quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Minha sobrinha desenvolveu uma doença ruim este ano e fico de longe assistindo a todo seu contexto extremamente desapontado em ver que a próxima geração da família está tão desamparada emocionalmente. Relações com os pais não são simples. Este ano percebi coisas que carrego comigo que me fazem mal relacionadas à que estabeleci com os meus na infância. Mas houve uma relação: eles sempre estiveram lá todos os dias para o melhor ou para o pior. Por isso é duro enxergar que a menina já percebeu que não é prioridade para os seus.

Isso deve doer pra caralho.

Cada vez mais entendo que os sentimentos humanos são extremamente complexos, requerem muita atenção.

Será que é por isso que tenho preferido me relacionar com meus cães?

Não. É que as pessoas, além de terem sentimentos complexos que requerem muita atenção, são terrivelmente insensíveis às necessidades das outras. No fim, todos têm traumas causados pelos outros, porém fazem o mesmo com quem quer que se relacionem.

E viva os cães!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Quando o principal tema da campanha dos dois candidatos à presidência gira em torno de conseguir conquistar os votos da parte mais conservadora da nossa sociedade, eu fico pensando que de fato as mudanças que sonho não ocorrerão para minha geração.

Vou fazer como o Frei Betto: vou me conformar e assumir dignamente que vim para ser semente.

Amiga cinquentona

Eu nunca pensei que fosse um dia ter uma amiga de geração tão diferente da minha, com idade para ser minha mãe, mas eu tenho!

Quando a gente é muito jovem e muito ligado a ser jovem, acha impossível conseguir trocar com alguém vinte anos mais velho, mas com a Mônica eu consigo. E não sou mais jovem, nem tão ligado a ser jovem.

Na verdade, a maturidade tem me interessado deveras.

Eu a conheci há pouco mais de três anos, numa viagem a Paraty que ela coordenava. Foi admiração à primeira vista.

Desde o ano passado trabalhamos juntos e bem próximos. E como é bom tê-la por perto! Como me acalma.

Além de cinquentona, ela é crente. Eu nunca pensei que fosse um dia ter uma amiga crente, mas eu tenho!

E é muito engraçado quando ela me fala dos sinais que Deus lhe dá, mas eu não rio de galhofa ou de descrença, pois sei que tem verdade no que ela fala, eu rio porque acho bonito.

É bonito ter amigos.
Deu vontade de escrever, mas antes resolvi dar uma lida em posts antigos e fiquei chocado com o quanto usei este blog para registrar o martírio que foi a minha relação com meu ex. Coisas tipo esse post me fizeram lembrar de coisas que já tinha esquecido. O mais engraçado é me dar conta de que faz exatamente três anos!

Ontem o maldito me ligou três vezes. tem hora que assombração aparece. Muito engraçado porque faz um tempo que disse que só conversaria com ele se fosse por email e ele simplesmente ignora. Liga, manda mensagens e eu não atendo ou respondo.

Mas é chato saber que ele ainda me incomoda. Hoje estava conversando com a Mônica que eu gostaria de já estar em outra, talvez essas coisas não me incomodassem tanto... Ok, é chato, é deprimente: eu era perdidamente apaixonado pelo cara, depois a gente vai viver junto e a minha vida vira literalmente um inferno. Tem o lance de ele não ter qualquer ética ou moral e tudo o mais, mas tem também eu escolhendo viver isso sendo avisado por todos e pelo meu bom senso que iria quebrar a cara.

Sei lá. Mas vendo esses posts antigos também me dei conta de que eu vivia reclamando por andar em círculos. Acho que finalmente desviei do processo giratório e me encaminhei para alguma linha reta cujo o destino ainda não sei qual será, mas aparenta ser bacana.

Parei de gastar. Parei de tentar manter um padrão de vida que não posso dar conta de bancar. E isso nem está sendo dolorido, na verdade tenho bastante vergonha de só ter começado a agir assim aos 32 anos e depois de muita cacetada causada pela minha própria inconsequência.

Consegui parar de tratar o sexo como qualquer coisa. Na cultura gay rapidamente a gente aprende a ter prazer desvinculado de compromissos, intimidade, culpa, etc. Só que tem uma hora em que parece que não tem mais volta: a gente começa a se envolver com quaisquer pessoas, rola uma amargura por se pensar que a putaria será fator eterno na vida e, preciso confessar, comecei a me sentir desvalorizado. Estou vivendo um certo celibato há quase um mês e não tenho sentido vontade de abrir mão dele para trepar com qualquer um. Considero isso um avanço.

E faz um ano que me separei. E faz um ano que, pela primeira vez na vida, moro sozinho.

E, apesar de todos os problemas, esse tem sido um ano de paz. E que sentimento bom, cara! Na boa.

Talvez seja por isso que me surpreenda ler posts de 2007. Eu pensava que era feliz, e pior: pensava que a paixão inconsequente me daria satisfação. Como quebrei a cara.

Agora sei que finalmente estou amadurecendo. E como é bom!

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eu odeio fazer análise

Eu odeio fazer análise. Antes de começar, eu achava que seria super legal. Sinto que as pessoas, quando me ouvem dizer isso, se decepcionam, mas sinceramente eu desconfio de gente que ADORA ir ao psicólogo.

Sair de casa, pagar uma fortuna para sentar e admitir tudo sobre minha pessoa que desesperadamente tento esconder de mim mesmo, falar de coisas que não quero lembrar normalmente, encarar o fato de que tudo o que quis esquecer da minha vida continua aparecendo em mim das maneiras mais inesperadas possíveis: isso é análise. E obviamente é útil, mas dizer que adoro? NÃO.

É muito difícil admitir, por exemplo, que, mesmo após desenvolver meu intelecto, mesmo sendo uma pessoa extremamente crítica, minha baixa auto estima me leva a desvalorizar quem realmente sou ao ponto de eu gastar uma fortuna com bobagens que não poderia ter só por que eu tenho vergonha de não poder. Isso é tão infantil... E eu não acredito que demorei uns 12 anos, um monte de dívidas e horas e horas de desconforto no consultório para me ligar que não é para bancar a aparência que sonho que dinheiro serve!

Eu tenho certeza de que estou iniciando um processo de mudança na vida que será muito frutífero por causa da análise, mas, baby, é como escrever dissertação de mestrado, fazer dieta ou prestar algum concurso público: não é uma experiência agradável, apesar dos bons resultados.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Viajei a trabalho com os alunos e recebi tantos elogios sobre o comportamento deles...

Educação é coisa rara hoje em dia. Surpreende.

Mas o bom é que hoje é segunda-feira e voltei à minha rotina de segurança. Todo mundo fala mal dela: a rotina. Que besteira... Virou lugar-comum essa queixa e acho que as pessoas nem se dão conta do que falam.

Estou muito feliz por voltar a acordar cedo, por ver os mesmos alunos todos os dias, por tentar equilibrar minha alimentação, minhas finanças e meu desejo sexual novamente. Estou tranquilo.

Está chovendo lá fora neste exato momento. Abri a janela para ver e deixar o cheiro de terra molhada entrar um pouco em casa. Deus me ajude a nunca mais ter que morar em apartamento novamente.

Estou mais calmo com o monte de problemas que estou enfrentando. Vai dar tudo certo, é só não ficar ansioso por querer que tudo passe logo. Estou fazendo a minha parte e acho que, apesar dos escorregões, estou até indo bem.

Esse post não tem coerência nem tema, acho. E precisa?

Ouvindo o disco solo do Marcelo Camelo. Se estou triste, choro com ele. Se estou alegre, sorrio.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

I want to break free

Do nada apareceu online um colombiano com quem eu transava de vez em quando. Era aquela época de finalmente ter saído da casa dos meus pais e o meu esporte favorito era fornicar por aí. Fazia muito tempo que não cruzava com ele. A última vez que o vi acredito que foi no Galeria. Ele me deu um baita mole, mas obviamente eu estava completamente apaixonado e cego por algum dos idiotas que foram tema de posts sofridos de rejeição e não dei bola. Lembro como se fosse hoje a cara do amigo que estava comigo nesse dia, acho que era o Cramus. Ele ficou chocado comigo por que definitivamente aquele colombiano não era de se jogar fora. O cara é lindo.

Resolvi puxar papo com ele. Em poucos minutos sou informado de que está na Espanha.

"A crise econômica não está te afetando aí?"

"Muito! Mas no Brasil eu não poderia casar."

Pois é. Esse assunto vai e vem na minha cabeça...

Casou com um húngaro mais lindo de morrer ainda. Perguntei se houve celebração. Ele disse que alugou um barco que foi de Praga a algum outro lugar muito chique cujo nome não lembro, chamou poucos amigos, ficou desidratado de calor e choro. Disse que em parte foi embora do Brasil por, depois de 10 anos, não conseguir ter qualquer relacionamento e de não conhecer qualquer casal comprometido um com o outro.

Não soube o que dizer. A maioria dos casais gays que conheci cuja relação era duradoura transaram juntos comigo e, apesar de me divertir, eu achava isso um tanto deprimente. Para eles, claro... Se bem que para mim também, pensei agora: ia para casa sozinho.

Acho que o Brasil não é um bom lugar para ser gay. Definitivamente.

No meio dessa conversa, recebo uma mensagem do meu ex. Quer me ver. Diz que o conheci no momento mais complicado de sua vida e gostaria que eu estivesse junto dele agora que finalmente encontrou um caminho. Não duvido da sinceridade, mas uma lista de coisas muito ruins apareceu na minha cabeça. Acho que já enumerei a maioria aqui e simplesmente não consigo querer revê-lo. Para o que quer que seja. Dessa história só quero cuidar das feridas que, chorando agora há pouco, percebi que não cicatrizaram.

sábado, 24 de julho de 2010

O ex do meu ex tinha uma expressão que eu adorava ouvir. Tudo o que ele achava um absurdo, usava o ano em que estávamos para enfatizar seu estranhamento:

"Roupa que tem que lavar à mão em 2008? Inadimissível!"

"Em 2009 alguém fazer festa de noivado?!"

Esse cara era muito interessante. Não faz parte da minha vida, mas não sinto saudades, não. Muita gente já passou e não retomaria relações. Não sei se isso é bom ou ruim, mas deixo o passado no passado.

Mas esse jeito sempre me vem à cabeça. E tem vindo muito ultimamente. Outro dia o Manhattan connection fazia uma enquete que perguntava por que a Argentina aprovou o casamento gay antes de nós.

De fato. Não tinha me dado conta disso.

Sabe o que eu acho? Que a culpa é de nós, gays, mesmo. Estou cansado de ver gente bem colocada profissionalmente, obviamente gay, respeitada por todos com o discurso:

"Eu não fico falando pra todo mundo que sou gay. Ninguém tem que saber com quem eu durmo."

Ou realmente vejo gente fingindo ser hetero. Ou tentando ser hetero. Tem gente que me fala: "Mas por que que tem que ser tão fechado? O cara não pode simplesmente amar?!"

Vai pra porra. Hetero não faz essas coisas.

O que falta é o pessoal se assumir. Sair do armário mesmo. Aqui no Brasil a gente não faz isso. Vive levando a vida, sendo claramente gay e não falando disso. Sendo eternamente grato por finalmente começar a ter alguns direitos. Prezando pela discrição e tentando uma masculinidade que não dá conta. Vai todo mundo pro caralho!

Aí eu penso:

Em 2010 e os gays ainda relutando em dizer pra todo mundo o que é? Porra, vivo sendo convidado para casamentos. O que é isso senão a celebração religiosa e festiva de duas pessoas que publicamente assumiram que vão passar a vida inteira fodendo e tendo filhos? Será que é querer muito viver num mundo em que eu possa expressar meu afeto e sexualidade naturalmente também?

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nunca levei a sério esses mensageiros do facebook até que meu ex resolveu me chamar para conversar por lá. Achei que não haveria mal, apesar de um certo desconforto. Tenho que manter boas relações pois ainda há questões pendentes.

De repente ele diz que tem saudades e que quer me ver um dia.

"Não acho uma boa ideia", respondo.

"Você tem raiva de mim?", ele pergunta.

"Sim, um pouco".

Como não ter? Lembro de tudo. Da dificuldade em assumir relação, dos outros caras, das baladas imperdíveis, das pílulas de êxtase, da falta de grana.

Lembro especialmente da minha capacidade de perder a razão e permitir que uma história assim acontecesse. Acho que é de mim que tenho mais raiva.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Pet creche

Os Fernandos foram para a Europa. Não tinham com quem deixar os pássaros: uma calopsita (o Manolo) e um papagaio (o Gaio).

Mônica foi para a Argentina. Não tinha com quem deixar a cadela vira-lata que lhe dei no início do ano, a Molly.

Eu permaneci em Jacarepaguá. Não tinha dinheiro para viajar, uma vez que sou comprador-gastador compulsivo e vivo zerado sem entender direito por que. Fiquei com os bichos todos.

Os pássaros são tranquilos. Tenho um carinho especial pelo Gaio. Ele me lembra o papagaio que meu pai teve em Manaus e que morreu nas minhas mãos por envenenamento acidental. Ele fica solto na janela da casinha, pendurando-se na jabuticabeira. Hoje percebi que ele estava molhando a cabeça no minúsculo pote de água que encho todos os dias. Peguei um de plástico maior e enchi. O bicho tomou um belo de um banho. Fiquei até com inveja de tanta felicidade.

A Molly é uma fofa, só que sua dona é uma das pessoas mais complacentes com as próprias falhas que conheço. Ela me disse tranquilamente que nesses cinco meses que está com a cadela não teve tempo de ensiná-la hábitos de higiene. Ou seja, a pestina caga e mija onde dá na telha. Tem que ser muito do bem para ser tão amada por mim, a Mônica. Estou cansado de tentar ensinar a cadela e de limpar sua sujeira. Malditas sejam Mônica e Molly, mesmo amando-as profundamente.

Mas estou contente com isso. Cheio de companhia não humana, observando as excentricidades dos animais de estimação. Como é gostoso.

Sabe que estou muito feliz aqui em JPA? Estou me sentindo aquelas pessoas classe-média-alta que largam a Zona Sul e compram sítios por aqui, para viver mais perto da natureza. Doce ilusão. Sou somente um maluco incapaz de conter os impulsos gastadores e emocionais que precisou se esconder por aqui para encontrar um pouco de paz.

Acho que apesar de tudo, estou encontrando-a.

Que bom.

Seu Amadeu

A Fernanda deixou uma grana para eu colocar grama antes de viajar.

"Você vai ver o que é morar em uma casa com quintal gramado", ela disse.

O cara de quem encomendei a grama disse:

"Tem que ter sol. Senão ela morre."

Decidi, então, chamar o seu Amadeu,o faz tudo aqui da vila, para podar as árvores para abrir espaço para o sol. Aqui tem um pé de graviola e uma jabuticabeira, além de diversas plantas ornamentais.

Ao se deparar com o tamanho das árvores, ele pediu uma escada. Atendi prontamente à solicitação, entretanto, a ferramenta seria pequena para fazer o serviço.

"Seu Ivo não está aí?", ele perguntou, provavelmente pensando em pedir-lhe a escada emprestada. "Não", respondi. Seu Ivo é o pai da Fernanda e mora aqui em frente. "Paciência", pensei, "Não vai dar pra fazero serviço direito, merda", e fui cuidar das coisas da casa. Lavar, estender roupa, passar um café... De repente, ouvi um chamado do seu Amadeu. Fui ver o que era.

"Nesse tamanho tá boa a poda?"

Ele estava montado no pé de graviola, a quase 2,5m do chão.

"Está ótimo", respondi assustado.

Depois ele pediu sacos de lixo para recolher as folhas e galhos caídos. Começou a puxar conversa comigo. Adoro papo de gente simples e mais velha. Não aguentei e perguntei sua idade.

"7-8", ele disse, falando os dois números em separado, acho que para enfatizar.

7-8. 7-8. Eu tenho 3-2 e jamais conseguiria montar numa árvore. Agora ele está em cima da jabuticabeira e não consigo saber se estou mais com medo de ele cair de lá ou com inveja de sua disposição e simplicidade.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Eu nunca, apesar de fazer análise, realmente acreditei naquelas coisas de traumas de infância e de repetir comportamentos a partir deles. Nunca até ontem.

Vou ao consultório há quase 3 anos e somente ontem me dei conta de que todas as minhas relações neuróticas são muito semelhantes a uma que estabeleci quando criança. Vira e mexe me pego chorando. Eu acho que nunca fiz isso de chorar, só segui em frente tentando ser forte para esquecer.

Só que traumas devem ser como cicatrizes: marcas que nunca de fato saem de nós. Tenho umas no cotovelo esquerdo que de vez em quando me pego a olhar e lembrar a maneira ridícula como elas apareceram.

A psicóloga enfatizou muito nesses anos que era importante saber o porquê de tantos comportamentos autodestrutivos. Semana que vem quero começar, já que finalmente temos a resposta, perguntando:

"E agora, que porra eu faço com isso?"

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Casamentos

Fui convidado para o casamento de uma colega de trabalho para esses dias. Sempre tive implicância com esse tipo de comemoração, afinal a maioria das pessoas fica extremamente constrangida com a demonstração de afeto gay em público, enquanto celebra a união heterossexual com sacramento religioso e grandes festas.

Outro dia saquei que sou de uma geração que provavelmente não verá o casamento homossexual no Brasil. E eu falo casamento mesmo, porque não quero menos do que os outros.

...

Bom, chamou-me atenção o fato de esse convite ser individual. Parece que não é muito educado convidar um solteiro sem acompanhante. Entendo a economia... Casar não é barato e não tenho amigo que seja rico, mas lembrei que todos os convites de casamento que recebi enquanto morava com meu ex-namorado incluíam o nome dele.

Ironicamente ele quase nunca quis ir comigo. Tenho certeza de que tinha vergonha de se apresentar em público como casal. Ele era um imbecil, mas quem pode criticá-lo por isso?

Cara, como me dói viver num mundo assim. Porra!

Acho que ironia maior ainda é que a última vez que nos vimos como namorados foi numa festa dessas. Brigamos o tempo todo por todo o tempo que passamos juntos.

Será que existe algum jeito de parar de sentir tanta revolta e amargura? Desculpe o tom excessivamente dramático, mas não tenho outro para dizer sobre as coisas que estão agora aqui dentro. Nunca estive tão solitário e, ao mesmo tempo, tão desenganado com tudo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Aí estão as razões da minha síndrome de ermitão. Muito bom voltar pra casa.




quinta-feira, 27 de maio de 2010

Outro dia a Fernanda veio aqui me buscar para algum lugar enquanto eu ouvia Ventura. Fazia mais de ano que não ouvia. Ela chegou justamente na hora em que tocava "De onde vem a calma?". É uma espécie de hino para quando estou me sentindo muito solitário, saca?

"Olha esse sorriso tão indeciso
Esta se exibindo pra solidão"

Eu me imagino realmente me exibindo pra solidão.

Me dá uma vontade de chorar...

Finalmente o preconceito que ela tinha contra Los Hermanos passou no mesmo instante. O chato é que carregou meu CD e nem dá sinal de devolver.

Eu ando chorando bastante com músicas.

No momento estou ouvindo "Mais tarde" novamente, do disco solo do Camelo. Olha só o que ele diz:

"acho normal ver a vida feito faz o mar num grão de areia"

Tô com essa comparação na cabeça o dia inteiro.

"é de se entregar a sorte e todo mundo vai saber em ver
que o vai e vem pode ser eterno
pra ver quem manda
acho que não vai dar tô cansado demais
vou ver a vida a pé
acho normal tá no mundo feito faz o mar num grão de areia"

Que bonito isso. Não sai da cabeça.

De repente me deu uma saudade louca de Copacabana à noite. Queria estar lá do jeito que vivo agora: sozinho.
Fazia muito tempo que não tinha um domingo de paz. Leia-se por domingo de paz aquele em que eu basicamente fique em casa olhando o dia passar sendo seguido por toda a parte pelos cachorros.

Há dois domingos, aconteceu o dia das mães e fui ver a minha, obviamente. No da semana passada, uma grande amiga fez festa de aniversário que rendeu o final da manhã e a tarde inteira. Esse último era véspera do meu aniversário e a Fernanda resolveu chamar as pessoas para uma reuniãozinha aqui em casa.

Confesso que nos últimos dias andava triste da vida. Não via razão para comemorações. Sinto saudades da ingenuidade de alguns anos. A beleza das primeiras idades é a crença de que faremos tudo certo. Mesmo que tudo esteja errado. Entrar numa faculdade de Humanas ou Letras é desenvolver utopias de mundos perfeitos. Eu particularmente achava que dava conta: usar cinto de segurança, não fumar, ter uma boa relação com álcool e drogas, amar de maneira equilibrada, sempre usar camisinha, ser um cidadão que faz diferença no mundo, engordar jamais.

Pelo menos para mim, os trinta e dois anos são de desilusões.

Ok, esse blog deve sempre parecer deprê. Não é, porra. Não estou deprimido. Não vivo triste.

É uma sensação estranha ver que descumpri todas as regras que estabeleci para mim em algum momento.

Não dei conta de tudo.

E cá estou, como todo mundo, vivendo todos os dias tentando chegar lá: sabe-se lá Deus onde.

Do que quero dar conta agora? Da casa própria, sonho-da-classe-média que não sai da minha cabeça? De alguma relação perfeitinha e equilibrada? Adotar alguma criança?

Se tem alguma coisa boa em construir utopias é a esperança que se cria de que hoje será um dia bom, então acordo, cuido dos bichos, ando com eles e vou trabalhar. E trabalhar cansa, enche o saco, mas é tão bom sempre! Depois volto para a casinha, cuido dos cães, eles ficam perto enquanto faço qualquer coisa muito tola até dormir.

E percebo a coisa boa que é ter uma rotina.

Ah, nem sei se reclamo mais da falta dos domingos de paz, porque isso significa que estou em família, ou comemorando o aniversário de amigos queridos, ou que estou comemorando o meu próprio aniversário (sim, parece que vale a pena) com amigos queridos, família e cães por perto.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mijo, urina, xixi: desespero

A marcação de território estava acabando comigo. Só que tem um cachorro mijão sabe do desgaste emocional pelo qual eu passava.

O quintal é de terra e, depois das chuvas que ficaram um bom tempo pela cidade, Miró resolveu fazer todas as necessidades na varanda. Os outros cães trazem areia indo de lá pra cá. Conclusão: lama de mijo e merda.

...

A faxineira só vem uma vez por semana.

...

Acreditamos que Miró tem o estranho e terrível hábito de se sentir bem com o odor de seu xixi. Ele mijou na sua caminha, na do Eugênio e na da Olívia. Ao lavar tanta coisa na máquina, um estofado se rompeu, entupindo os dutos na hora da centrifugação. Morri de vergonha quando o cara veio ajeitar o estrago.

A tragédia pior era dentro de casa. Já pensou passar pano quatro vezes com muito detergente em uma poça de mijo e o cheiro simplesmente não passar?

Chamei um excelente cirurgião indicado pela irmã da Fernanda, veterinária dos meus cães. Decidi que não havia jeito: mesmo velhinho, Miró teria suas bolas cortadas. Fui desaconselhado a fazer isso: provavelmente, meu cão não mudaria de comportamento agora nessa idade.

Tive uns dez segundos de desespero seguidos por um momento de resignação: eu passaria o resto da vida de Miró limpando seu mijo fétido. No entanto, o veterinário veio com uma solução inusitada:

- Já pensou em usar fralda de bebê nele? Lá na clínica fazemos assim para lidar com cães internados.

- Mas e como ele vai fazer cocô?

- Você não está entendendo. Prenda a fralda no entorno da barriga, escondendo o pinto e pronto!

Fui imediatamente comprar a tal fralda de bebê. Fora alguns acidentes, o recurso tem funcionado e minha vida está melhor.

Hoje vi Miró fazendo todo o movimento de quem está mijando na cama do Eugênio e na quina da porta da cozinha. Nenhuma gota respingando pela casa.

Sentimento de paz no coração.

Algumas pessoas ficam chocadas e penalizadas por Miró estar passando por essa humilhação. Gostaria de deixar meu belíssimo cão dois dias na casa delas sem usar fraldas. Gente cretina.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Hiato?

Tenho certeza de que estou vivendo um hiato afetivo. Já passei por isso antes. Acho que quando comecei a escrever por aqui. Naquela época isso me angustiava deveras. Devia ser porque fazia anos que não namorava.

Faz pouco tempo que me separei. Talvez por isso me sinta tão bem atualmente. A solidão é mais satisfação do que dor.

Na verdade, não posso dizer que há dor.

Não há dor.

O estranho é que dá saudade de ter alguém, mas não o suficiente para de fato tentar ter alguém novamente.

E vivo os dias assim.

Relaxado.

Gordinho.

Excêntrico.

Cheio de cães.

Sozinho.

Será realmente hiato o que vivo ou cheguei ao fim da história?

Por favor, não me entenda mal. Não é depressão ou melancolia. Se este for o final da história, gosto dele.

A sensação de coisa finda deve ser pelos meus 32 anos. Sei que são poucos, mas parecem muitos. De repente, o tempo vai deixando mais claro que passa.

Não! contradigo-me: espero que isso seja de fato um hiato. E que a história continue... Bateu um medo de repente.

Miró

Miró foi negligenciado a vida inteira.

Reza a lenda que ele arrancava com os dentes o piso de seus primeiros donos. Em dois anos, desistiram dele.

Miró sempre ficou em família.

O irmão da primeira dona deixou ele ficar em sua casa. Havia um quintal gigantesco. Ele não incomodaria.

Reza a lenda que ele era o brinquedo favorito de um enorme pitbull hoje morto. As cicatrizes nas enormes orelhas de cocker spaniel parecem comprovar a história.

Só era solto à noite. Quando dia, ficava preso em um canil quente. Bebia água da piscina.

Miró é de linhagem nobre.

É filho de Dalí e irmão de Rodin.

A dona de Dalí, sobrinha do dono da casa com quintal gigantesco, sempre quis tirar Miró de sua dura vida, mas temia pelo equilíbrio do grande mestre surrealista, que era idoso e cheio de manias.

Recentemente Dalí morreu tragicamente. Até hoje não superamos a dolorosa perda. Depois da doença do carrapato e do câncer diagnosticados, ninguém imaginava que ele cairia de um terrceiro andar.

...

A dona de Dalí, 14 anos depois, achou que finalmente era hora de recuperar Miró. Levou-o para casa, depois de uma minusciosa análise veterinária:

Dez anos de otite não tratada.

Dermatite crônica.

Pulgas.

Carrapatos.

Surdez.

Naquele gigantesco quintal onde não incomodava, Miró viveu na solidão. Não aprendeu hábitos de higiene e desenvolveu o terrível hábito de compulsivamente marcar território.

Duas poltronas e um pufe foram jogados fora. Até hoje, se aparece algum cão perto do sofá, o instinto lhe diz para sobrepor o território marcado por Miró.

A dona de Dalí arranjou-lhe um belo sítio, onde ficaria seguro e vivo. Comprometeu-se em arcar com todas as despesas de Miró, bem como com seus muitos tratamentos.

Ele desapareceu do sítio no mesmo dia.

Ninguém viu o cocker spaniel champanhe pelas bandas do Anil.

A dona de Dalí me alugou sua graciosa casa-com-quintal do Pechincha. Chegou a me perguntar, antes de mandá-lo para o sítio, se gostaria de ficar com Miró, mas neguei: três cães já seria loucura. Mas, angustiado com o desaparecimento do cão, prometi ficar com ele, caso encontrado.

Ele foi encontrado no dia seguinte à minha promessa.

Está agora dormindo tranquilamente deitado de barriga para baixo perto dos meus pés. Na verdade, sempre está perto dos meus pés quando estou em casa.

A orelha não coça mais.

A dermatite está melhor.

Não há pulgas ou carrapatos em seu corpo.

Ele aprendeu com os outros dois a perceber quando chego em casa e sempre me faz festa, mesmo surdo.

Tenho certeza de que o melhor momento de seu dia é quando pego a coleira para passearmos: os quatro.

Fica revoltado se fecho a porta de casa, deixando-o com os outros na varanda quando me arrumo para trabalhar.

A compulsão por marcar o território continua. Acho que aprendi a conviver com isso.

Fico pensando sobre Miró e os outros...

Eugênio mudou a minha vida.

Olívia é a criatura por quem mais tenho carinho no mundo.

Miró...

Não sei elaborar sobre Miró.

Só sentir.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Em círculos

Ao viajar para o reveillón na cidade dos meus pais e reencontrar muitos membros da minha família, cheguei à conclusão de que as pessoas dificilmente mudam. Evoluem aqui, envelhecem ali, ganham dinheiro lá, separam-se acólá, mas basicamente são sempre as mesmas histórias...

Como a tia que sempre tem grandes conflitos com todos que estão muito próximos, ou como a prima mentirosa que só valoriza dinheiro, ou como a outra tia que tem filhos horríveis e marido terrível e que só lamenta sobre todos e sobre como abusam dela e nunca percebe que isso ocorre porque os ama tão incondicionalmente que é incapaz de dar a todos qualquer limite.

Sempre me sinto muito esnobe e metido quando observo e avalio tão criticamente os outros.

Mas a verdade é que sou os outros. Ao criticá-los, só vejo o que está em mim. Também não mudo, vivo nas mesmas histórias. Separo-me, namoro, fico solteiro, faço mestrado, ganho mal, ganho bem... Circunstâncias superficiais se pensar que

continuo namorando pessoas que abusam, terminando com a sensação de que fui um idiota;

continuo, quando sozinho, tendo um comportamento compulsivo e auto-destrutivo com sexo;

continuo deixando tudo que se refere a trabalho para última hora, ficando sempre na corda bamba;

continuo não guardando dinheiro, não importa a renda.

Queria entender por que é tão difícil sair dos próprios padrões... Mais do que isso: gostaria de ter a fórmula de fazer diferente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Susto

Uma das coisas de que mais sinto falta de morar em Copa é o Parcão. Um parque de cachorros que fica na Lagoa, super perto da minha antiga casa. É verdade que o Aterro do Flamengo fica do outro lado da rua, mas é diferente... Descobri isso no meu primeiro passeio por lá com o Eugênio. Quando o soltei, ele foi direto para um prato de macumba e comeu ovo. Ai que tristeza! Há quantos dias aquele ovo cozido estava ali não sei. Nojo!

Em frente ao meu prédio está aquela praça que tem o cabeção do Getúlio. Um horror. O cabeção, não a praça, que é bonitinha. Ela é casa de alguns mendigos que considero meus vizinhos. Temos uma boa convivência... Pelo menos é hipócrita de minha parte. Afinal, nunca vou perdoá-los por cagarem na praça. Isso é pessoal: advinha o que meu belo cão de raça aristocrática fez na primeira oportunidade?

Pois é. Só de lembrar fico de estômago embrulhado.

Como ficou definido o fato de que ele ficaria sozinho enquanto trabalho e como esse tempo diário não é curto, decidi ter uma cadela: a Olívia. Uma pestinha que amo mais e mais a cada merda que faz (e são muitas).

Ontem resolvi soltar os dois num cercadinho para crianças que tem no parque. À princípio foi meio frustrante, pois eles não correram desesperados, como eu esperava... Depois foi uma das experiências mais apavorantes dos meus últimos meses.

Enquanto eu segurava a filhote para colocá-la na coleira, Eugênio saiu correndo, brincando, na calçada.

Em direção à rua. À movimentada Praia do Flamengo.

...

Dei aquele grito de pavor com toda força dos meus pulmões que sempre esqueço ser capaz de dar.

EUGÊNIO!!

Depois, num momento de cabeça fria, abaixei-me, e comecei a chamá-lo batendo palmas. Deu certo: a brincadeira de correr desesperadamente atrás do dono foi aceita. Peguei-o pela pata, ele chorou baixinho, não me importei. Pus o enforcador e fiquei parado no meio da praça, às 23h.

Olhei para os lados. Ninguém testemunhara meu desespero. Ninguém estava perto. Ninguém.

Ninguém.

E eu chorei. Chorei por quase ter perdido meu cão. Chorei pela consciência impactante da minha solidão. Em plena Glória. Em pleno prédio de três blocos lotados de apartamentos em que poucos moram sozinhos como eu. Em pleno amadurecimento dos meus 31 anos.

E pensei na relação fracassada e cheia de feridas abertas. Nos amigos que perdi sei lá por que. Nas pessoas bacanas que conheço, mas que não consigo deixar entrar na minha vida. Na minha família. Nas minhas transas ocasionais cheias de prazer e de mais solidão.

E voltei pra casa. Limpei os dois. Alimentei os dois. Amei os dois.

E continuei a chorar.