terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ele voltou aqui. Foi como se a gente se conhecesse de novo. Como agir naturalmente com alguém que esteve no meu pensamento todos os dias do ano que passou? Sim, fazia um ano e a gente se reencontrou exatamente no mesmo 27 de dezembro, mas tomei o cuidado de fingir que não sabia. "Não deixe tão claro que você está completamente apaixonado", é o que todos aconselham sempre: "grande parte da sedução está na conquista".

Ele chegou meio cínico, safado. Contando vantagens sexuais europeias. Eu só falei do Alexandre, mas não contei do final meio traumático e medroso que rolou. Sinto saudades do Alexandre até hoje. Até mesmo quando a gente raramente se vê. Nestes momentos, eu também sinto saudades. Mas enquanto eu pensava nisso, um quase namorado italiano foi mencionado. Aí o chopp começou a bater bad e eu fiquei triste por não ter havido nenhum quase namorado no ano que passou. Em grande parte porque ninguém é tão interessante quanto ele e aqueles cabelos curtinhos e meio crespos, a boca fina e o olhar safado, a voz rouca que me faz ter vontade de agora abraçar o vazio de tanta ternura que me causa. Eu não queria nem quero mais ninguém. Como ele não?

"Você está namorando?" Ele perguntou. E eu respondi doído:

"Não". Não disse, nem poderia dizer ("Não deixe tão claro que você está completamente apaixonado"): "Eu só quero você".

"Este ano foi bem difícil para mim. Eu me sinto isolado e triste e não sei como sair disso."

Daí ele manteve o cinismo e falou:

"Pois você não me engana com isso de isolamento e cães e jardim e Jacarepaguá. No fundo eu e você sabemos que você é um puto devasso."

E eu sabia que era verdade e que também não era. Acho que não sei mais ser puto. Só que ainda tento. É que não me sai da cabeça o Alexandre chegando aqui em casa com aquela cara dizendo "Tenho uma coisa horrível para dizer e não sei como". E depois três meses de agonia e medo e depois o alívio. Ah, como eu queria que o papo fosse outro, que ele me dissesse que não parou de pensar em mim no ano que passou e eu, aliviado, diria: "Eu também! que bom que você está aqui". Mas entendi a deixa e falei logo:

"Quero te dar um beijo aqui e agora".

E ele fez aquele sorriso macio de que me lembro de antes, autorizando, e eu o beijei. Mas ainda era desconfortável, apesar de bom.

E foram mais umas quatro rodadas de chopp e eu falei de Avenida Brasil, que foi incrível, e ele ouvia extasiado de inveja de eu morar no Brasil, apesar de Londres ser o máximo. E ele mais uma vez falou cansado das amigas lésbicas que ele ama, mas não quer mais nenhuma e eu falei dos Fernandos e do Gustavo. Não consegui falar da Escola. Ela ainda me doía, como voltou a doer agora.

Decidimos sair dali daquele bar da Farme e fomos à praia nos beijar. Havia dois caras na areia que cismei que estavam olhando para a gente e eu comecei a ficar tenso enquanto ele tocava no meio das minhas pernas procurando o volume que não surgia, falando:

"Quero te dar, cara!"

Isso só me deixou mais nervoso e tive que dizer: "Meu pau não tá subindo. Não tô relaxado aqui." Eu também não imaginei transar ali na areia super iluminada de Ipanema na frente de dois caras mal-encarados na impressão que tive de relance bebum.

Ele, então, respondeu aquela frase que definitivamente faz qualquer pênis adormecer mais e mais:

"Sem problemas! Fica tranquilo."

Saímos da areia, fomos tomar um côco e, entre um papo e outro, perguntei:

"O que você tá a fim de fazer?"

Daí que ele respondeu:

"Vamos marcar de nos ver outro dia?"

Respondi "Claro" quase chorando com a certeza de que um ano da minha vida tinha acabado de ir pelo ralo e que não teria mais ele na minha cabeça como possibilidade de fantasia amorosa. A certeza de que acabou.

Só que não.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Estou chorando há tantas horas. De saudade, de desilusão, de frustração com a vida.

Acho que finalmente começo a entender as pessoas amargas. Tem uma hora em que é muito difícil não se tornar uma.

Eu não gosto da minha vida. Não gostei da minha infância, não gostei da minha juventude. Se eu fizer um esforço, posso contar nos dedos os anos bons.

Eu tinha ilusão de que este seria um bom ano e o que vem, melhor. Acabou. Não há porque ter esperança. Estou condenado: essa é a minha vida. Aguenta.