sexta-feira, 5 de março de 2004

Uma curiosa amizade

Esta semana eu li no blog do Alien Sampa algo sobre reencontrar amigos que de alguma forma se perderam do nosso caminho. Achei o texto bem interessante, mas é claro que não estava pensando nisso quando entrei hoje totalmente zumbi às seis e meia da manhã no bus pro trabalho. Fui direto pro banco alto. Acho que é instinto de pobreza mesmo. As pessoas parecem sempre estar disputando dois lugares no ônibus: o da janela e o mais alto. Sabe-se lá a razão disso... Divagações à parte, lá estava eu, lindo, sentado e esperando a partida quando pareço ver um rosto conhecido bem à frente.

Não é que era a Leca? Nossa, devia fazer mais de 4 anos que eu não a encontrava... A gente tinha uma amizade diferente, estranha e fora do que se convenciona... Só me dei conta disso no dia em que fui me despedir do pessoal antes de me mudar pra Manaus (nossa, faz tempo isso: 21 de fevereiro de 1997!!!!). Em um dos intervalos entre o choro e a bebedeira, ela chegou de mansinho, colocou algo no bolso da minha calça e disse:

"Não leia agora."

Claro que a traí e fui correndo ao banheiro pra ver o que ela tinha escrevido. Era algo super bonitinho e que guardo até hoje (eu tenho uma caixa toda ferrada, mas cheia de cartas, postais, e-mails impressos. Adoro remexer nela de vez em quando e ver o que já escreveram pra mim. É tão bom...). Vou transcrevê-la pra vocês:

Quero dizer que a nossa amizade é no mínimo curiosa. Ela tem um elo, que é a T., e ao mesmo tempo é independente. Nós nos entendemos bem e temos a nossa liberdade.

Morro de rir quando a T. te conta alguma coisa da minha vida pessoal sem autorização e depois fica toda sem graça pra me contar achando que vou me chatear. Ela fala assim: " - Contei aquilo pro Des(?!)complicado*, mas pro Des(?!)complicado não tem importância, né?" Agora eu respondo diretamente a você:

É, PRO DES(?!)COMPLICADO NÃO TEM IMPORTÂNCIA. PELO CONTRÁRIO, PRO DES(?!)COMPLICADO EU FAÇO QUESTÃO!!!!

Des*, desculpe-me por dizer essas coisas justo agora, quando deveria ter dito na primeira oportunidade. As pessoas infelizmente são assim: não priorizam seus sentimentos. Eu até sabia que gostava de você, só não sabia o quanto. Foi preciso esse baque, esse choque.

Mas não há de ser nada não. O mundo dá voltas e em uma dessas, a gente se encontra, ou melhor, se reencontra.

Mil beijos da amiga da amiga que acabou virando sua amiga também.

Leca

*É claro que eu não usava essa alcunha na época... Adotei-a na carta pra proteger a minha identidade secreta... :-P


Nem preciso dizer que chorei horrores no banheiro naquele dia.

E foi tão legal finalmente reecontrá-la no bus. A gente conversou tanto, tanto... Falou da vida, de namoros, faculdade, carreira, problemas pessoais... Como nos velhos tempos. Despedi-me na hora de descer, mas, no meio da escada, lembrei:

"Não peguei nem o telefone dela!!!"

Do ponto, fiz um gesto indicando tal preocupação. Ela respondeu pelos lábios sem falar. O que consegui ler foi:

"Liga pra T. que ela te dá!"



Engraçado... quanto mais as coisas mudam, mais continuam as mesmas, como já dizia aquele ditado...

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