quarta-feira, 12 de julho de 2006

Surpresa na barbearia

Um luxo que passei a gostar de me dar é o de freqüentar a barbearia. Quando lá vou, sinto-me num equivalente ao "dia de mulherzinha" a que uma amiga da escola se permite de vez em quando: manicura, escova e por aí vai. No meu caso, é barba, cavanhaque e máquina zero na cabeça mesmo. Acho que o mais legal desses lugares é o clima. Diferente dos salões super finos de cabeleireiro, eles são simples, aconchegantes e divertidos.

Já vi clientes serem mandados àquele lugar por causa de impertinências, sempre leio o jornal do dia (geralmente é O Dia) e ouço os papos sobre futebol.

Não é segredo para ninguém que gosto de coisas simples, familiares, autênticas. A barbearia que tem ali na rua das Laranjeiras é assim: um bando de coroas simpáticos espremidos naquela sala estreita.

Ontem, eu observava que, enquanto meu cabelo era raspado, formava-se em minha cabeça um esboço de moicano. Seria uma péssima idéia fazer esse corte algum dia, assim pensava quando o mais velho dos barbeiros – exatamente o que estava fazendo a tal obra de arte – começou a contar sobre sua vida.

O cara é de Campos e seu projeto de aposentadoria era ir para um sítio que mantinha lá. Quando parou de trabalhar, teve que esperar seis meses para que sua esposa também se aposentasse e pudesse ir com ele. Só que nesse meio tempo a mulher morreu e ele decidiu permanecer no Rio, perto dos filhos e dos netos.

Não entendi muito bem a razão desse monólogo, mas, como já disse, eu me encanto com essas coisas. Resolvi, então, dizer que minha família inteira é de São João da Barra, cidade vizinha a Campos. Ele pareceu impressionado e falou que o Denílson, que também já havia cortado o meu cabelo, era de lá, mais precisamente do distrito de Barcelos.

Peraí, a minha mãe nasceu e se criou lá!

E o Denílson, que já estava na conversa, perguntou:

E quem é ela?

Bom, ela é filha de Dirlermando...

Filha de Dilermando?! Qual delas? (Sim, tenho muitas tias. Todas loucas de pedra.)

Cirle.

Não conheço sua mãe... Mas lembro do pai dela... Seu Dilermando. Ele morava na Beira-rio, era funcionário da usina, adorava conversar sobre política...

E eu, muito surpreso, sorria concordando. Vovô era assim mesmo. O mais incrível foi que ele não se esqueceu de uma das qualidades mais definidoras do caráter do pai de minha mãe:

Ele era bem bravo, não é? Mas muito boa pessoa...

Pronto. Já estava boquiaberto, achando muito divertido e quase principiando a me emocionar. Como é que eu poderia imaginar que um desses caras simpáticos e anônimos que fazem minha barba e cortam meu cabelo poderia ser alguém que conheceu de perto parte de minha origem?

O Denílson falou saudoso:

Como o tempo passa...

E eu concordei.

Despedi-me de todos dali com um ar muito engraçado de familiaridade e de carinho. Voltei à rua doido para ligar para mamãe e contar a história. E fique lembrando do Vovô Dilermando... Fazia tempo que não pensava nele: na presença severa, na voz rouca, no ar de segurança que ele passava. Lembrei do único velório de que participei na vida, dele no caixão na sala da casa da Beira-rio, de chorar e não saber muito bem o porquê.

Eu já disse muitas vezes aqui que a vida é boa, não? Pois é... Não preciso dizer de novo. Preciso?

Um comentário:

Anônimo disse...

pra dar uma força na propaganda dos velinhos vc podia disponibilizar o endereço da barbearia.
abraco