sexta-feira, 30 de abril de 2004

Feriado bacana (parte III)

Sexta-feira: Conhecendo korn.
E mais: Praia, Felipe Dylon e Dama de Ferro

Hoje eu voltei no ônibus conversando sobre Caio Fernando Abreu com um carinha da faculdade que parece ser bem legal. É meio difícil encontrar pessoas pra discutir literatura, ainda mais se curtem e vibram também com o seu autor favorito. A gente falava da solidão e da dificuldade de comunicação das personagens de todos os livros do escritor gaúcho e surgiu o papo das relações virtuais.

O cara era meio espantado com isso e claro que falei do quanto tais relações estão presentes na minha vida. Os amigos de carne-e-osso, por incrível que pareça, estão muito distantes (mesmo morando a algumas quadras daqui)... Algumas pessoas de NET fazem parte da rotina, estão comigo todos os dias e acabam recebendo grande consideração.

É o caso do korn. Eu o encontro quase diariamente no ICQ há mais de um ano, acho. Daí que dá pra entender a razão da minha excitação em conhecê-lo. Afinal, é o primeiro amigo "virtual" que fui conhecer.

E foi, de início, engraçado pra mim. Eu não sabia como agir, aonde enfiar a cara. E ele ainda me veio com essa:

"Você tem noção do que você fez? Agora que eu te conheço, não vou poder te contar nenhum dos detalhes sórdidos da minha vida!"

(não foi bem assim que ele falou, estou adaptando)

E eu quase arrependido:

"Pôxa, mas estava tão legal daquele jeito..."

À medida que o dia foi passando, o meu desconcerto foi diminuindo e comecei a ficar à vontade. Fui à praia com ele e com a Musa do Verão. Na volta, esta última sumiu e foi fazer o Felipe Dylon.

Mais papos. Interessante como as pessoas podem ser parecidas com a gente às vezes.

Quando a nossa Musa apareceu de novo, já estávamos prontos pra sair. Ia rolar uma festinha de rock anos oitenta lá no Catete e ela foi conosco andando. Chegando lá, parecia que entrar seria uma grande besteira. Estava horrível. Toca pro Dama de Ferro.

Acabou que a Musa não foi com a gente... Recisava de um sono.

Descemos no ponto errado na Lagoa e fomos andando por ela. Nunca reparara no quanto aquele bairro é chique! Ser rico deve ser muito bom.

Eu nunca tinha ido numa sexta à noite pro Dama. Muito engraçado reparar no quanto o povo é diferente. Eu quero dizer em tudo: EU VI VÁRIOS CASAIS SE BEIJANDO (quem já foi lá num sábado sabe do que estou falando) e, mais engraçado de tudo, ALGUNS ME PAQUERARAM!

!!!!!

Mas não peguei ninguém, é claro, ou eu não seria eu e o mundo não seria mundo, etc, etc, etc.

Na casa da Musa, ainda ficamos conversando até o sol quase nascer. Realmente, o korn é um cara muito legal pra bater um bom papo. Sempre. E ao vivo é ainda mais maneiro. :-)
Esse post foi escrito ao som do seguinte refrão:

"ô menina deixa disso
quero te conheceeerrr
vê se me dá uma chance
to a fim de vooocêêêê
De vocêêêê"

Em homenagem à nossa querida Musa do Verão. :-*

quarta-feira, 28 de abril de 2004

Feriado bacana (parte II)

Quinta-feira: Home alone
Acordei meio mal na casa da Musa do Verão. Sabe quando a gente tem a necessidade de ficar sozinho um pouco? Não sei se foi o estresse com meus pais ou o lance de pensar naquelas histórias de ser ator e me sentir frustrado. Talvez tenha sido o fato de perceber mais uma vez que ando sozinho demais e que gostaria muito de estar num relacionamento quente e aconchegante (Acho que já usei essa frase. Talvez no blog véio... É que são os adjetivos que me vêem à cabeça quando o assunto é: namorar)...



Daí que eu precisava ir embora. Aproveitar a casa vazia pra sentar, ouvir música, teclar, blogar, distrair-me...

Além disso, estava precisando economizar. Sabe como são esses problema$$$$$$$...

O bacana desse dia foi saber que o korn estava vindo pra cá e que finalmente conheceria um dos meus melhores amigos (Acho que não faz muito sentido dividi-los no que se refere ao contato físico... Alguns virtuais são tão mais presentes que a maioria dos reais! Esse é um caso). Fiquei bem feliz. :-)

terça-feira, 27 de abril de 2004

Feriado bacana (parte I)

Quarta-feira: Retrôativo
Ficar sem celular é realmente muito chato. Especialmente se você o encheu de créditos e só vai poder recuperá-lo numa segunda muito distante... Enfim, acho que já virou hábito largar o telefone no carro das caronas em véspera de feriado.

Por isso, passei a quarta-feira completamente incomunicável. Tentava desesperadamente ligar pra Musa do Verão para combinarmos nossa ida ao Dama de ferro, mas não conseguia. O meu residencial não faz ligação para telefones móveis. Sabe como é: coisa de pobre.

Por meio de um sistema altamente inovador de comunicação, a Musa deu um jeito de pedir ao korn pra me dar um telefone de contato por meio da net. Ela havia esquecido o carregador do aparelho dela no trabalho. Bom saber que não sou a única bicha lesada do mundo.

Conseguimos ir ao Retrôativo do Dama. Muito bacana sair e poder ouvir e dançar músicas como Shiny happy people, do REM e William, it was really nothing, dos Smiths (nessa última eu pulava e cantava tão serelepe... Um pouco parecido com o carinha do meu banner).



Mas o mais bacana foi ter reencontrado uma amiga que eu não via há uns bons 5 anos. A Kelly, que fazia teatro amador comigo na época do segundo grau. Ela está tão linda... E é claro quer a primeira pergunta que ela me fez foi:

"Você continua sendo ator?"

:-(

"Não..."

Ela seguiu a carreira: Fez o curso da CAL completo, a oficina de atores da Globo, não tem dinheiro pra nada e anda com um grupo de amigos super dez com quem se diverte pra caramba.

A vida poderia ter sido assim... Mas tudo foi tomando um rumo tão diferente e inesperado... Bateu uma tristeza. Nunca é legal parar pra pensar nos sonhos que foram frustrados...

Anyway, o de sempre, depois: paguei mico, fiquei bêbado, não agarrei ninguém. Tudo mais ou menos nessa ordem.

PS: Havia um carinha careca tão lindo dançando...

domingo, 25 de abril de 2004

Quase de volta à vida normal (ou sacal)

Eu tive um feriado muito bacana. Diverti-me bastante, conheci pessoalmente um amigo que tem estado diariamente na minha vida por meio de palavras na tela há mais ou menos um ano e fui apresentado a um blogueiro muito gente fina e legal de se conversar.

Mas hoje não dá pra contar os detalhes. Amanhã eu começo. Muitos papos profundos e, claro, bastante zoação e palhaçada porque ninguém é de ferro.

Agora é fim de feriado: hora de organizar o dia útil que chega, realizar trabalhos pendentes...

Chove. Um convite à introspecção ao som de Isobel.



E já fiquei tempo demais hoje na net por causa do orkut. Parece que finalmente minha relação com esse treco aí tem melhorado depois que convidei alguns amigos e que descobri comunidades do B&S e do Caio Fernando. Legal parar com o monólogo sobre esses assuntos e realmente ter com quem discuti-los.

Ah, pode parecer que minha adoração ao autor gaúcho chega à beira do fanatismo. Talvez vocês me imaginem acendendo velas e fazendo orações para realização de pedidos, coisas do gênero. Não é bem assim. Cheguei à vida dele um pouco depois de me emocionar muito com os textos. Afinal, quem não quer saber um pouco sobre o cara que te faz chorar de emoção e sentir coisas lindas ao lê-lo? Natural, né? Por isso, acho que o seguinte trecho mais uma vez explica a minha profunda NECESSIDADE de estudá-lo:

Tão geladas as pernas e os braços e a cara que pensei em abrir a garrafa para beber um gole, mas não queria chegar meio bêbado na casa dele, hálito ardido, eu não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando sem táxi naquela hora toda, e eu andava, estômago dolorido, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, e eu andava, roxas olheiras, teria que ter cuidado com o lábio inferior ao sorrir, para que ele não visse o meu dente quebrado e pensasse que eu andava relaxando, sem ir ao dentista, e eu andava, e tudo que eu andava eu não queria que ele visse nem quisesse, mas depois de pensar nisso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era (ABREU, Caio Fernando. Além do ponto. In: Morangos mofados. 3ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 14) [Grifos meus].

terça-feira, 20 de abril de 2004

Seu horóscopo hoje

Fonte: Estrela guia


GÊMEOS

A disposição dos planetas hoje no céu indica que você está com uma necessidade muito grande de viver sua liberdade. O dia é bom para diversões e lazer.

Talvez seja essa a razão de eu não ter viajado, apesar das insistências de minha mãe. Engraçado é que fiquei triste por isso...

Mas tenho uma coisa muito forte: viajo, visito, comento, explico-me, faço o que for só se eu quiser. Sacou?

E podem fazer o mesmo comigo. Não me importo. Posso ficar triste, mas aprendi a respeitar as outras individualidades.

Quanto à parte de diversões, não sei. Estou adorando a sensação de ficar sozinho em casa escutando o som da sala bem alto (B&S, claro)...

Amor

Saia, namore, brinque e solte sua espontaneidade. Com a Lua em touro o que pode acontecer além de ter muito prazer hoje?

Ok, eu finjo que acredito.

Humpf.

Carreira

Você pode se destacar hoje com suas idéias originais. O que mais precisa é deixar de ser tão racional, e tentar seguir sua intuição e seus "insights".

Bom, vou ignorar essa parte, já que estou de

"Feriado, comemore!!!!"

Dicas do dia

Uma dica legal para esse dia, é que você exponha sua criatividade onde quer que vá, e seus talentos chamarão a atenção de quem o cerca.

Estou pensando em como posso fazer isso se for mesmo à locadora...

Eu não sei como vocês agüentam ler isso. Sou TÃO self-centered... Aqui só rola:

EU, EU, EU, EU, EU...

ad infinitum

segunda-feira, 19 de abril de 2004

FERIADO, COMEMORE!!!! :-)

Só para matar os trabalhadores de plantão de inveja, eu gostaria de dizer a todos que DESDE AS 13 HORAS DO DIA DE HOJE ESTOU OFICIALMENTE DE FOLGA ATÉ A PRÓXIMA SEMANA. Que coisa chata: ai, ai...

E eu, com a minha infalível patetice, larguei pela segunda vez em menos de um mês o celular no carro da carona do trabalho. Incrível é que da outra foi exatamente na véspera do último feriado. A parte mais chata não é ficar sem ele: é descobrir que ninguém percebeu isso, pois não houve ligações durante todo esse tempo.

Humpf.

Amanhã eu vou ter que abrir mão dos planos de acordar às duas da tarde pra ir buscar o aparelho, já que a minha carona, coitadinha, trabalha.

Não viajarei também. Arranjei confusão aqui em casa. Odeio a idéia de ser considerado o chato, vilão, egoísta e desagradável. Detesto quando a unanimidade vai contra mim. Nelson Rodrigues já dizia que todas elas são burras. E não suporto a idéia de ouvir um bando de desaforos por causa de um grampeador. Vai ser bom ficar seis dias sozinho.

Anyway, faz um tempo que as coisas andam chatas. Comprar o PC novo foi quase uma ofensa, meu visual cabeça-raspada é fonte de toda sorte de comentários desagradáveis, olham-me com rabo-de-olho quando saio... E eu ando com preguiça das pessoas. Já falei isso aqui...

Estava a fim de colocar um piercing. Daí ouvi um comentário super preconceituoso da minha chefe sobre alguém que foi à sala dela e que usava um. Tudo bem que a pessoa parecia ser realmente intragável, mas mesmo assim... Que balde de água fria! Fazer o quê, né? Eu preciso e gosto do emprego mesmo...

Será que toda essa "revolta" seria uma leve (ou profunda) regressão à adolescência?

Não quero pensar sobre isso agora. É feriado.

Quero falar sobre o final de semana: fui ao Dama de ferro.

Dancei. Bebi. Paguei mico. Não agarrei ninguém.

Ai, nenhuma novidade: todas essas coisas sempre acontecem quando resolvo sair. :-)

E estou me recuperando do susto de ter assistido REQUIEM PARA UM SONHO. Nossa. Imaginem um cara rever Amélie Poulain num dia e no outro dar de cara com um filme desses. Ui.



Se não entendeu nada do que disse, corra pra locadora, por favor. Os dois valem a pena.

Agora, dá licença que eu vou blogar um pouquinho.

Ao som de Fold your hands child, you walk like a peasant. Disco de quem, de quem????



Dããããããã!!!!!

quinta-feira, 15 de abril de 2004

Dúvidas

Sim, finalmente consegui entregar os trabalhos. Ainda tenho que resolver algumas outras coisas sérias, mas estou dentro dos prazos e isso me deixa tranqüilo. Agora posso, aos poucos, retornar à minha rotina e fazer coisas do tipo: ouvir amigos.

E foi mais ou menos o que aconteceu hoje. B. trabalha comigo e, depois de muito tempo, conseguimos parar e conversar. As coisas não estão legais. Depois de 5 anos namorando e planejando o casamento, o dito cujo chega e diz que a ama como irmã e que precisa se apaixonar por ela de novo.

Por que será que os carinhas, ao serem sinceros, conseguem ser tão insensíveis? É claro que ela ficou arrasada e quis dar um tempo dele. Quem não iria fazer o mesmo? Impossível você se casar tendo esse tipo de incerteza...

Só que ele se arrependeu. E ela quer se afastar de verdade.

B. chorou muito me contando essas coisas. E, quando vi, estava chorando junto. Já passei por rejeições parecidas. E acho que nunca superei ou fui capaz de permitir que alguém fizesse de novo isso comigo.

O FODA é que a gente investe nas pessoas, acredita nelas, tem confiança e, de repente, ouve um papo desses.

Será que alguém realmente tem culpa de ter dúvidas, de nos fazer sofrer?

Eu não sei. E gostaria de que essa dúvida não continuasse a me atrapalhar: estou seco, escolho demais, tenho preguiça das pessoas e, mesmo paradoxalmente, as experiências rápidas e rasteiras não me atraem de jeito nenhum.

Então eu pergunto e sei-que-somente-eu-realmente-tenho-a-resposta:

O QUE ESTÁ FALTANDO PRA QUE EU DÊ A CARA À TAPA DE NOVO?



Ao som de Women's Realm, Belle & Sebastian (E eu ouço outra coisa?).

domingo, 11 de abril de 2004

Atitude idiota

Por que eu insisto em tomar café pra espantar o sono se a experiência já me mostrou várias vezes que o efeito é inverso comigo? Saco.

sexta-feira, 9 de abril de 2004

Caramba: mais um presente surpresa!

Acordei cedo, reli algumas coisas, fiz anotações, tomei café com meus pais - que logo depois saíram para passar o feriado fora - e fui fazer coisas rotineiras do tipo: colocar roupa na máquina e tomar banho ouvindo Belle & Sebastian antes de voltar ao PC para escrever.

Havia toda uma preparação pra não me desconcentrar e tal: tirei o modem do velox do quarto e tudo. E foi algo bem difícil de se fazer, como dá pra imaginar. Até que toca o interfone:

Eu: Oi.
Uma voz masculina: Bom, dia. Tem alguém aí chamado (Meu nome)?
Eu: Sim, sou eu.
Uma voz masculina: É que eu tenho um SEDEX aqui pra você e preciso de sua assinatura.
Eu: Peraí, que já estou descendo.

Putz, SEDEX?! Só pode ser algum presente... Será?

E não é que era mesmo?

Junto à embalagem, havia um cartãozinho que dizia:

Se alguém tem que ler esse livro, esse alguém é você!
Have fun!


Ué, presente anônimo?

Abri a embalagem e logo resolvi o mistério. Esse era o livro:



Se vocês descerem um pouco a página e lerem os comentários do post Chorei, vão perceber porque descobri de cara que tinha sido o korn.

Esse cara é um dos melhores amigos virtuais que eu tenho. Conheci-o por causa de uma lista que ele criou, a Queercore_BR (não me perguntem como fui fazer parte dela, pois nem eu sei). Foi lá também que entrei em contato com o Overhuman, que adoro.

Faz mais ou menos um ano que eu e o korn teclamos via ICQ e sou capaz de ficar horas e horas falando com ele ininterruptamente sobre os assuntos mais variados. Desde "o preconceito da maldita sociedade em que vivemos" até Atari - só pra ter uma noção.

E foi em parte por causa dele e de sua amiga (que agora é minha também) Call que eu tive inspiração pra fazer o blog.

Tento não levar a Internet tão a sério, nem pensar que meus únicos amigos são virtuais e blogueiros (até porque realmente não o são. Há vários "reais" menos presentes, por mais paradoxal e irônico que isso possa parecer). No entanto, cada vez mais me apego a esse povo e fico só imaginando o dia em que vou conhecê-los pessoalmente e ficar falando as mesmas besteiras (ou coisas sérias) que rolam pelos ICQ e Messenger da vida só que ao vivo... Se bem que isso não é essencial: tenho afeto por todos mesmo que apareçam para mim somente como palavras na tela ou presentes-surpresa pelo correio.

Obrigado, korn, você é 10!

d:-)

Agora, se me dão licença, eu tenho trabalhos a fazer e quero terminá-los logo pra poder ler o livro.

terça-feira, 6 de abril de 2004

Longo post dividido

Parte A: Emocionei-me

Como o que tenho feito ultimamente é, em resumo, ler para, daqui a algumas horas, começar a escrever os trabalhos, vou seguir a linha do último post e reproduzir algo que me emocionou profundamente e que, de alguma forma, pode explicar a razão pela qual PRECISO fazer a dissertação sobre Caio Fernando Abreu (portanto, não posso falhar logo agora!!), bem como a paixão (redundante, diga-se de passagem) que alimento pela literatura do cara. Aí vai:

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe - eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes - ninguém, mundo, sempre - e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde. (ABREU, Caio Fernando. Aqueles dois. in: Morangos mofados. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 132-133)


Putz! Como alguém pode ter tanto bom-gosto (nas palavras de um professor) e elegância pra escrever assim? Isso é lindo!

Parte B: Dois agradecimentos ou
Estou tão viciado em Internet porque é legal mesmo, e daí?


Acordei bem cedo hoje pra terminar de reler Morangos mofados. Sempre faço assim antes de escrever um trabalho. É a rotina. Como hoje foi o dia escolhido para, de qualquer maneira, iniciar a produção destes fantasmas que vêm me atormentando há tempos, decidi que não deveria nem checar os comentários. Ainda bem que não cumpri com meus planos... Senão, seria impossível saber que fui indicado para os destaques da semana do Jornal do blogueiro!!!! Isso já havia acontecido nos tempos da escuridão e foi super legal rolar de novo porque eu andava meio inseguro com esse novo blog, achando tudo uma porcaria só. É um tipo de reconhecimento bacana, já que parte de um pessoal que adora navegar entre nós e que entende bem disso. Um beijo grande para as lindas Lua e Mariah!

Bom, como um dia legal não acaba sem outras novas e incríveis surpresas, quando cheguei em casa da UFRJ, encontrei uma embalagem de presente!!!!! Advinha de quem era! Do Glécio! Dãããããã! Ele não resolveu me mandar o DVD recém-lançado do Belle and sebastian?!



Outro dia estava aqui me lamentando por não poder comprá-lo e acontece isso! UAU!

Olha o recadinho que ele me mandou:

W., agora não falta mais nada então! Esse aqui é o teu presente de páscoa! Como não sou coelhinho mando este em vez de chocolate!
Beijos do amigo gcb!!!


Gcb, como assim não falta mais nada?! Você me acostumou mal e eu quero mais presentes fofos!!!! Brincadeirinha, claro. Obrigado de novo. A-do-rei.

Agora vai ser difícil resistir à tentação de só assistir o DVD inteiro depois da entrega dos trabalhos. Mas eu agüento!!!!

Falando nisso, já me vou. Fiquei tempo demais aqui.

Que marketing péssimo: o meu... Escrever um post desse tamanho provavelmente espanta leitores.

domingo, 4 de abril de 2004

Chorei

Eu já falei da Clarice Lispector aqui outro dia. Hoje eu estou relendo pela milionésima vez provavelmente A hora da estrela e não pude controlar o meu choro ao ler isso:

Macabéa gostava de filmes de terror ou de musicais. Tinha predileção por mulher enforcada ou que levava um tiro no coração. Não sabia que ela própria era uma suicida embora nunca lhe tivesse ocorrido se matar. É que a vida lhe era tão insossa que nem pão velho sem manteiga. Enquanto Olímpico era um diabo premiado e vital e dele nasceriam filhos, ele tinha o precioso sêmen. E como já foi dito ou não foi dito Macabéa tinha ovários murchos como um cogumelo cozido. Ah pudesse eu pegar Macabéa, dar-lhe um bom banho, um prato de sopa quente, um beijo na testa enquanto a cobria com um cobertor. E fazer que quando ela acordasse encontrasse simplesmente o grande luxo de viver. (LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 58-59)


Cara, que mulher FODONA é essa Clarice! Talvez seja um sacrilégio usar esses termos para me referir a ela, mas não encontro nada melhor. Eu sou uma manteiga derretida mesmo, eu sei, mas pra me fazer chorar lendo tem que ser muito poderosa. Antes dela, só o Caio Fernando Abreu e o Guimarães Rosa.

Era basicamente o que tinha a dizer. Agora eu volto à função de leitor. Abraços a todos.

sexta-feira, 2 de abril de 2004

Down em mim

Sabe aqueles dias em que você é compelido a encarar a realidade dos próprios fracassos?

E percebe que não tem sido tão bom ou competente quanto deveria?

E que os esforços não foram suficientes?

E que as relações mais próximas estão desgastadas?

E tem consciência de que deve dizer coisas sérias, mas adia somente o momento?

E morre de medo de si mesmo?

Hoje está sendo um dia assim.

Mas acredito sinceramente que "tudo passa, tudo passará".

Presente fofo

Domingo: abro a caixa de e-mails e tem um do gcb pedindo o endereço de casa pra me mandar um presente!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Adoro presentes. Principalmente os que são dados assim, espontaneamente. E é incrível como o blog mudou meu comportamento na net. Agora, a quantidade de amigos que eu tenho online é grande e tais manifestações de carinho só me fazem ficar mais e mais empolgado.

Daí eu escrevi um e-mail pra ele mais cedo:

Hoje, eu voltava da faculdade e, já perto de casa, pensei: "será que o
presente do Glécio já chegou? Ah, deve demorar um pouquinho mais..."

Depois, cruzei com a mãe, que saía de carro, e ela não falou nada.

Mas qual não foi a surpresa que tive ao entrar no quarto e ver uma caixa
enooorrrmmeeeeeeee colocada lá com o meu nome em cima!!!

Sabe quando a gente é criança e fica excitadíssimo ao ver os presentes da
árvore de natal e quer abrir logo? Foi assim que me senti ao abrir as três
caixas em que você o colocou.
ADOREI A CANECA!!!!!!!!!!!!!!!!
LINDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
:-)
É SÉRIO, FOI UM DOS PRESENTES MAIS FOFOS QUE JÁ RECEBI ATÉ HOJE!

MUITO OBRIGADO PELA LEMBRANÇA E PELA CONSIDERAÇÃO! TE ADORO!

QUE BOM QUE O BLOG SURGIU NA MINHA VIDA PARA APARECER GENTE TÃO BACANA E
INTERESSANTE QUANTO VOCÊ.
UM ABRAÇÃO E UM BEIJÃO!

W.


Para matar a curiosidade, aí estão as fotos que ele mesmo me mandou por MSN:



Pra quem me conhece há pouco tempo, talvez não faça muito sentido tudo isso. Portanto, explico-me: esse era o nick que usava no antigo blog e que mudei por motivos de segurança... O engraçado é que alguns amigos vivem reclamando do novo. Até eu mesmo não gosto muito... Jamais imagino ser chamado assim por alguém na rua. Des até que ficou legal e carinhoso, mas... A canequinha fofa foi mais um incentivo a voltar assinar daquele modo. Não neste recinto, pois seguro morreu de velho. Aqui serei "W.". No entanto, pelo menos nos comentários, creio que não haverá problemas em mudar mais uma vez.

Nossa, sou completamente self-centered mesmo... Não conheço mais ninguém que viva nessa crise de identidade cibernética! Ufa!

Um beijo, Glécio!

Um beio a todos.

PS: Gente, não está dando pra retribuir as visitas mesmo... Desculpem-me!

quinta-feira, 1 de abril de 2004

SOU EU!!!!!!!!

Sem muitos comentários. O eu-lírico patético da música que segue sou eu. SOU EU!!!!!!!!!!!!!!!!

A FÓRMULA DO AMOR
(Leoni / Léo Jaime)

Eu tenho o gesto exato, sei como devo andar
Aprendi nos filmes pra um dia usar
Um certo ar cruel de quem sabe o que quer
Tenho tudo planejado pra te impressionar
Luz de fim de tarde, meu rosto em contra-luz
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão
Mantenho o passo alguém me vê
Nada acontece, não sei por quê
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei
Ainda encontro a fórmula do amor
Eu tenho a pose exata pra me fotografar
Aprendi num vídeo pra um dia usar
Um certo ar cruel, de quem sabe o que quer
Tenho tudo ensaiado pra te conquistar
Eu tenho um bom papo e sei até dançar
Não posso compreender, não faz nenhum efeito
A minha aparição será que errei na mão
As coisas são mais fáceis na televisão
Eu jogo um charme, alguém nem vê
Nada acontece, não sei por quê
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei