terça-feira, 6 de abril de 2004

Longo post dividido

Parte A: Emocionei-me

Como o que tenho feito ultimamente é, em resumo, ler para, daqui a algumas horas, começar a escrever os trabalhos, vou seguir a linha do último post e reproduzir algo que me emocionou profundamente e que, de alguma forma, pode explicar a razão pela qual PRECISO fazer a dissertação sobre Caio Fernando Abreu (portanto, não posso falhar logo agora!!), bem como a paixão (redundante, diga-se de passagem) que alimento pela literatura do cara. Aí vai:

Raul voltou sem luto. Numa sexta de tardezinha, telefonou para a repartição pedindo a Saul que fosse vê-lo. A voz de baixo profundo parecia ainda mais baixa, mais profunda. Saul foi. Raul tinha deixado a barba crescer. Estranhamente, ao invés de parecer mais velho ou mais duro, tinha um rosto quase de menino. Beberam muito nessa noite. Raul falou longamente da mãe - eu podia ter sido mais legal com ela, disse, e não cantou. Quando Saul estava indo embora, começou a chorar. Sem saber ao certo o que fazia, Saul estendeu a mão e, quando percebeu, seus dedos tinham tocado a barba crescida de Raul. Sem tempo para compreenderem, abraçaram-se fortemente. E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender.

Afastaram-se, então. Raul disse qualquer coisa como eu não tenho mais ninguém no mundo, e Saul outra coisa qualquer como você tem a mim agora, e para sempre. Usavam palavras grandes - ninguém, mundo, sempre - e apertavam-se as duas mãos ao mesmo tempo, olhando-se nos olhos injetados de fumo e álcool. Embora fosse sexta e não precisassem ir à repartição na manhã seguinte, Saul despediu-se. Caminhou durante horas pelas ruas desertas, cheias apenas de gatos e putas. Em casa; acariciou Carlos Gardel até que os dois dormissem. Mas um pouco antes, sem saber por quê, começou a chorar sentindo-se só e pobre e feio e infeliz e confuso e abandonado e bêbado e triste, triste, triste. Pensou em ligar para Raul, mas não tinha fichas e era muito tarde. (ABREU, Caio Fernando. Aqueles dois. in: Morangos mofados. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 132-133)


Putz! Como alguém pode ter tanto bom-gosto (nas palavras de um professor) e elegância pra escrever assim? Isso é lindo!

Parte B: Dois agradecimentos ou
Estou tão viciado em Internet porque é legal mesmo, e daí?


Acordei bem cedo hoje pra terminar de reler Morangos mofados. Sempre faço assim antes de escrever um trabalho. É a rotina. Como hoje foi o dia escolhido para, de qualquer maneira, iniciar a produção destes fantasmas que vêm me atormentando há tempos, decidi que não deveria nem checar os comentários. Ainda bem que não cumpri com meus planos... Senão, seria impossível saber que fui indicado para os destaques da semana do Jornal do blogueiro!!!! Isso já havia acontecido nos tempos da escuridão e foi super legal rolar de novo porque eu andava meio inseguro com esse novo blog, achando tudo uma porcaria só. É um tipo de reconhecimento bacana, já que parte de um pessoal que adora navegar entre nós e que entende bem disso. Um beijo grande para as lindas Lua e Mariah!

Bom, como um dia legal não acaba sem outras novas e incríveis surpresas, quando cheguei em casa da UFRJ, encontrei uma embalagem de presente!!!!! Advinha de quem era! Do Glécio! Dãããããã! Ele não resolveu me mandar o DVD recém-lançado do Belle and sebastian?!



Outro dia estava aqui me lamentando por não poder comprá-lo e acontece isso! UAU!

Olha o recadinho que ele me mandou:

W., agora não falta mais nada então! Esse aqui é o teu presente de páscoa! Como não sou coelhinho mando este em vez de chocolate!
Beijos do amigo gcb!!!


Gcb, como assim não falta mais nada?! Você me acostumou mal e eu quero mais presentes fofos!!!! Brincadeirinha, claro. Obrigado de novo. A-do-rei.

Agora vai ser difícil resistir à tentação de só assistir o DVD inteiro depois da entrega dos trabalhos. Mas eu agüento!!!!

Falando nisso, já me vou. Fiquei tempo demais aqui.

Que marketing péssimo: o meu... Escrever um post desse tamanho provavelmente espanta leitores.

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