domingo, 13 de junho de 2004

Sobre Cazuza

Estou muito cansado. É que ontem fiquei preparando coisas de trabalho e só acabei por volta de uma da manhã. Daí, para quem acorda às 4h45min todas as segundas, não é de se espantar que eu esteja um bagaço por completo.

Por tal razão, ao terminar o expediente no início da tarde, tive a idéia de assistir ao Cazuza. O problema era arranjar companhia. Ninguém queria ou poderia ir junto comigo. Bom, nunca mais convido quem quer que seja do trabalho... Dêem só uma olhada nas respostas que recebi:

"Cinema em plena segunda?! Você não tem nada pra fazer, não, ô inútil?!"

"Ai, não poderei porque eu vou com o meu namorado e se ele fica sabendo que eu fui antes, vai ser o maior estresse."

Humpf. Sinceramente! Nessas horas é que gosto de estar encalhado. Pelo menos não me imagino em um relacionamento em que eu deixe de fazer coisas legais com os amigos por esse tipo de coisa. Sou geminiano, pô! Preciso de uma certa liberdade! Mas, sei lá, né? Vai entender.

Daí que a carona de sempre me deixou no Via Parque (Que está com uma promoção ótima... Cara, paguei três reais na entrada porque sou estudante!) com a seguinte recomendação:

"Não me conta o final."

Só depois, porque também sou meio lerdo, é que fui me dar conta e pensar:

"COMO ASSIM NÃO CONTAR O FINAL?!"

Sem comentários.

O filme não atendeu aos meus anseios. Pensei que seria melhor... Não é de todo péssimo, mas achei o Cazuza deles caricatural demais... E não deveria ser assim. Ainda mais se levarmos em conta que a obra é inspirada no livro Só as mães são felizes, que mostra bem a fundo a personalidade agridoce do cantor, mesmo sendo muito mal escrito...



Mas valeu pelo saudosismo. Sinceramente, acho que as pessoas não falam o suficiente da música do cara... E é tão boa! Ele cantava bem demais e conseguia passar muita emoção. Eu, pelo menos, choro quase sempre que o ouço cantando Quase um segundo , do Herbert Vianna. Tá, mas aí tem até um certo contexto... Vem de um trecho do livro do Caio que, sempre que leio, também acaba comigo, o Onde andará Dulce Veiga? . Vou citar aqui o trecho que se refere à tal música:

O motorista japonês tentou puxar conversa, mas respondi com um grunhido, ele desistiu depois de comentar que ia cair a maior água. Afastei o banco para trás, estendi as pernas, abri mais o vidro. Ele ligou o rádio, rezei para que não sintonizasse num daqueles programas com descrições hiper-realistas de velhinhas estupradas, vermes dentro de sanduíches, chacinas em orfanatos. De repente a voz rouca de Cazuza começou a cantar. Vai trocar de estação, tive certeza, mas ele não trocou. Isso me fez gostar um pouco dele, tão oriental, talvez budista, e pedi que aumentasse por favor o volume, deitei a cabeça no encosto de plástico pegajoso e por quase um segundo, muito rapidamente, enquanto o carro rastejava pelo trânsito difícil , sobre o asfalto em brasa (...) fechei os olhos, o vento soprava na minha cara, secando o suor, e por quase um segundo, outra vez, como quem de repente suspira ou pisca e segue em frente, veloz feito uma mariposa que cruza subitamente o ar das noites de verão, à procura de luz acesa para girar em torno, como quem apaga ou acende uma dessas luzes para perceber no quarto vazio apenas a vibração do bater de asas que restou no ar, não o inseto que já foi embora, no fundo turvo do pensamento, eu queria ver no escuro do mundo, sem querer nem provocar ou conduzir, por quase um segundo, finalmente, dentro do táxi que descia em direção ao Ibirapuera, lembrei então de Pedro.( ABREU, Caio Fernando. Onde andará Dulce Veiga?: um romance B. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 22.)



Acho isso aí algo muito bem escrito. Os que tiveram paciência de ler concordam comigo? Agora, eu quero ver é se vocês conseguem entender por que razão o trecho se refere à música que inspirou a temática do meu antigo blog:

QUASE UM SEGUNDO
(Herbert Vianna)

Eu queria ver
No escuro do mundo
Onde está o que você quer
Pra me transformar
No que te agrada
No que me faça ver
Quais são as cores
E as coisas
Pra te prender
Eu tive um sonho ruim
E acordei chorando
Por isso eu te liguei
Será que você
Ainda pensa em mim?
Será que você ainda pensa?
Às vezes te odeio
Por quase um segundo
Depois te amo mais
Teus pelos
Teu gosto
Teu rosto
Tudo
Que não me deixa em paz


Essa letra é tudo, não é?

Ah, estou super disposto a escrever, escrever e escrever mais coisas sobre mim e sobre hoje, mas acho que já abusei do direito de fazer posts grandes... Por isso, fico por aqui. Amanhã estou de volta.

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