segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

No último dia de trabalho, a Fernanda me achou muito esquisito quando saímos.

_ O que você tem? Seu astral está péssimo.

Nem tinha percebido. Daí vim com uma metáfora que não me saiu mais da cabeça:

_ A sensação que tenho é a de que sobrevivi a um acidente de automóvel, saca? Estou vivo, mas nem por isso feliz, pois um ocorrido como esse deixa traumas. É assim que me sinto com este fim de ano da escola. Exatamente assim.

Que coisa estranha o trabalho. É um lugar de tantas realizações, de prazeres, mas aí vêm as pessoas e complicam tudo com suas vaidades, disputas de poder, inseguranças. Realmente acho que 90% da população precisa de fazer análise. Talvez tivéssemos menos estresse. Pelo menos os meus só ocorrem mesmo por conta das paranoias das pessoas. Quando estou em casa, não tenho neura alguma. Vivo em paz, molhando o jardim, cuidando dos bichos, da casa, da roupa, vendo novela, lendo...

Sei lá. Nos meus devaneios de que ganhei na Mega sena, sempre achei que continuaria trabalhando. Agora, acho que não. Pediria demissão e iria ficar estudando por lazer, coisas assim. Eu adoro alunos em geral, mas lidar com os colegas é muito, muito chato!

Aí fica parecendo que agora, sim, com as férias, vivo a minha vida: os cães em volta, a casa pra cuidar, os amigos visitando, o Alexandre vindo aqui...

Estou feliz.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Give a little love

Caída, cansada, assustada e fraca. Assim ela estava quando passei com os meus belos e saudáveis cães para o banho semanal. No dia anterior, uma vizinha me tinha dito que iria levá-la a uma clínica veterinária que cuidaria dela e que depois a colocaria para adoção.

Saí para meus compromissos imaginando que ela já estaria encaminhada. Engano meu. Continuava na mesma situação de abandono de dois dias antes, exceto pela comida e água deixada por outros que, como eu, entenderam a situação em que se encontrava.

Decidi que não poderia mais ficar completamente alheio àquela cena que batia à porta da minha casa.

Dei-lhe uns petiscos.

Coloquei a coleira em seu pescoço.

Levei-a, insegura, para o banho.

Tratei das parasitas que, pouco a pouco, lhe destruíam o corpo.

Coloquei-a, isolada, num lugar quente e seguro.

Dei comida, água, remédio, vitamina, Cream crackers.

E amor.

"Você pratica o amor com os cães, não é?" Perguntou minha analista.

"Posso fazer tudo por eles que vou receber amor de volta,  sem a perversidade das pessoas." Veio-me à cabeça e à boca, em resposta.

"Essa perversidade seriam os abusos que você já sofreu quando amou?" Ela me jogou de volta.

Sim.

Acho que tenho que achar um jeito de amar sem criar de novo esse tipo de situação que tenho certeza de que vem junto com a carência, com a auto-estima baixa e com a sensação de que não mereço amor.

"Amor é algo que se mereça?" Foi o questionamento que ela levantou e que não sai da minha cabeça.

Ah, não sei responder agora! O que posso é cuidar da cadela por 21 dias com antibióticos, castrá-la, deixá-la linda, fazer um book ultrassofisticado de fotos e colocá-la em condições para adoção.

E talvez desfazer essa birra com as pessoas quando achar alguém responsável para amá-la e cuidar dela.

Eu queria desfazer essa birra com as pessoas quando achasse alguém responsável para me amar e cuidar de mim.