quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A primeira vez que encontrei o Paulo não é motivo de orgulho. Era um encontro para realização de atividades sexuais com um desconhecido com quem conversei em um chat da internet. Não é por mim que digo que não foi motivo de orgulho, que reconheço a dificuldade de se encontrar parceiros sexuais e afetivos do mesmo sexo nas situações corriqueiras do cotidiano ainda mais quando não se tem muito dinheiro no bolso (boites, saunas, clubes, praias), mas pelas pessoas em geral, que nunca falam abertamente sobre isso. O próprio Paulo, assim que começamos a conhecer os amigos um do outro, uma vez pediu:

"Não fala que nos conhecemos na internet. Diz que foi correndo no Aterro."

Meio distraído perguntei o porquê daquilo. Após a falta de explicação do meu foco de paixão, entendi a importância daquilo sozinho. Tanto que, quando a Gisela me perguntou onde eu e o Paulo nos conhecemos (fiquei impressionado de aquela ter sido uma das primeiras perguntas dela. Parecia que ele sabia.), respondi do jeito que faço quando estou mentindo: objetivo e curto, sem dar muitas margens para questionamentos sobre detalhes que me fariam entrar em contradição.

"No Aterro."

"Aaaahhh..."

Até hoje me pergunto se a resposta de Gisela significava "Não entendi nada, mas tudo bem: você não quer falar sobre isso", ou "Que bonitinhos. Se conheceram fazendo esportes. Hum, que excitante! (Ela tinha um certo tesão nos amigos casados gays)", ou "Pegação, né?", ou se simplesmente foi "Aaaahhh..." mesmo.

Havia uma verdade nisso. Em vez de eu ir à casa dele ou ele ir à minha logo de cara, Paulo queria um local público. A gente se falava há uns dois dias. Até que ele veio com a ideia do Aterro.

Cheguei lá na hora marcada. Naquela época eu mantinha uma rotina de exercícios de musculação e de natação quase como se fosse algo religioso, por isso, devia estar muito atraente. Fui com roupa de academia. Como ela era uma espécie de Igreja, marquei o encontro para depois da malhação. Ele chegou na hora marcada. De cara, me assustei com as marcas de vitiligo no rosto. Ele tinha uma voz grossa e os movimentos travados. Um jeito estranho no braço longo e meio flácido. Não desenvolvia muito as respostas, meio escorregadio. Eu não refletia muito sobre essas características, apesar de recebê-las.
Queria mesmo era ver se rolava. Eu vivia pensando em sexo. Estava encantado na facilidade de fazê-lo na Zona Sul do Rio. Era como se, depois de ter passado fome, eu tivesse todos os dias um banquete de iguarias à minha disposição todos os dias.

Caminhamos, caminhamos e conversamos, conversamos sobre coisas das quais não me lembro exatamente (estava muito preocupado em dizer a coisa certa do jeito mais atraente para conseguir foder):

Eu: "Moro com amigo e a gente divide tudo, mas somos somente amigos."

Ele: "Moro num quarto e sala com uma atriz, mas ela nunca está em casa e enrola para pagar."

Eu: "Sou professor, ganho mal, mas adoro o que faço."

Ele: "Sou fotógrafo, mas tá foda conseguir trabalho no Rio. Quero muito continuar morando aqui, mas acho que não vai dar."

Eu: "Faz muito tempo que não namoro."

Ele: "Terminei um namoro agora."

Eu: "Vocês ainda são amigos?"

Ele: "Não, mas ele é um cara muito maneiro. Quero manter a amizade. Você é gostoso."

Olhei melhor para ele. Parecia uma criança desamparada cheia de manchinhas. Fiquei excitado.

Eu: "Curti também."

Ele: "Moro aqui perto. A fim de dar uma passada lá. A Chris com certeza não está."

Eu: "Vamos."

(Quem sabe um dia continuo...)

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