sábado, 24 de julho de 2010

O ex do meu ex tinha uma expressão que eu adorava ouvir. Tudo o que ele achava um absurdo, usava o ano em que estávamos para enfatizar seu estranhamento:

"Roupa que tem que lavar à mão em 2008? Inadimissível!"

"Em 2009 alguém fazer festa de noivado?!"

Esse cara era muito interessante. Não faz parte da minha vida, mas não sinto saudades, não. Muita gente já passou e não retomaria relações. Não sei se isso é bom ou ruim, mas deixo o passado no passado.

Mas esse jeito sempre me vem à cabeça. E tem vindo muito ultimamente. Outro dia o Manhattan connection fazia uma enquete que perguntava por que a Argentina aprovou o casamento gay antes de nós.

De fato. Não tinha me dado conta disso.

Sabe o que eu acho? Que a culpa é de nós, gays, mesmo. Estou cansado de ver gente bem colocada profissionalmente, obviamente gay, respeitada por todos com o discurso:

"Eu não fico falando pra todo mundo que sou gay. Ninguém tem que saber com quem eu durmo."

Ou realmente vejo gente fingindo ser hetero. Ou tentando ser hetero. Tem gente que me fala: "Mas por que que tem que ser tão fechado? O cara não pode simplesmente amar?!"

Vai pra porra. Hetero não faz essas coisas.

O que falta é o pessoal se assumir. Sair do armário mesmo. Aqui no Brasil a gente não faz isso. Vive levando a vida, sendo claramente gay e não falando disso. Sendo eternamente grato por finalmente começar a ter alguns direitos. Prezando pela discrição e tentando uma masculinidade que não dá conta. Vai todo mundo pro caralho!

Aí eu penso:

Em 2010 e os gays ainda relutando em dizer pra todo mundo o que é? Porra, vivo sendo convidado para casamentos. O que é isso senão a celebração religiosa e festiva de duas pessoas que publicamente assumiram que vão passar a vida inteira fodendo e tendo filhos? Será que é querer muito viver num mundo em que eu possa expressar meu afeto e sexualidade naturalmente também?

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