quarta-feira, 23 de maio de 2012

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Fico melancólico com aniversários. Bate uma tristeza estranha, um desconforto de ser. Normalmente essa data serve para que as pessoas se sintam especiais pela celebração de um dia terem chegado ao mundo. Não consigo ver algo de tão extraordinário nisso.

Sinto muita solidão nos aniversários. E não há relação com ter ou não pessoas perto: amores, amigos, família. É uma carência tão grande que jamais poderá ser resolvida. A mesma que senti nas vezes em que me apaixonei e me dei conta de que aquilo podia acabar, a mesma que comecei a sentir em algum momento da infância, quando percebi que não bastava eu ser para receber o sagrado sentimento. Enfim, tenho em mim a clareza da insegurança do amor.

Queria poder pular os dias dos aniversários. No fundo, no fundo, eu morro de vergonha de existir, sinto-me meio sujo. Tenho a sensação de que consegui disfarçar muito bem terríveis defeitos para sobreviver porque preciso estar no mundo e não sei sair dele para fazer o que mais tenho vontade: isolar-me e ficar bem escondido.

Não quero parabéns nos meus aniversários. Eu não mereço, não há o que comemorar, me deixa em paz na minha culpa, no meu erro, na minha solidão e amargura.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ano passado uma psicóloga foi ao meu trabalho dar uma palestra sobre família. Basicamente, ela dizia que não são só nossos genes que são eternizados no processo de reprodução. Na verdade, carregamos os hábitos, o jeito de lidar com as coisas, a maneira de amar... Uma fala dela me marcou profundamente, algo assim:

"Você pode fugir, parar de falar, dizer que seus pais morreram. Eles sempre vão estar vivos em você. Não há fuga. Não há escapatória da família."

A maioria dos meus colegas do trabalho é bem tacanha. Não gostaram muito disso. Acho que na hora entendi, não sei se porque faço análise e tal.

Ontem fui ao dia das mães com muitas apreensões. Liguei para avisar que estava saindo e, é claro, para sondar o terreno: ela sempre dá mostras de como está seu humor ao telefone.

"Oi, meu filho! Estou te esperando!"

Dava para sentir o sorriso ao telefone. Bom sinal.

Chegando lá, encontrei minha irmã. Ela mais uma vez fez alguma coisa horrível no cabelo e agora, também, nas sobrancelhas. Fiquei olhando para ela observando como somos diferentes. Como eu tento ser diferente. Ela e a filha se parecem no jeito. São meio dengosas, fazem uns carinhos inesperados e desconfortáveis. Eu fico tentando ser polido, ficar livre de preconceitos e de aversão. De certa forma, acho que o que me incomoda é que posso ser como elas de alguma forma.

Em algum momento, meu pai me disse inesperadamente:

"Não comenta com elas que eu e sua mãe fomos ao show do Roxette ontem."

Fiquei surpreso e perguntei o porquê daquilo. Não obtive resposta.

Enquanto víamos fotos antigas que a tia Conceição guardava a sete chaves, mamãe comentou que minha tia devia estar chorando a essas horas porque o meu primo Vinícius não quer mais saber dela.

"Ela liga para isso, sabe? Em vez de deixar para lá!"

Fiquei mais uma vez surpreso e pensando se ela estava dizendo isso para nós ou para si mesma.

Enquanto minha irmã se arrumava para ir embora para Macaé e a minha sobrinha fazia mais uma cena de chantagem, mamãe virou rapidamente para mim em tom de sussurro e disse:

"Sua irmã se envolveu mais uma vez com aquele vagabundo que quase a matou de novo. A sua sobrinha cortou os pulsos durante o carnaval. A gente fica aqui socorrendo."

Não sei o que me surpreendeu mais. Os fatos contados ou o jeito meio estranho como eles foram ditos.

Fico pensando no ela fala de mim para os outros membros da família:

"Ele é muito isolado. Só quer saber de cachorro. Nem liga para a gente."

Às vezes eu queria poder contradizer a psicóloga e, sei lá, fugir, ir para outro estado ou país, mudar de nome, adotar uma criança e começar uma história nova, tentando acertar, sair dessa loucura que nem consigo entender direito.

Mas não dá, né?

domingo, 13 de maio de 2012

Falei no Facebook ao meu irmão que amanhã vou à casa dos nossos pais por conta do dia das mães. Ele me disse:

"Boa sorte lá!"

Um comentário honesto que me deixou amargo. Sei que meus pais estão sofrendo, mas eles não mediram consequência quando fizeram o que bem entenderam com a nora. O pior é não ter a menor esperança de que um dia percebam a merda que fizeram. Eu presto tanta atenção aos meus atos que fico chocado com essa falta de autocrítica.

Outro dia o Paulo me ligou de um telefone com númedo confidencial:

"Eu te peço perdão pelo que quer que você ache que te fiz!"

Cumequié?!

Muito fácil, não é? A gente maltrata, humilha, pisa, torna a vida do outro um inferno e depois pede perdão "pelo-que-quer-que-achem-que-tenhamos-feito". Se ele ao menos soubesse o-que-acho-que-ele-me-fez... Se se prontificasse a reparar qualquer coisa que seja... Mas não.Tratou nossa relação como qualquer coisa, permitiu-se um monte de abusos e ainda acha que tenho que tolerar sua presença.

Cada vez entendo mais que devo tomar cuidado com os outros, que temos que ir com muita paz no coração quando precisamos confrontar o outro e que gente agressiva e inconsciente de si deve ser evitada das relações íntimas.

Nada como a estabilidade do respeito e da tolerância.

Amanhã vou com o coração aberto à casa dos meus pais. Mas a vigilância e a calma estarão no modo on, pois não acredito que é só de sorte o que preciso ao conviver com minha família.
Eu o olho e não consigo conter a ternura. Miró de repente ficou velho. Não posso dizer que ninguém me avisou: Fernanda disse que era de repente. Num verão, ele está ótimo, mas na estação seguinte vira um senhor com dificuldades para andar, com a saúde frágil e dormindo quase o dia inteiro.

Há mais ou menos um mês a Divina me disse que ele estava muito magro. Ela é a moça que dá banho nos cães. Vai sozinha lá em casa e os busca semanalmente. Depois de quase dois anos, resolvi confiar a chave do meu portão para ela fazer isso. Deve ser coisa do nome: a mulher é um anjo.

O Fernando já tinha alertado-me para a magreza do Miró. Eu não estava conseguindo enxergar. Em menos de dois dias, ele resolveu não comer mais ração. Desde então, faço uns pratos especiais de arroz, ovos, frango e cenoura. Ele adora.

Descobrimos dois tumores no baço que têm um aspecto horroroso e que podem causar hemorragia. Provavelmente não há nada a fazer. As pessoas me olham com um jeito conformador de "o-que-você-espera-de-um-cão-com-17-anos?"

Vai todo mundo à merda.

Não quero me preparar para a partida, não quero uma vida sem Miró embaixo da minha cadeira ou me seguindo pela casa, não quero parar de limpar seu mijo ou de fazer comida para ele. Quero-o prara sempre comigo.

Eu te amo, Miró.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ando desperso pra caramba. Às vezes tenho a sensação de que o dia passou e que não fiz nem metade das coisas que deveria. Seja na casa, seja no trabalho, seja nos estudos. Roupa atrasada pra passar, correções atrasadas, leituras atrasadas.

Contas atrasadas.

Os serviços de água e luz aumentaram de valor consideravelmente nesses meses de calor que passaram. Houve os problemas com a caixa d'água, houve a dedetização, houve querer fazer extravagâncias... Mais uma vez caí no buraco e eu sempre vou tão lá no fundo!

Falta uma parcela para pagar tudo o que devo à Fernanda, mas isso não me traz ainda paz. Ainda falta acertar luz, água, telefone, sky, analista...

Aí de repente comecei a me desorganizar. Parei de ir à academia por que alguma coisa eu deveria cortar, peguei uma revisão de tese para fazer e me enrolei nas leituras da pós, as coisas começaram a desandar. Fico só lutando desesperadamente para que ninguém perceba o que está rolando.

Quando estou em casa e já cuidei dos bichos todos, fico na internet olhando para a tela como se amor, dinheiro ou solução de carências pudessem ser resolvidos tão facilmente quanto a necessidade de se ver um filme pornográfico.

O mais estranho e que não sei a quem pedir ajuda ou o que quero ou o que podem me oferecer em auxílio. Então começo a devanear coisas absurdas como ganhar na loteria, encontrar alguém que me ame e que esteja ao meu lado apesar de todas as minhas mazelas (e às vezes tenho a impressão de que são tantas e que ninguém jamais ficaria comigo mesmo assim).

Dinheiro só se consegue trabalhando, amor requer vigília, disposição, crescer nos estudos e ficar bem no trabalho requer atenção, disciplina e dedicação.

É tanta coisa pra dar conta. Não está rolando. :/