Anteontem fui dormir super tarde para reorganizar as coisas depois de um fim de semana refugiado na casa da Fernanda por conta da dedetização. Lavei três máquinas de roupas, ajeitei a cadela que resgatei da rua na área de serviço por conta do cio que surgiu sexta, exato dia em que finalmente tinha conseguido marcar a castração na prefeitura.
Ontem acordei super cedo para voltar à academia, cuidar de todos os bichos e ir trabalhar. Passei o dia na escola, fui fazer a prova da PUC, cheguei umas 22h30min.
Qual não foi a minha surpresa ao ver que a obra do prédio atrás da casinha mexeu no muro. Sujou a roupa inteira de poeira, desprendeu trechos da cerca-faca colocada para proteger a propriedade de invasões. A visão do artefato ameaçador de metal pendendo a meio metro do chão foi desesperadora: e se tivesse caído e a cadela se machucado?
Os amigos não podem ficar com ela. Não posso criticá-los, pois estão certos: quem inventou de catar da rua fui eu, logo cabe a mim lidar com toda a confusão.
Hoje falei com os responsáveis pela construção do prédio. Resolveram o perigo.
Mas estou cansado, sabe? Vou chegar tarde e vai ter um monte de coisas para se fazer em casa. Tenho dormido pouco.
Estou triste. A sensação é a de que fazer o bem não vale a pena. Minha vida não estaria tão complicada se eu não tivesse recolhido a Dulce. Estaria dormindo bem, com mais dinheiro e tranquilidade.
E ela estaria morta.
Essa conclusão me enoja.
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