terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

Nunca deixaremos de ser atores

Uma vez a Roberta disse para mim e para a Malu que nunca deixaríamos de ser atores. Não que um dia eu realmente tenha sido, entenda bem. Foi teatro amador... Tudo bem que era meu sonho de adolescência e tal, mas tomei outro caminho.

Eu tenho saudades da Roberta e da Malu. Por que não convivemos mais como antes? Por que acabei-me afastando delas? Por que acabei-me afastando de tanta gente?

Mas não é sobre isso que quero falar. A afirmação da minha amiga surgiu na cabeça hoje, meio de repente, durante uma aula. O interessante foi perceber que tal idéia voltava e voltava...

Em que contexto tal frase foi dita? Se não me engano, algum de nós contava uma história com bastantes gestos e imitações-quase-perfeitas-dos-envolvidos-nela. Ríamos por causa de detalhes tão peculiares. E foi então que ela surgiu:

Nunca deixaremos de ser atores, não é?

Hoje sou professor, A Roberta trabalha com vendas e está bem-sucedida (só não sei exatamente o que faz), já a Malu... Essa, sim, não tem dúvidas quanto à pergunta acima feita. Ela é atriz mesmo.

Como percebi a veracidade de tais palavras hoje pela primeira vez? Lia com a sétima série do Méier o conto Peru de natal, do Mário de Andrade. Como percebi a hesitação da maioria dos alunos ao pronunciar certos vocábulos que nunca usaram na vida (interessante como o moderno pode vir a ser um dia "obsoleto"), decidi ler eu mesmo alguns dos parágrafos, fazendo, assim, um revesamento com a turma. O lance foi que, do nada, eu não era mais somente o professor querendo dar uma dinâmica maior à aula. A partir de um instante que não sei precisar, comecei a interpretar o texto e pensar, caralho, como isso é lindo, caralho, como esse cara escrevia bem, caralho!

No momento em que a mãe se emociona com a celebração que o filho cria (ok, tem que ler o conto para entender, I'm sorry...), tive que parar e pedir para alguém ler, pois, se continuasse, não iria conseguir segurar as lágrimas.

O foda foi que eles perceberam. E riram. Que mico.

Mas por que falo disso? Penso que devo hoje me sentir um cara espontâneo e descontraído devido, em grande parte, ao teatro amador que fiz na adolescência. O problema é que, às vezes, aparecem pessoas que, sabe-se lá por que, conseguem fazer com que eu me sinta travado, sem palavras, tímido e cuidadoso com o que quero dizer e fazer.

Esse não sou eu, entende? Não sou assim!

Mas fico desse jeito com o Dono. Eu já tinha sacado e comentado com amigos. O foda é que ele também percebeu. E comentou comigo.

Eu quero que você seja você mesmo comigo, entende? Não tem que medir nada.

Por que após tantas coisas que me tornaram melhor (teatro, faculdade, trabalho, experiências sexuais, conquista de amizades, defesa de disertação, etc.), continuo sendo tão inseguro quando fico apaixonado e carente?

...

Para essa pergunta em particular, não tenho resposta.

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