domingo, 9 de maio de 2004

Nem literário, nem personagem, nem escritor

Ontem foi um dia em que eu dei a mim mesmo o prazer de fazer uma das coisas de que mais gosto: andar por aí. Isso me lembra um tempo atrás, em que eu estava extremamente solitário. Tinha acabado de voltar a viver no Rio de Janeiro e ia às terças e quintas à noite pra a Especialização da UERJ. No decorrer daquele ano, as coisas começaram a ficar muito complicadas aqui em casa enquanto eu tentava estudar para a prova do Mestrado. Resolvi passar praticamente todos os dias na Universidade para não ter problemas. Foi a época em que mais li até hoje: tornei-me um rato de biblioteca! E os textos com os quais entrava em contato começaram a ter reflexos na vida: percebia as pessoas, a cidade, os momentos de uma maneira diferente. Quase como essas coisas eram percebidas pelas personagens. Ou pelo escritor.

Bom, mas em que tudo o que acabei de falar se relaciona com o passeio de ontem? Sei lá. Talvez tenha me sentido um pouco literário de novo: em um livro que a maioria acha chatérrimo, mas que alguns doidos consideram interessante. Eu quis dar uma de flanêur, acho. Era nele que pensava enquanto andava sem destino pelo centro da cidade.

Só que eu não sou literário. Nem personagem de nada. Imagina escritor!

Minha vida é morna, sem-graça, tediosa. Não estou satisfeito com um monte de coisas. Sinto que algo se perdeu e não entendo como.

Talvez tenha sido só um sábado muito do chato em que passei o dia inteiro diante do computador sem fazer nada de realmente útil. Ou então a consciência de que terei mais um mês apertado pela frente por culpa única e exclusiva dos meus excessos. Pode ser, também, a sensação de que não estou rendendo tudo que eu deveria (e poderia) nos estudos e no trabalho por simples desânimo. Ou posso estar deprimido. Quem é que sabe?

Não estou bem. E foi de repente. Ou não. Essa sensação péssima deve estar sempre aqui esperando a hora certa de aparecer e me deixar assim.

Queria ser especial para alguém. Sentir-me amado: a coisa mais importante do mundo. Só não sei se esse alguém seria um outro ou eu mesmo.

Não sei.

Ao do disco The Green Fields Of Foreverland, do The Gentle Waves.

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