sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tenho pensado no meu avô paterno. Desde criança minha mãe falava que ele bebia muito e que batia na minha avó. Mas ele tinha uma certa afeição distinta por todos nós da minha família nuclear. Quando ele morreu eu era muito novo, mesmo assim lembro de ele chorando nos cantos quando íamos embora de São João da Barra no fim das férias. Também lembro de quando ele apareceu de surpresa para passar uns dias conosco quando ainda morávamos em Vila Valqueire. Ele era um velho forte, com uns olhos verdes muito intensos e sisudos. Andava sempre de boné em sua bicicleta, onde havia instalado um aparato que permitia carregar bebês sentados no guidon. Nele, colocava os netos e saía pela cidade, exibindo-os.

Outro dia, meu pai me contou que ele era filho bastardo de um ricaço de Campos. Foi registrado no nome do cara e tudo. A mãe dele era dessa mulheres que tinha quatro filhos, cada um com um homem. Ele recebeu uma herança e, com ela, investiu na casa que até hoje existe.

Ele inventava várias formas de ganhar dinheiro. Teve fábrica de picolé (que depois virou de gelo. eu nunca entendi porque alguém comprava gelo dos outros, mas me explicaram que eram os pescadores...), padaria, negócios que nunca foram para a frente. Ele era mesmo pedreiro. Assim se sustentava de fato.

Todos os filhos homens saíram de casa cedo, pois não aguentavam presenciar as terríveis surras que ele dava na minha avó. Fico impressionado com essas presenças familiares inquestionáveis que havia antigamente. Ele jamais admitiria alguém lhe mostrando que o que ele fazia era errado e perverso. Sempre fico chocado com pessoas que fazem mal às outras sem constrangimento. Nunca entendi.

Vejo fotos dele e o vejo no meu pai. Também vejo muito de sua personalidade nele. Só não sei explicar o que... Que fique claro que ele não bate na minha mãe. Imagina!

Fico tentando imaginar o que tenho dele em mim...

Um comentário:

Anônimo disse...

provavelmente o mesmo olhar doce ao ver os netos irem embora no fim de semana...
Tatiana