Praia do Flamengo.

...

Dei aquele grito de pavor com toda força dos meus pulmões que sempre esqueço ser capaz de dar.

EUGÊNIO!!

Depois, num momento de cabeça fria, abaixei-me, e comecei a chamá-lo batendo palmas. Deu certo: a brincadeira de correr desesperadamente atrás do dono foi aceita. Peguei-o pela pata, ele chorou baixinho, não me importei. Pus o enforcador e fiquei parado no meio da praça, às 23h.

Olhei para os lados. Ninguém testemunhara meu desespero. Ninguém estava perto. Ninguém.

Ninguém.

E eu chorei. Chorei por quase ter perdido meu cão. Chorei pela consciência impactante da minha solidão. Em plena Glória. Em pleno prédio de três blocos lotados de apartamentos em que poucos moram sozinhos como eu. Em pleno amadurecimento dos meus 31 anos.

E pensei na relação fracassada e cheia de feridas abertas. Nos amigos que perdi sei lá por que. Nas pessoas bacanas que conheço, mas que não consigo deixar entrar na minha vida. Na minha família. Nas minhas transas ocasionais cheias de prazer e de mais solidão.

E voltei pra casa. Limpei os dois. Alimentei os dois. Amei os dois.

E continuei a chorar.