– Meu filho, você nem lembra que a gente existe?
– Posso dizer o mesmo, não é, pai?
(Fiquei sozinho em casa no Natal.Todos viajaram. No fundo, até gostei.)
– E como você está aí?
– Bem, tudo certo.
– Fala aqui com sua mãe.
– Beijo, pai.
– Então quer dizer que você está com mais um cachorro,
meu filho?
– Não, tem uma cadela que resgatei da rua e que está aqui até eu encontrar um dono, mãe.
– Não, tem uma cadela que resgatei da rua e que está aqui até eu encontrar um dono, mãe.
– E ela está dormindo lá fora, né?
– Não, dorme dentro, como todos os outros.
– Meu filho... Quatro cachorros em casa. Arrumou mais um!
– Mãe, não estou entendendo. Não te expliquei que é por um tempo até
encontrar um dono para ela? A cadela estava morrendo quase na porta da minha
casa e eu não iria fazer nada?!
– Então você está tendo muitos gastos, né? Muito dinheiro gastando.
– Eu nem estou pensando nisso, mãe.
– Eu vi na Ana Maria Braga o que aquela mulher fez com o cachorrinho.
Um absurdo!
– Você vê todos os dias um monte de cachorros largados na rua e não
fica indignada.
– Eu quero um pastor alemão para proteger aqui a casa. Como ele
poderia proteger se dormisse dentro?
– Cada um é do seu jeito, né, mãe?
– Meu filho, por que tanto cachorro?
– Ai, por que eu gosto mais de bicho do que de gente, mãe!
– Mas isso não tá certo!
– Estou feliz assim.
– Mas, então, o que você vai fazer no reveillón?
– Vou a Niterói. Quero ir, sabe. Uns amigos estão organizando a
festa e a Renata vem lá do Pará. Quero vê-la.
– Eu gostei dessa Renata. Ela e seu irmão namoraram, né?
– Não foi bem um namoro. Ela estava indo embora terra dela, ele tinha
acabado de levar um fora da Tatiana, ficaram uma vez só. Nada sério.
– Mas essa menina é trabalhadora, né?
– É, mãe, ela não conseguiu se firmar como jornalista aqui no Rio e
decidiu voltar pra casa. Os pais têm negócios, está trabalhando com eles e
fazendo Direito.
– Ia ser bom se seu irmão tivesse ficado com ela.
(A esposa do meu irmão estava hospedada na casa de praia dos meus pais
enquanto essa conversa acontecia.)
– Ah, acho que nem passou pela cabeça dos dois isso. Bom, mãe, deixa
eu ir lá. Feliz Natal.
– Feliz Natal, meu filho.
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