terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ontem quando cheguei na vila vi que havia um cachorro perdido nela. Todo feio, magro, costelas aparecendo, vira-latas. Ai, que pena que me deu. Não consigo ignorar. O primeiro impulso foi levá-lo para casa: dar o de comer, um banho, uma caminha macia, amor. Não fiz isso. Fui dormir culpado pensando no frio e na fome que ele deveria estar sentindo.

Acho que a solidariedade toda que sinto com todos os cães é porque me identifico com eles. Sei lá, essa carência toda que têm de não conseguir sobreviver sem os humanos ajudando. No fundo, sempre esperei que alguém me salvasse ou algo assim.

Só que sou homem e isso não é real. Não vou ganhar na loteria, não receberei herança, não casarei com alguém rico, ninguém vai me dar o dinheiro de entrada da casa própria ou um carro de presente. Nada dessas coisas mirabolantes e rotineiras de novelas acontecerão comigo. Cabe somente a mim dar os rumos da vida que tenho. Posso ter ajuda, mas no fim conto mesmo é comigo.

Os cães não. Por isso me dá essa vontade de ir lá e resolver suas questões ou achar alguém que o faça.

Antes eu tinha um impulsos assim com meu ex. Que ridículo. E caía na chantagem emocional dele. Tenho sempre que lembrar que ninguém faz isso por mim simplesmente por que não é certo.

Sei lá. Algum dia eu consigo ter grana e sair por aí ajudando os cachorros de rua. Eles valem a pena.

Hoje, quando saía para trabalhar, cruzei com o viralatinhas de novo. Estava amedrontado. Acho que percebeu minha vontade de ir lá e salvá-lo porque balançou o rabinho. Olhei para o outro lado para não dar falsas ilusões me sentindo a mais terrível das pessoas. Pensava isso quando vi um pote de comida na calçada que alguém deixou para ele.

Não resolveu tudo o que eu sentia, mas fui pegar o ônibus me sentindo um pouco melhor.

domingo, 27 de novembro de 2011

Desde maio que ficava com o mesmo que afirma também só ficar comigo. Chegou uma hora em que isso me incomou, afinal, eu estava muito feliz solteiro, mas essa monogamia mútua e descomprometida começou a soar estranho. Estaríamos nós apaixonados?

Além disso, outra coisa ficou martelando na cabeça: acho que nunca me entendi tão bem com alguém na cama. Sexo é muito importante para mim e chegar a esse nível de intimidade com alguém não é algo que eu queira descartar. Como uma pessoa, digamos, bastante experiente, sei que é raro conseguir isso.

Daí respondi mentalmente a algumas perguntas que considero básicas, desde meus últimos relacionamentos.

1) Ele trabalha?
R: Sim.

2) É honesto e cumpridor de seus deveres?
R: Sim.

3) Ele me faz ficar em algum momento muito incomodado e sem paciência?
R: Não.

4) É esnobe ou se acha melhor que os outros por algum motivo?
R: Não.

5) Sou capaz de passar horas a fio ou quem sabe uma noite inteira com ele?
R: Sim.

6) Gosta de cães?
R: Sim.

Bom, a partir das respostas favoráveis, resolvi tomar coragem e perguntar se ele estava a fim de namorar comigo.

"Ah, está tão bom assim... Eu não sirvo pra esse negócio de namoro, não." Ele disse.

A princípio, fiquei aliviado, pois fico muito receoso de deixar alguém entrar na paz que a duras penas consegui ter. Mas na última vez em que nos encontramos, falou algo que ficou martelando na minha cabeça:

"Eu não sei o que é isso que a gente tem. É muito bom. A gente se encontra e eu sossego, mas depois de uns dias começo a pensar em você e a sentir saudade e a querer te ver. Daí fico no facebook pensando 'Será que não entra nunca?'. Muito doideira isso."

O que de início me deixou muito envaidecido, também me irritou. Ah, já passei por esses joguinhos de sedução em que nunca se sabe de nada. Eu fui morar com um cara nessas condições. Sei lá.

Decidi que não vou deixar de encontrá-lo, mas "monogamia" não rola mais. Estou a fim de comnhecer gente que possa entrar na minha vida, fazer companhia, ir ao cinema, cozinhar em casa, ver TV junto, confiar, sei lá...

Na verdade, já encontrei um outro carinha que me impressionou bastante, mas isso é outra história.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cheio de novidades

Ele agora vem sempre com uma novidade. Da última vez trouxe várias e várias mudinhas de plantas para eu incrementar o jardim. Vem todo gracinha sem me olhar mostrando uns sacos de supermercado carregados de galhos.

Nessa nova vida de jardineiro, descobri que é muito comum arrancar galhos na rua. É meio que uma tradição o assalto de mudas das plantas alheias ou da rua.

Hoje ele veio com a máquina de cortar o cabelo para que eu passasse em sua cabeça.

Ele se recusa a pegar água da geladeira. Sempre tem que ser eu quem faz isso. Sempre que se recusa a fazer algo que satisfaça suas necessidades em minha casa, faz um sorriso meio de lado de cínico sem me olhar diretamente.

Eu fico completamente louco de desejo.

Outro dia eu dizia que estou muito feliz em Jacarepaguá, mas que não tinha muita vontade de sair de casa, pois as ruas são muito desertas e não tenho a sensação de passear, ver gente. Essas coisas que sempre curti fazer.

"Nem no Subway que abriu aqui perto dá vontade de ir. Ai, uma depressão andar, andar e não ver ninguém.", eu disse.

Na hora de ir embora, ele me fez ir com ele no Subway e comemos um sanduichão juntos.

Agora, há poucos minutos, colocou no meu mural do facebook que uma só transa não é mais o suficiente, que a gente tem que marcar de se ver mais cedo e que eu sou o dono dele.

Apaguei, é claro, a mensagem obscena que mostrava minha intimidade para todos os meus amigos de lá (a maioria deles alunos), mas não consegui ficar com raiva. Ele é muito gostoso e fofo.

Mal posso esperar que volte aqui.

SMS's de amor

Eis que de repente recebo várias SMS's de declarações de amor da minha melhor amiga. A mais fofa era assim:

"Eu te amo e agradeço a Deus por me ter enviado você. Bjssssssssss."

:-)

Sempre fico um tanto sem entender quando alguém diz que me ama. Ultimamente tenho tentado parar de simplesmente pensar no quão tal pessoa seria louca. Estou praticando a sensação desculpada de que eu mereço amor como todo o mundo.

E com ela posso ser exatamente como sou, discutir meus defeitos sem perder valor por eles, relaxar por não estar por perto de alguém inseguro. De repente, entendi que gosto muito de estar perto de pessoas que têm  a segurança de ser exatamente quem são em qualquer momento.

Recebi há pouco o convite para tomar café da manhã com ela bem cedinho.

Vai ser bom começar do dia assim. Com café e amor quentinhos.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mais um fim de ano de resolução de pendências. Estou bastante envolvido em ficar em dia com a Receita Federal. Entrei com um pedido de impugnação de débitos (não sei bem o que significa, mas tem a ver com pagar menos multas...), parcelamento de dívidas e por aí vai. Se tudo der certo, em um ano me acerto e nunca mais caio na malha fina.

Parece que também tenho algum valor a pagar ao Estado do Rio por conta do abandono de emprego. Ai, meu Deus, quando penso que estou ficando zerado aparecem mais e mais cobranças. Pretendo aproveitar o décimo terceiro para quitar mais isso.

E vou esperando para que eu possa dar O Grande Passo. Estou ajeitando a minha vida inteira para Ele. Se há alguns meses eu vinha pagando e sofrendo com a sensação de que minha vida se resumia a isso, de alguma forma hoje a minha dureza e privação têm outro gosto: o de estar Construindo.

O melhor de tudo é que finalmente entendo qual é a graça de Jacarepaguá. Curto o sossego, o cheiro de mato, as ruas arborizadas, os imóveis jeitosos. Cada vez mais entendo que a felicidade está nas coisas mais simples e despretensiosas.

Fico pensando que daqui a cinco anos poderei olhar para trás e ver finalmente: uma vida organizada e consolidada.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Numa reunião, discutíamos o caso de dois alunos novos e sua adaptação à escola. Um coordenador afirmou que nesse momento cada um está achando seu lugar na turma:

"Marcando território. Mijando no poste."

Todos riram e eu fiquei meio atônito, pensando:

"Hein?!"

Depois, houve um momento para nos reunirmos em equipe e meus colegas começaram a elogiar a coordenação. Falei sobre meu desconforto com a fala acima, mas todos acharam-na razoável, que o contexto permitia e que eles não viam nada demais nisso.

...

Das duas uma: ou as pessoas realmente acham razoável discutir um caso de alunos como se estivéssemos num botequim ou elas estão preocupadas demais em puxar o saco que até mentem deslavadamente.

Seja qual for a resposta, me dá um certo desânimo com a sociedade e um desejo enorme de tirar férias... Dos meus colegas.
Prenderam o Ném. Havia policiais escoltando-o na fuga e foram presos. A cobertura do RJ TV os chama de maus policiais e vaoriza os que participaram da operação. Alguns homens deram entrevistas do tipo:

"Tenho muito orgulho da corporação e de ser policial."

Fiquei com uma certa vergonha ao assistir a isso. É um discurso muito simplista. Claro que só escolta bandido quem é mau caráter, mas tem coisas que percebo na estrutura da polícia que me dá vontade de fugir do país.

Como quando a gente passa pelas viaturas de cuja janela saem pontas de armamento pesado. Essa coisa ameaçadora deve ter sido criada para nos dar alguma sensação de segurança que em mim tem efeito inverso: morro de medo.

Fiquei ainda mais chocado quando tive que prestar queixa contra o cinema que foi negligente e causou o acidente da Fernanda. O cabo que preencheu o formulário ficou quase uma hora nessa atividade... E demonstrava extremo desconforto ao fazê-lo: um grande esforço, sabe? Quando falei o nome completo da minha amiga, não conseguiu deixar de resmungar:

"Que grande!"

Ele nos questionou se gostaríamos de prestar uma queixa criminal ou civil. No calor do momento, dissemos:

"É claro que a criminal."

Para tanto, alguém teria que ir à delegacia para fazê-lo, pois seria necessário prestar depoimento. Fui o escolhido. Lá, ele descobriu que isso não seria possível no caso em questão porque o que ocorreu não foi intencional. Ninguém deliberadamente decidiu machucar outro alguém. Ou seja: poderíamos ter resolvido tudo no hospital.

Em todos os momentos o cabo foi extremamente solícito. Ele é o que chamamos de bom policial, mas me chocou seu despreparo. Além disso, senti um certo desconforto quando falou do caso que atendera antes: o de uma velhinha que foi atropelada mais cedo por um ônibus. O que o imcomodou nessa história foi ter que ficar horas esperando perícia, IMLe outras coisas. Claro que isso tudo é um saco e denuncia a porcaria que são esses serviços, mas em nenhum momento percebi que ele se sensibilizou com o que aconteceu com a senhora.

Será que estou exigindo demais?

É óbvio que existem pessoas boas e más, com ou sem caráter, mas o bom policial não é somente o que não se corrompe. Os caras deveriam ser mais articulados, cuidadososos, sensíveis. O que sinto é um embrutecimento terrível, seja pelas bases de educação, seja pelas condições de trabalho.

E não vejo o RJ TV tratar muito disso. Nem as pessoas refletindo. Só vejo todo mundo querendo punir os que cometem crimes e pronto: resolveremos o problema da polícia.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Ontem falei pra ele que quando estiver velho, aposentado, penso em morar em alguma cidade pequena numa casinha com espaço para jardim e para os cães.

Ele disse que só pensa no aqui e agora. Não costuma se imaginar velho e jamais sairia do Rio.

Ele tem uma simplicidade que me encanta. Gosto quando vem aqui.

Lembrei que eu costumava ser assim. Talvez fosse por estar muito concentrado em estudar, em sobreviver ao trabalho, nas minhas paixões. Atualmente vivo planejando o futuro.

A minha analista diz que o que dá sentido à vida é isso: as metas, os planos...

Eu vivo sonhando com a minha casa. Em ter um lugar meu de verdade.

Eu penso nos meus cães e quero estar perto deles em todas as fases de suas vidas. Eu aproveito ao máximo o Miró no pouco tempo que lhe resta. E eu o amo tanto. Eu os amo tanto.

Eu espero que o papagaio viva muito e bem e que eu sempre faça parte disso. Eu o amo também.

Eu quero ser vizinho da Fernanda a vida inteira. Eu a amo tanto.

Também nunca quero ter outra faxineira que não seja a Tereza. Eu acho que a amo.

Eu espero ver meus pais felizes morando na casa de São João da Barra. Eu os amo.

Eu quero ter crianças na minha vida...

Às vezes me dá um desânimo. Especialmente quando penso no quanto falta para pagar o que devo. Tenho a sensação que minha vida se resume a: pagar. Mas não desisto: um dia termina.

E fico imaginando como seria envelhecer. Acho que deve ser legal chegar lá.
Na semana que passou eu andei de ambulância e na viatura da Polícia Militar. Quem sai para ir a um cinema na sexta-feira jamais imagina que a noite vai terminar assim.

Desde que voltei a ver novelas (atualmente vejo duas de gêmeas boas e más: Mulheres de areia, que está na reprise do Vale a pena ver de novo e Paraíso tropical, que baixo da internet. Isso mesmo: baixo. Muito vício), desencanei um pouco de filmes. Tenho até mesmo uma certa preguiça. Gosto de histórias em série, que demoram a terminar... Os personagens ficam na nossa vida como se fossem amigos, sei lá. Pior é que tenho percebido que até nos livros têm sido assim. Gosto de Harry Potter, Sookie Steakhouse, Desventuras em série... Histórias longas que duram sete ou treze livros. Adoro!

Mas eis que sexta a Fernanda me chama para ir ao cinema e me forço a ir, pois meu impulso foi dizer que queria era ficar quietinho curtindo a casa... Sei lá: talvez não seja tão saudável essa vidinha pacatérrima e topei ir meio com medo de o filme ser ruim. O título era alguma coisa com pele.

Acabou que, ao chegar ao cinema, tivemos gratas surpresas. Fomos sem saber à inauguração da Sala Vip do cinema do New York City Center pagando ingresso comum (a moça disse que os ingressos dessa sala custariam de 45 R$ a 65 R$, dependendo da sessão), que dava direito a um assento do tipo cama. Além disso, o filme que assistiríamos era do Almodóvar, o A pele em que habito!

Dentro da sala VIP, comecei a perceber as coisas chatas que nela havia, como um refrigerante custar 9 R$ ou o ar condicionado funcionar bem demais. Mas nada disso havia me preparado para o susto que passaria depois. Simplesmente a parede de granito do reservado caiu nos pés da Fernanda! Dá pra acreditar?!

Daí descobrimos que a sala deveria ser NIP (Not Important Person), pois na hora de socorrê-la percebemos que o elevador não funcionava, que os gerentes do cinema demoraram a agir, só acompanharam o socorro depois de pressão, enfim: um saco! A parte da ambulância foi a hora em que minha amiga foi levada ao hospital. Fiquei com ela enquanto o Fernando levava o carro. Parecia cena de novela. Enquanto íamos ao Barra D'or, uma viatura da Polícia nos acompanhou e depois tive que ir com eles à delegacia para prestar a queixa.

De repente, me dei conta de que a PM é super visada e eu estava numa viatura. Já pensou se alguém resolve nos metralhar? Além disso, o policial dirigia muito mal... Comecei a rezar, com medo de coisas piores ainda acontecerem naquela noite.

No fim, a Fernanda não se machucou gravemente e a noite calminha de cinema terminou às 4h40min da madrugada. ainda fico meio atônito pensando nisso.

Pelo menos o filme foi bom...