domingo, 1 de janeiro de 2012


– Meu filho, você nem lembra que a gente existe?

– Posso dizer o mesmo, não é, pai?

(Fiquei sozinho em casa no Natal.Todos viajaram. No fundo, até gostei.)

– E como você está aí?

– Bem, tudo certo.

– Fala aqui com sua mãe.

– Beijo, pai.

– Então quer dizer que você está com mais um cachorro, meu filho?

– Não, tem uma cadela que resgatei da rua e que está aqui até eu encontrar um dono, mãe.

– E ela está dormindo lá fora, né?

– Não, dorme dentro, como todos os outros.

– Meu filho... Quatro cachorros em casa. Arrumou mais um!

– Mãe, não estou entendendo. Não te expliquei que é por um tempo até encontrar um dono para ela? A cadela estava morrendo quase na porta da minha casa e eu não iria fazer nada?!

– Então você está tendo muitos gastos, né? Muito dinheiro gastando.

– Eu nem estou pensando nisso, mãe.

– Eu vi na Ana Maria Braga o que aquela mulher fez com o cachorrinho. Um absurdo!

– Você vê todos os dias um monte de cachorros largados na rua e não fica indignada.

– Eu quero um pastor alemão para proteger aqui a casa. Como ele poderia proteger se dormisse dentro?

– Cada um é do seu jeito, né, mãe?

– Meu filho, por que tanto cachorro?

– Ai, por que eu gosto mais de bicho do que de gente, mãe!

– Mas isso não tá certo!

– Estou feliz assim.

– Mas, então, o que você vai fazer no reveillón?

– Vou a Niterói. Quero ir, sabe. Uns amigos estão organizando a festa e a Renata vem lá do Pará. Quero vê-la.

– Eu gostei dessa Renata. Ela e seu irmão namoraram, né?

– Não foi bem um namoro. Ela estava indo embora terra dela, ele tinha acabado de levar um fora da Tatiana, ficaram uma vez só. Nada sério.

– Mas essa menina é trabalhadora, né?

– É, mãe, ela não conseguiu se firmar como jornalista aqui no Rio e decidiu voltar pra casa. Os pais têm negócios, está trabalhando com eles e fazendo Direito.

– Ia ser bom se seu irmão tivesse ficado com ela.

(A esposa do meu irmão estava hospedada na casa de praia dos meus pais enquanto essa conversa acontecia.)

– Ah, acho que nem passou pela cabeça dos dois isso. Bom, mãe, deixa eu ir lá. Feliz Natal.

– Feliz Natal, meu filho.

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