quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Susto

Uma das coisas de que mais sinto falta de morar em Copa é o Parcão. Um parque de cachorros que fica na Lagoa, super perto da minha antiga casa. É verdade que o Aterro do Flamengo fica do outro lado da rua, mas é diferente... Descobri isso no meu primeiro passeio por lá com o Eugênio. Quando o soltei, ele foi direto para um prato de macumba e comeu ovo. Ai que tristeza! Há quantos dias aquele ovo cozido estava ali não sei. Nojo!

Em frente ao meu prédio está aquela praça que tem o cabeção do Getúlio. Um horror. O cabeção, não a praça, que é bonitinha. Ela é casa de alguns mendigos que considero meus vizinhos. Temos uma boa convivência... Pelo menos é hipócrita de minha parte. Afinal, nunca vou perdoá-los por cagarem na praça. Isso é pessoal: advinha o que meu belo cão de raça aristocrática fez na primeira oportunidade?

Pois é. Só de lembrar fico de estômago embrulhado.

Como ficou definido o fato de que ele ficaria sozinho enquanto trabalho e como esse tempo diário não é curto, decidi ter uma cadela: a Olívia. Uma pestinha que amo mais e mais a cada merda que faz (e são muitas).

Ontem resolvi soltar os dois num cercadinho para crianças que tem no parque. À princípio foi meio frustrante, pois eles não correram desesperados, como eu esperava... Depois foi uma das experiências mais apavorantes dos meus últimos meses.

Enquanto eu segurava a filhote para colocá-la na coleira, Eugênio saiu correndo, brincando, na calçada.

Em direção à rua. À movimentada Praia do Flamengo.

...

Dei aquele grito de pavor com toda força dos meus pulmões que sempre esqueço ser capaz de dar.

EUGÊNIO!!

Depois, num momento de cabeça fria, abaixei-me, e comecei a chamá-lo batendo palmas. Deu certo: a brincadeira de correr desesperadamente atrás do dono foi aceita. Peguei-o pela pata, ele chorou baixinho, não me importei. Pus o enforcador e fiquei parado no meio da praça, às 23h.

Olhei para os lados. Ninguém testemunhara meu desespero. Ninguém estava perto. Ninguém.

Ninguém.

E eu chorei. Chorei por quase ter perdido meu cão. Chorei pela consciência impactante da minha solidão. Em plena Glória. Em pleno prédio de três blocos lotados de apartamentos em que poucos moram sozinhos como eu. Em pleno amadurecimento dos meus 31 anos.

E pensei na relação fracassada e cheia de feridas abertas. Nos amigos que perdi sei lá por que. Nas pessoas bacanas que conheço, mas que não consigo deixar entrar na minha vida. Na minha família. Nas minhas transas ocasionais cheias de prazer e de mais solidão.

E voltei pra casa. Limpei os dois. Alimentei os dois. Amei os dois.

E continuei a chorar.

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