segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ano passado uma psicóloga foi ao meu trabalho dar uma palestra sobre família. Basicamente, ela dizia que não são só nossos genes que são eternizados no processo de reprodução. Na verdade, carregamos os hábitos, o jeito de lidar com as coisas, a maneira de amar... Uma fala dela me marcou profundamente, algo assim:

"Você pode fugir, parar de falar, dizer que seus pais morreram. Eles sempre vão estar vivos em você. Não há fuga. Não há escapatória da família."

A maioria dos meus colegas do trabalho é bem tacanha. Não gostaram muito disso. Acho que na hora entendi, não sei se porque faço análise e tal.

Ontem fui ao dia das mães com muitas apreensões. Liguei para avisar que estava saindo e, é claro, para sondar o terreno: ela sempre dá mostras de como está seu humor ao telefone.

"Oi, meu filho! Estou te esperando!"

Dava para sentir o sorriso ao telefone. Bom sinal.

Chegando lá, encontrei minha irmã. Ela mais uma vez fez alguma coisa horrível no cabelo e agora, também, nas sobrancelhas. Fiquei olhando para ela observando como somos diferentes. Como eu tento ser diferente. Ela e a filha se parecem no jeito. São meio dengosas, fazem uns carinhos inesperados e desconfortáveis. Eu fico tentando ser polido, ficar livre de preconceitos e de aversão. De certa forma, acho que o que me incomoda é que posso ser como elas de alguma forma.

Em algum momento, meu pai me disse inesperadamente:

"Não comenta com elas que eu e sua mãe fomos ao show do Roxette ontem."

Fiquei surpreso e perguntei o porquê daquilo. Não obtive resposta.

Enquanto víamos fotos antigas que a tia Conceição guardava a sete chaves, mamãe comentou que minha tia devia estar chorando a essas horas porque o meu primo Vinícius não quer mais saber dela.

"Ela liga para isso, sabe? Em vez de deixar para lá!"

Fiquei mais uma vez surpreso e pensando se ela estava dizendo isso para nós ou para si mesma.

Enquanto minha irmã se arrumava para ir embora para Macaé e a minha sobrinha fazia mais uma cena de chantagem, mamãe virou rapidamente para mim em tom de sussurro e disse:

"Sua irmã se envolveu mais uma vez com aquele vagabundo que quase a matou de novo. A sua sobrinha cortou os pulsos durante o carnaval. A gente fica aqui socorrendo."

Não sei o que me surpreendeu mais. Os fatos contados ou o jeito meio estranho como eles foram ditos.

Fico pensando no ela fala de mim para os outros membros da família:

"Ele é muito isolado. Só quer saber de cachorro. Nem liga para a gente."

Às vezes eu queria poder contradizer a psicóloga e, sei lá, fugir, ir para outro estado ou país, mudar de nome, adotar uma criança e começar uma história nova, tentando acertar, sair dessa loucura que nem consigo entender direito.

Mas não dá, né?

Nenhum comentário: