quarta-feira, 1 de junho de 2005

Fomos traídos

Ok, sempre reclamo exaustivamente do bairro em que moro: distância, provincianismo, falta do que fazer... Mas eu vivo no Rio de Janeiro, logo, por mais que Realengo seja um lugar de difícil acesso, posso fazer umas viagens bacanas, uns destinos legais e longínquos, tais como Botafogo, Ipanema, Santa Tereza...

Além disso, não sou maniqueísta. Enxergo o lado bom daqui: a sensação de segurança e de familiaridade que rola toda vez que solto do busu. Sinto-me em casa... Existem, praticamente desde que me entendo por gente, o trailer do cara gordão, o barbeiro da esquina, os correios, a auto-escola, o homem que vende frutas e verduras na calçada, o doidão que costura os jeans destruídos, as escolas (Estudei em praticamente todas do bairro. Minha mãe era meio pancada), etc. Não conheço essas pessoas por nome, nem elas a mim, mas todos nos reconhecemos e nos cumprimentamos.

É bom, sabe?

Daí que hoje fui almoçar na pensão de comida caseira super bem feita que freqüento há anos em situações de emergência, como quando o povo daqui de casa viaja. Estava começando a dar a primeira garfada e eis que todos param de comer ou de atender aos clientes por causa dos gritos histéricos que vinham da esquina.

Alguém tinha sido assaltado.

E percebi o espanto meu e de todos os presentes. Aqueles mesmos que não conheço pessoalmente, mas que me são familiares pela constância da presença na rotina.

Fomos traídos: um grupo de pivetes entrou num salão de beleza e limpou a carteira de todas as senhoras presentes. Eles vinham do outro lado* e, depois que chegassem lá, ninguém os alcançaria. Realengo não é mais aquele bairro calmo em que, nos domingos, os caras soltam pipa na avenida e as famílias fecham as ruas transversais e abrem as cadeiras de praia pra sentar e conversar tranquilamente sobre a vida sem se preocuparem com tráfico, bala perdida, guerra entre grupos rivais, etc.

Podemos ser assaltados aqui também.

E Deus sabe o que mais pode vir a acontecer daqui a alguns anos.

Sim, quero me mudar daqui por vários motivos, mas fico triste em imaginar que um deles poderia ser a violência.

:-(

* O subúrbio do Rio tem muitos bairros cortados pela linha do trem. Logo, sempre existe um
"outro lado" de Realengo, Campo Grande, Bangu... Em alguns casos, um lado é melhor do que o outro. Dentro da minha perspectiva, aquele em que moro é o melhor. O outro é mais problemático... Favelas, etc.

Nenhum comentário: