quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Eu narrava à Fernanda e ao Ugo a fala da analista: "Você sempre fala da Fernanda, de Fernando, dos alunos, dos colegas de trabalho, dos seus pais... Um grupo que não varia muito, não é? Eu tenho a sensação de que poucas pessoas circulam na sua vida, sabe? Por que será, Wally? Será que não é por que você tem medo de não ser aceito?"

"Essa sua psicóloga só fala o óbvio, hein?!", Fernanda disse com a cara de entediada. Em seguida, um pouco interessada: "Ora, eu vivo o mesmo e não sofri falta de aceitação como você." Em poucos segundos, completamente apaixonada pelo assunto: "Minha vida gira em torno do Fer, de você e de uns poucos gatos pingados! Não pode ser por questão de gênero, senão eu não poderia ser assim!"

Estávamos os três na salinha de café da coordenação. Agora, rememorando isso, fico pensando no quanto essa conversa era inusitada. Três modestos seres que reconhecem a condição de falhos muito comprometidos a se entender e a tentar, de algum modo, ser mais feliz. Dávamos uma leve escapulida de alguma reunião chatérrima e super cheia de agressões veladas.

"Olha, a minha esposa é como vocês e isso, em algum momento, me sufocou muito, pois eu sentia que tinha muita responsabilidade, afinal, eu era quase a única pessoa da vida dela." Enquanto eu e Fernanda ainda estávamos meio atônitos, sem argumentos para retrucar a afirmativa do outro, mais algum professor fugitivo aparecia com a desculpa do café e a gente teve que desconversar muito naturalmente, afinal somos mestres, propondo algum frívolo assunto, algo como:

"Muito desagradável você convidar alguém para os Vigilantes do peso, não acha?"

Tenho pensado muito nisso de ter poucas pessoas ultimamente. Acho que tive alguma resposta hoje.

Um ex aluno tinha passado várias horas conosco e, enquanto levávamos os três que nos visitavam ao ponto de ônibus, ele disse para mim e para minha amiga:

"Eu tenho muita dificuldade em me despedir de vocês. Eu gosto muito de estar perto dos dois."

Não esbocei reação. Na verdade, tive que controlar um olhar de desdém. Entenda bem, não desprezava os sentimentos do menino. Simplesmente lutava para não acreditar neles. Afinal, não poderiam ser reais. Pelo menos no que se referiam a mim.

É assim a minha loucura. E acho que dessa forma afasto as pessoas. Elas devem sacar o meu desdém-de-proteção-por-insegurança e não mais me procurar. E eu, orgulhoso, finjo jamais precisar delas.

Amanhã vou puxar algum contato. Mandar alguma mensagem, mostrar que não desdenho das coisas bonitas que me foram ditas de coração.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Quando disse ao meu pai que me senti mal com o que houve no fim do ano passado com o meu irmão e a mulher dele, que aquilo me fazia lembrar de coisas ruins de nossa família, ele disse:

"Mas nunca vivemos nada parecido com aquilo!"

Que falta de reflexão, cara! Ora, as pessoas gritando, ofendendo umas às outras, agredindo fisicamente umas às outras, humilhando umas às outras... Essas coisas nunca aconteceram? Quando questionei sobre mamãe esbofetear a menina, ele disse:

"Ela estava desesperada. A garota dizendo desaforos. Perdeu a cabeça."

Eu acho incrível como minha mãe tem justificativa para tudo. Ela pode tudo.

O pior é imaginar que eles só fazem é separar a família inteira. Em vez de centralizar, afastam todos.

E estamos em mais um fevereiro em que eu me arrasto sem dinheiro algum. Todo fim de ano a escola paga os salários de dezembro, janeiro, as férias, o décimo-terceiro e sempre chego nesta época completamente duro. Não sei administrar, não sei lidar com um monte de dinheiro na conta. Sempre me fodo.

Justamente também quando me dou conta de que estou quase sozinho no mundo. Devia me organizar minimamente para não precisar de ninguém.

Estou tão decepcionado comigo, com meus pais, com o jeito como os cães são tratados, com o transporte público, com o trabalho, com o preço das coisas... Sei lá, às vezes vou vivendo só porque é o que tem que ser feito. Não vejo muito sentido nas coisas.

Esse blog é muito fundo do poço.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Anteontem fui dormir super tarde para reorganizar as coisas depois de um fim de semana refugiado na casa da Fernanda por conta da dedetização. Lavei três máquinas de roupas, ajeitei a cadela que resgatei da rua na área de serviço por conta do cio que surgiu sexta, exato dia em que finalmente tinha conseguido marcar a castração na prefeitura.

Ontem acordei super cedo para voltar à academia, cuidar de todos os bichos e ir trabalhar. Passei o dia na escola, fui fazer a prova da PUC, cheguei umas 22h30min.

Qual não foi a minha surpresa ao ver que a obra do prédio atrás da casinha mexeu no muro. Sujou a roupa inteira de poeira, desprendeu trechos da cerca-faca colocada para proteger a propriedade de invasões. A visão do artefato ameaçador de metal pendendo a meio metro do chão foi desesperadora: e se tivesse caído e a cadela se machucado?

Os amigos não podem ficar com ela. Não posso criticá-los, pois estão certos: quem inventou de catar da rua fui eu, logo cabe a mim lidar com toda a confusão.

Hoje falei com os responsáveis pela construção do prédio. Resolveram o perigo.

Mas estou cansado, sabe? Vou chegar tarde e vai ter um monte de coisas para se fazer em casa. Tenho dormido pouco.

Estou triste. A sensação é a de que fazer o bem não vale a pena. Minha vida não estaria tão complicada se eu não tivesse recolhido a Dulce. Estaria dormindo bem, com mais dinheiro e tranquilidade.

E ela estaria morta.

Essa conclusão me enoja.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"Cuida do jardim, cuida dos seus cachorros. Por isso que você está assim. Fica abrindo margem para pensar besteira. Muita coisa depende de você para seu astral estar assim. Você é uma pessoa agregadora, de quem todos querem estar perto. Não fica nessa insegurança por que levou uma bronca que em parte foi correta, mas que em parte também não teve fundamento. Você ficou puto por ter vacilado e por ouvir o que merecia. Normal, não tem que ficar achando que todo mundo te persegue por isso. Você leva gente para sua casa para fazer sexo e eu acho que não se protege da energia que entra aí. Seus cachorros são umas anteninhas que ficam captando essas coisas. Pensa em Deus, pensa em ser Cristão. Isso só faz bem."

Palavras da Fernanda hoje pelo telefone. Estava precisando ouvir coisas assim por que acho que entrei numa crise.

Não sei se está sendo bom lembrar da minha infância. Às vezes me pego agindo e pensando exatamente como naquela época. Mas preciso resolver isso dentro de mim, não é?

Arrumei toda a casa, fiz um agrado nos cachorros, troquei os lençóis, tomei banho, passei o hidratante de pepino da L'occitane que descobri que ainda não tinha acabado. Nesse meio tempo, não pude deixar de perceber que Miró me seguia cansado pela casa enquanto eu inventava alguma coisa a mais para arrumar antes de dormir. Nitidamente estava cansado, mas mesmo assim não relaxava por que sabia que em breve me deitaria e só então ele também poderia fazer o mesmo. Sem questionar, sem reclamar, simplesmente por que era isso que seus instintos lhe diziam.

Fiz-lhe um carinho na cabeça, apressei-me, trouxe o laptop para escrever aqui na cama, deixei que descansasse.

E agradeci a Deus.

Obrigado.