sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Então chegou a puberdade e eu pirei nela. Já tinha aprendido a me masturbar desde muito cedo, não lembro bem a idade. A minha irmã me ensinou. Foi logo muito fácil entender que eu gostava de homens. Não sei se é uma piração frustrada por não ter sido como eles, daí a atração. Não sei por que ela veio e não sei se vale a pena tentar entender.

Se eu fosse hétero, não tentaria. Não é um problema, certo? Acho que esse é o principal problema deles: não tentam entender muita coisa.

Olhava os homens na rua com tanta curiosidade. Imaginava que, na noite anterior transaram, que teriam pelos em partes estranhas do corpo; admirava barbas, nucas e ficava excitado morrendo de vergonha na rua com a mochila escondendo minha genitália.

Eu era muito quieto e isolado. Finalmente descobriram a miopia e de repente virei ótimo aluno na quinta série, muito diferente da minha irmã.

"Nós percebemos que o problema dela não é familiar depois que conhecemos seu outro filho", os diretores uma vez disseram à minha mãe e ela vivia repetindo isso o mais alto e sempre que podia.

Engraçado como eu só tinha valor quando era para humilhar outro filho.

Ainda ouvia os gritinhos de "Ai, ai, bichinha!" às vezes, quando passava. Simplesmente ficava quieto aguentando. Ninguém ia me ver chorar.

E eu tinha tantas paixões platônicas! A mais forte foi a que senti por um cara lindo (pelo menos na minha memória) que pegava ônibus no mesmo ponto que eu. O apelido dele era Lerdão, parece que não tinha muita atitude com as garotas. Não acreditava nisso. Ele tinha barba, uma nuca linda, era alto, acho que 1,85m, era musculoso.

A sala de aula ficava ao lado das barras de Educação Física e de repente ele aparecia no alto da janela pendurado, suado, sorrindo satisfeito com a facilidade com que fazia aquilo tudo. Não havia aula de Ciências que pudesse competir com aquela visão.

Devia ser muito óbvia a cara que eu fazia, apesar de desesperadamente tentar disfarçar. O professor uma vez me chamou à atenção e disse que eu deveria aprender a ser homem.

Até então eu gostava dele. Era meio moderninho, engraçado, brincalhão. Pensei em várias maneiras cruéis de vê-lo morrer, desgraçado.

Comecei a acordar por volta de 4h30min para chegar o mais cedo possível no ponto de ônibus. Não podia perder a oportunidade de vê-lo embarcar. Eu usava um walkman, fazia fitas de rock e ficava ouvindo no último volume, talvez para mostrar, quem sabe, o quanto eu tinha bom gosto.

Fiquei realmente triste quando o vi, uma vez, imitando meu jeito calado, com fones no ouvindo e aparelho escondido na mochila. O séquito de garotas risonhas que andava atrás dele e de seus amigos musculosos começou a gargalhar. E eu levantei e fui embora. Não fazia sentido ficar mais até tarde na escola só para ter a chance de olhá-lo.

Acho que foi aí que eu comecei a devanear com um grande amor que ia me salvar daquela merda toda. Foi então que a vaga se abriu.




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