domingo, 24 de junho de 2012

Acredito que há uma escala de coisas que nos dão prazer. Ele existe como um mecanismo biológico para fazermos o que é bom para a gente. Tenho vergonha de dizer, mas fico muito feliz quando vou ao banheiro e acho que estou sendo muito claro sobre o que estou falando. Precisamos, diariamente, eliminar as impurezas do nosso corpo: daí vem a satisfação. Aprendi coisas sobre o meu organismo neste ano. Tem dois dias que começo a ter compromissos somente a partir das 11h45min, por isso vou sempre, nessas ocasiões, muito bem humorado para fazer o que quer que seja, afinal, estou sempre em dia com o banheiro. Dormir é outra coisa maravilhosa. Precisamos recarregar as energias. Fico muito triste porque hoje em dia, para dar conta dos meus compromissos, às vezes tenho que abrir mão de algumas horas de sono: e eu realmente preciso das tais 8h! Comer e beber têm relação com a sustentação do nosso corpo. Perdi o hábito, mas antigamente eu gostava de comer bem devagar quando a comida era boa: para aproveitar o máximo de tempo possível o momento precioso da percepção do gosto.

Mas nada se compara ao sexo. Qualquer coisa que tenha falado antes se compara a transar bem e fico me perguntando o porquê e acho que cheguei a uma conclusão. Viajei nisso hoje porque faz mais ou menos um ano que Alexandre vem aqui e me leva a lugares que nem imaginava que existiam. E olha que sou rodado! 

Nada é mais fantástico, importante para nosso corpo, relevante para nossa espécie do que formar uma vida. E é daí que vem o sexo. Nesses momentos em que um ser permite que outro o invada, a conexão que se estabelece e o fim a que, originalmente, se destina é tão primitivo que finalmente entendo ou acho que consigo ordenar em pensamentos as coisas que sinto ou que percebo nos outros quando o assunto é erotismo. Fico imaginando que, se a partir de um ato como esse, surgisse um filho, eu iria pirar de um amor louco, aquele que os amigos que têm crianças tentam explicar, mas não conseguem. O amor da lembrança do momento do surgimento daquele ser, o amor do enxergar meu descendente, saber que ele é uma extensão de mim e que, por isso, continuarei vivo.

É claro que o meu sexo com o Alexandre não gerará qualquer vida. Nem me lamento por isso porque o bom de ser humano é que podemos manipular os mecanismos biológicos de prazer para tê-lo quando bem quisermos, da maneira que quisermos. Mas isso não deixa de fazer com que essa energia seja uma das últimas que nos aproxima da irracionalidade, que nos lembra de que somos animais. Já cruzei com pessoas em situações tão essencialmente sexuais que eu me perguntava se elas existiam fazendo outra coisa que não aquilo. Certa vez um cara com quem eu transava no Flamengo, ao ver que eu estava triste pelo fim do namoro e amando um cão, me disse:

"Não consigo associar essas coisas ao cara que conheci antes. Para mim, você era um devasso e só."

Sem conclusões a tirar. Só estou feliz da vida por ter passado muitas horas com o Alexandre hoje.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Só queria te dizer que você foi a pessoa mais legal que conheci nos últimos vinte anos. Pode ser que dois encontros seja pouco para fazer esse tipo de afirmação, talvez seja mesmo, mas afirmo mesmo assim: tive a certeza de que você era o homem da minha vida. Essas certezas sempre passam quando a gente decide ir viver junto e tornar realidade o sonho de se ter o-homem-da-vida. E eu bem que estava disposto a tentar com você e tenho quase certeza de que essa disposição só aconteceu porque você iria voltar para o outro lado do oceano e que, por isso, a tentativa não seria, de fato, possível, mas mesmo assim: eu estava disposto a tentar. E fiz bonito o meu papel de pessoa analisada e equilibrada e não dei vexame, não te liguei em horários inapropriados, nem chorei no meio da rua. Banquei mesmo a atuação do cara seguro. Olhando agora para os últimos meses, acho que cometi uns deslizes ao te escrever demais no Facebook, mas rapidamente, após seu silêncio, reergui a muralha de pessoa estável e nem um pouco carente, afinal na vida a gente não precisa ser, mas sim parecer. Não é uma lição de que eu goste, mas não deixa de ser verdadeira. Só queria te dizer que até hoje espero uma mensagem sua escrita só para mim. Só queria te dizer que não te esqueci e que penso em você várias e várias vezes ao dia. Só queria te dizer que tenho certeza de que seria mais feliz se você estivesse por aqui. Só queria te dizer que queria saber de um jeito de você ser mesmo o homem da minha vida. Só queria te dizer essas coisas, mas te escrevo aqui porque sei que você não irá ler.
Outro dia li um conto da Clarice chamado Miopia progressiva que ficou e ficou na cabeça. Falava de um garoto que percebeu que o que ele era "dependia da instabilidade dos outros". Algo assim: se ele dissesse algo que despertava a surpresa e a reação coletiva de que aquilo fora inteligente, logo ele seria inteligente, por meio da aprovação dos outros (a família). Até que ele recebe a notícia de que passaria o dia inteiro na casa de uma prima que nunca tivera filhos. A partir daí, começa a pensar se consegue planejar o que ele será para a prima que, pela falta de filhos, obviamente o amará. Se disser algo inteligente, será inteligente; se ficar quieto, será calado; se se esconder no banheiro, será aquele-que-não-sai-do-banheiro e por aí vai.

Eu cresci com a impressão de que eu era uma decepção para a minha família. Para meus pais, mais precisamente. Era, segundo eles, delicado, muito educado, observador... Por meio de todos os adjetivos, havia uma certa crítica, afinal, não atendia às expectativas deles, que sempre falavam dos homens que admiravam ressaltando qualidades como bravo, voz grossa, forte. Tudo o que eu não era. Bom, pelo menos eles me diziam que eu não era.

Então acreditei. Acho que é o que todos fazem.

Quanto à minha irmã, ela nunca teve jeito. Tem gente que vem com má índole desde sempre. Muito mentirosa e egoísta.

Então acreditou. Acho que ela faz isso até hoje.

É claro que a minha mãe morrer de ciúmes dela não lhe fez mal algum. Nem dizer que parou de estudar para que ela nascesse. Nada disso ferra com a cabeça de ninguém.

O foda é que até hoje eles falam assim dela. Quanto a mim, já que fiz de tudo para ser diferente e resolvi estudar, sou muito intransigenteo-sabe-tudo. Eles colocam, quando têm oportunidade de fazer essas críticas (o que é raro), um tom pejorativo.

Eu não tenho saco para gente que não assume responsabilidade para as merdas que faz. Não sou solidário com pessoas que tapam o sol com a peneira quando têm que se ver diante do espelho. Eu entendo que meus pais me amam e tudo o mais, mas não aguento ficar muito perto de tanta inconsciência ou alienação sobre si mesmo.

Não consigo ficar muito perto da minha família.

Se vocês acham que isso é intolerância, o que posso fazer além de ser intolerante?

terça-feira, 19 de junho de 2012

Um pedido

Eu peço ajuda a quem estiver lendo ou ouvindo ou dentro da minha cabeça. Que eu nunca esqueça que a rotina e a falta de novidades dificilmente são realmente significantes de infelicidade, muito pelo contrário. As grandes emoções e paixões me trouxeram sempre consigo dor, sofrimento e desespero.

Espero não mais esquecer que pedi desesperadamente por paz e junto com meu pedido fiz de tudo para tê-la: paguei todos os preços, abri mão de tudo que era para ser aberto, revi os meus valores e olhei para bem dentro de mim sem medo do horror que poderia encontrar.

E que encontrei.

Tenho uma autoestima frágil que se defende, nos momentos de crise, valorizando aparência e superficialidades. Já aprendi que isso são tolices, não posso mais esquecer.

Tenho amigos, os melhores cães do mundo, trabalho, segurança e um vislumbre de futuro. Que eu sossegue com isso, por favor.